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De olho em 2024, partidos seguem na disputa pela filiação de prefeitos no interior do Ceará

A movimentação deve se intensificar nos próximos meses, com dirigentes partidários em intensas conversas com gestores municipais

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Eleições 2024
Legenda: Apesar de faltar mais de um ano para as eleições, partidos seguem na disputa por filiar prefeitos no Ceará
Foto: TSE

Mais de um ano antes das eleições municipais, as articulações dos partidos em busca de filiar prefeitos seguem a todo vapor. Uma das mais recentes mudanças anunciadas foi a de Professor Marcelão, prefeito de São Gonçalo do Amarante. Eleito, em 2020, pelo Pros - na época sob o comando de Capitão Wagner (União) -, Marcelão era um dos gestores que vinha se aproximando do Governo Elmano de Freitas (PT). Isso irá se consolidar com a filiação dele ao PT, sigla pela qual deve concorrer à reeleição

Assim como o PT, outros partidos da base governista têm liderado as articulações para atrair prefeitos, na busca por se fortalecer para a disputa eleitoral em 2024. 

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Sob o comando do ex-suplente de senador e empresário, Chiquinho Feitosa, o Republicanos têm sido uma das siglas que mais tem se movimentado em busca dos prefeitos. Outro partido que mudou de comando foi o Podemos, que está sob a presidência do prefeito de Aracati, Bismarck Maia, e também deve atrair gestores municipais para a disputa do próximo ano

Por outro lado, em meio a uma crise interna, o PDT pode acabar vendo o desembarque de prefeitos antes da disputa municipal. A hipótese é admitida pelo próprio presidente do diretório estadual, André Figueiredo (PDT), que tem o comando partidário questionado pelo senador Cid Gomes (PDT) - um impasse que pode levar a uma “debandada” do partido, com impactos diretos sobre 2024

Quem também passa por momento complicado são os partidos de oposição. Partido do ex-presidente Jair Bolsonaro desde 2022, o PL viu o número de prefeituras sob seu comando diminuir desde a última eleição municipal. Enquanto em 2020 o partido elegeu 13 prefeitos, atualmente apenas 7 gestores municipais permanecem no partido. 

Os prefeitos ligados ao grupo político do ex-deputado Capitão Wagner - que, em 2020, estava no Pros e agora preside o União Brasil no Ceará - também diminuíram. Na última eleição municipal, três nomes ligados a este grupo conquistaram prefeituras: além de Professor Marcelão, Vitor Valim, na Caucaia; e Glêdson Bezerra, em Juazeiro do Norte. 

Os três se afastaram da oposição e estão agora mais alinhados ao Governo Elmano de Freitas, com exceção de Glêdson Bezerra, que vem declarando que está em posição 'independente' no Estado

Fortalecimento da sigla governista

Presidente do PT Ceará, Antônio Conin fala da expectativa de fortalecer o partido e torná-lo "um dos protagonistas" da eleição de 2024 no Ceará. "Como partido do governador, do presidente (Lula) e do ministro (da Educação, Camilo Santana), tem que ser um dos protagonistas, senão o maior", disse. 

Até agora, em 2023, o partido filiou três prefeitos: Flávio Teixeira Filho, eleito pelo PTB e atual chefe do Executivo de Amontada; Tiago Ribeiro, ex-Cidadania e prefeito de Cascavel; e Cícero Figueiredo, que deixou o PDT e comanda a Prefeitura de Milagres.

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Segundo Conin, a expectativa é de filiar mais 14 prefeitos, incluindo Professor Marcelão - que já disse que está esperando apenas a finalização de documentação para se filiar à sigla petista. "Dialogamos a possibilidade de nós estarmos indo para o PT. A gente está aguardando só a documentação, questão burocrática, para a gente se filiar", disse o prefeito. 

Sobre as demais filiações, Conin preferiu não adiantar nomes e diz que ainda se avalia se serão feitas filiações separadas ou um grande evento para filiar todos os gestores - a exemplo do que o PT realizou pouco antes das eleições de 2022. 

"Esse esforço não é contra ninguém. Existe um esforço de outros partidos, principalmente da base (para filiar novos prefeitos). Tem espaço para todo mundo se fortalecer. Mas não queremos fortalecer o PT em detrimento de ninguém".
Antônio Conin
Presidente do PT Ceará

A expectativa para 2024 é eleger, pelo menos, 50 prefeitos petistas no Ceará, conforme projeções do próprio partido. Atualmente, 32 prefeitos cearenses são do PT - número que deve aumentar ainda em 2023, com as novas filiações. 

Crise deve impactar eleições

Durante o encontro regional do PDT, na última sexta-feira (23), o deputado federal André Figueiredo falou sobre o "momento difícil" pelo qual a sigla passa no Ceará, o que deve repercutir diretamente nas perspectivas do partido para as eleições de 2024. Hoje, a sigla é a que possui maior número de prefeituras, com mais de 60, mas vem perdendo gestores desde a campanha eleitoral de 2022. 

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A sigla está, atualmente, dividida entre a ala liderada por Figueiredo, o ex-ministro Ciro Gomes e o ex-prefeito Roberto Cláudio - que defendem uma posição oposicionista em relação ao Governo Elmano -, enquanto a outra, liderada pelo senador Cid Gomes e pelo presidente da Assembleia Legislativa, Evandro Leitão, é mais próxima ao governador e ao ministro Camilo Santana. 

A crise interna vivida pelo partido piorou na última semana, após entrevista de Ciro Gomes (PDT) na Live PontoPoder e o encontro regional do PDT, dominado por ciristas e sem presença dos pedetistas ligados a Cid. E, exatamente por conta do crescimento nessa tensão interna, Figueiredo evita fazer qualquer projeção para a eleição do ano que vem. 

"A gente vai precisar saber quais são os desdobramentos desse momento atual que infelizmente  agudizou e nós temos aí que saber lidar com as diferenças e enfrentá-las. (...) E eventualmente podemos sofrer grandes perdas, lamentáveis perdas de pessoas que eu quero muito bem, mas isso faz parte do jogo político".
André Figueiredo
Deputado federal e presidente do PDT Ceará

Ele garante ainda que irá "lutar até o fim para que uma eventual ruptura não cause debandadas", inclusive dos gestores municipais. "Caso essa debandada eventualmente ocorra, o PDT sempre sobreviveu sendo pequeno. Nós não temos problema nenhum de sermos pequenos em quantidade, mas grande em qualidade", completa. 

Siglas governistas

Após assumir o Republicanos no Ceará em maio, Chiquinho Feitosa tem sido um dos atores políticos que mais tem se movimentado em busca de fortalecer o partido - que passou a integrar o governismo no Estado. 

Desde que assumiu a presidência, em maio, foram cinco filiações de prefeitos: Júnior do Titico, de Ipueiras; Orlando Filho, de Mombaça; Telvânia Braz, de Paramoti; Dra. Lígia Protásio, prefeita interina de Santa Quitéria; e Rozário Ximenes, de Canindé.

Apenas na última semana, ele esteve reunido com, pelo menos, dois prefeitos: o prefeito interino de Pacatuba, Rafael Marques; e o de Iracema, Celso Gomes. Nos dois casos, não foi anunciada de forma oficial a filiação, embora as conversas indiquem  articulação com vistas à disputa do ano que vem. Além disso, em mais um gesto de aproximação entre o prefeito Roberto Pessoa (União) e o governador Elmano de Freitas (PT), Feitosa anunciou a filiação do vice-prefeito de Maracanaú, Neton Lacerda. 

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Outra sigla que, recentemente, voltou à base governista foi o Podemos, após o comando da sigla no Ceará passar ao prefeito de Aracati, Bismarck Maia, que saiu do PDT. Por enquanto, no entanto, o partido não anunciou novas filiações. 

O Diário do Nordeste tentou entrar em contato tanto com Chiquinho Feitosa como com Bismarck Maia para saber como estão as articulações para atrair filiações de prefeitos, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. 

Oposição se movimenta

Para 2024, a oposição ao Governo do Ceará inicia enfraquecida, em relação aos prefeitos eleitos em 2020. Além de Professor Marcelão, o prefeito de Caucaia, Vitor Valim (sem partido) , é outro gestor eleito apoiado por oposicionistas do grupo ligado a Capitão Wagner (União), mas que está mais próximo ao governismo - inclusive, recebendo convites de partidos governistas, como o PT, para a disputa pela reeleição. 

Outro nome que se distanciou foi o prefeito de Juazeiro do Norte, Glêdson Bezerra (Podemos), que, apesar de afirmar que irá concorrer a reeleição, disse estar "aberto a todo mundo para conversar" antes de definir se ficará mais alinhado ao governo ou à oposição. Atualmente, o União Brasil - comandado por Capitão Wagner - possui apenas um prefeito, o de Maracanaú, Roberto Pessoa. 

Contudo, mesmo Pessoa tem feito movimentos de aproximação com o governismo no Ceará. Além do vice Neton Lacerda ter se filiado ao Republicanos de Chiquinho Feitosa, o chefe de gabinete de Roberto Pessoa, Rodrigo Mota, se filiou ao PT em Maracanaú.  

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Capitão Wagner vê como "natural" a aproximação de prefeitos, mesmo aqueles eleitos pela oposição, do Governo do Estado. "Infelizmente por conta da pobreza e da necessidade que os municípios têm de ajuda do Estado, a maioria dos prefeitos acaba se rendendo ao Governo do Estado. A gente sabe como é que funciona a política do Ceará, se um prefeito não for aliado, ele pena, ele sofre muito", argumenta.

Ele explica que o foco são pré-candidaturas em municípios importantes do Estado - como Fortaleza, Caucaia, Maracanaú, Juazeiro do Norte, Maranguape e Pacatuba - e que tenham "chances de vitória" e, por conta disso, Wagner projeta que o União Brasil "cresça em relação a prefeitos no pós-eleição". 

"Infelizmente a tendência dos prefeitos quando se aproximam da sua eleição é se renderem ao governo do estado para viabilizar a sua reeleição e para ter condição de receber alguma ajuda". 
Capitão Wagner
Presidente estadual do União Brasil

Presidente do PL Ceará, Acilon Gonçalves apresenta argumento semelhante para justificar a diminuição do número de prefeitos ligados à oposição. "É muito mais importante para o partido formar quadros em condição de disputa de prefeitura do que filiar prefeitos, visto que há um “guarda-chuva governamental” muito atraente para alguns prefeitos", afirma.

Com sete prefeitos cearenses filiados ao PL atualmente, inclusive ele, que comanda a Prefeitura de Eusébio, Acilon considera que a expectativa para 2024 é de que o partido consiga "chegar", com a estrutura partidária, "a 120 ou 130 cidades". Neste caso, a intenção é fortalecer tanto quadros para disputar o legislativo como o Executivo. 

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