STF tem 3 votos para condenar Carla Zambelli por porte ilegal de arma; defesa reclama de julgamento

Relator do caso, Gilmar Mendes deu o primeiro voto e sugeriu uma pena de 5 anos e 3 meses em regime semiaberto

(Atualizado às 20:07)
Carla Zambelli é acusada no STF pelos crimes de porte ilegal de arma de fogo e uso ostensivo de armamento, ela está em julgamento
Legenda: Carla Zambelli é acusada dos crimes de porte ilegal de arma de fogo e uso ostensivo de armamento
Foto: Divulgação/Câmara dos Deputados

O ministro Gilmar Mendes, decano do Supremo Tribunal Federal (STF), votou pela condenação da deputada Carla Zambelli (PL-SP), nesta sexta-feira (21), por porte ilegal de arma e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. A parlamentar responde ao processo por perseguir um homem com uma pistola na véspera do segundo turno das eleições de 2022.

Como relator, Gilmar Mendes deu o primeiro voto e sugeriu uma pena de 5 anos e 3 meses em regime semiaberto. A votação fica aberta em plenário virtual até 28 de março. O ministro defendeu que o STF decrete a perda do mandato da deputada como consequência da condenação criminal. O voto já foi acompanhado por Cármen Lúcia e Alexandre de Moraes.

"O porte de arma de fogo para defesa pessoal não se presta a autorizar que a portadora persiga outras pessoas em via pública com sua arma de fogo, ainda que supostos criminosos, em situações nas quais sua integridade física ou a de terceiros não está em risco", defendeu Gilmar.

O ministro ainda argumentou que, mesmo que a deputada tenha sido ofendida, ela não poderia "constranger" Luan com a arma. "A legislação penal prevê mecanismos específicos para lidar com crimes contra a honra e ameaças e não legitima qualquer forma de retaliação armada."

Veja também

A denúncia contra a deputada foi recebida pelo STF em agosto. Apenas André Mendonça e Kassio Nunes Marques, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) ao STF, foram contra o recebimento da denúncia.

Nessa modalidade, os ministros registram os votos em uma plataforma online, sem debate em tempo real. Se o posicionamento for confirmado pela maioria do plenário, Carla Zambelli perde o mandato, mas apenas depois que todos os recursos forem esgotados.

MUDANÇA NA JURISPRUDÊNCIA

Gilmar Mendes citou como precedente a decisão que cassou o mandato do deputado Daniel Silveira (PTB-RJ). O julgamento marcou uma mudança na jurisprudência do tribunal.

Antes da condenação de Daniel Silveira, o STF considerava que a perda do mandato de parlamentares federais condenados criminalmente dependia de aprovação da maioria absoluta dos membros da Casa Legislativa. 

No julgamento de Daniel Silveira, a Corte decidiu que a condenação criminal resulta na perda do mandato parlamentar, independente da pena aplicada, do regime de cumprimento de sentença ou de posterior decisão da Câmara ou do Senado.

"Portanto, em atenção à jurisprudência desta Corte, decreto a perda do mandato parlamentar da Deputada Federal Carla Zambelli como efeito da condenação criminal", escreveu o ministro.

DEFESA

Imagem da deputada Carla Zambelli apontando arma de fogo para homem em São Paulo para ilustrar matéria sobre seu julgamento no STF
Legenda: Deputada Carla Zambelli será julgada pelo STF por porte ilegal de arma
Foto: Reprodução

A defesa de Carla Zambelli tentou tirar o processo do STF, alegando que o caso não tem relação com o exercício do mandato e, por isso, deveria ser analisado na primeira instância. A estratégia não prosperou.

Na última semana, o criminalista Daniel Bialski, advogado da deputada, procurou os ministros para apresentar pessoalmente os argumentos da defesa. Carla Zambelli alega que agiu após provocações e que achava que estava exercendo um direito, já que ela tinha autorização para portar arma - a licença foi suspensa após o episódio.

“Infelizmente, apesar da defesa da deputada federal Carla Zambelli (PL-SP) ter reivindicado seu legítimo direito de efetivar defesa oral, o pleito sequer foi analisado pelo ilustre relator do processo no STF. Essa seria a melhor oportunidade de evidenciar que as premissas colocadas no voto proferido estão equivocadas”, declarou Bialski.

A defesa alega, ainda, que o direito do advogado não pode ser substituído por vídeo enviado, pois não há certeza de que os ministros visualizaram o conteúdo. “Mas, apesar desse cerceamento da defesa, foram ainda enviados e despachados memoriais com os ministros para motivá-los a ter vistas e examinar minuciosamente os autos."

Veja também

RELEMBRE O CASO

A deputada Carla Zambelli perseguiu o jornalista Luan Araújo no bairro Jardins, em São Paulo, na véspera do segundo turno das eleições de 2022. À época, após ouvir as frases "Amanhã é Lula" e "Vocês vão voltar para o bueiro de onde não deveriam ter saído", ela sacou a arma e, acompanhada de seus seguranças, correu atrás do homem até um restaurante da região. 

A denúncia contra a parlamentar foi recebida pelo STF em agosto. Os ministros entenderam que havia evidências suficientes para abrir uma ação penal por suspeita de porte ilegal de arma de fogo e constrangimento ilegal com emprego de arma de fogo. Na ocasião, apenas André Mendonça e Kassio Nunes Marques, indicados pelo ex-presidente Jair Bolsonaro ao STF, foram contra o recebimento da denúncia.

Ao denunciar a deputada, a Procuradoria-Geral da República (PGR) argumentou que, apesar do porte de arma para uso pessoal, ela não tinha autorização para o "manejo ostensivo" do armamento em espaços públicos. Na avaliação do órgão, a conduta da deputada colocou em risco a coletividade. Além disso, a denúncia considerou que o jornalista não oferecia "perigo ou ameaça real" que justificassem o uso da arma.

>> Participe do canal do PontoPoder no Whatsapp para saber tudo sobre a política do Ceará e do Brasil

Assuntos Relacionados