Segurança, saúde e costumes: como a oposição a Elmano vai enfrentar o novo governo
Parlamentares eleitos pela oposição preparam as pautas para a nova legislatura
A oposição ao governador Elmano de Freitas (PT) já organiza o discurso e prepara o arsenal de pautas que serão escaladas logo no início de 2023. O objetivo é imprimir um ritmo de pressão ao novo governo. Se o grupo conseguirá, é outra história.
O fato é que os temas que serão levados ao púlpito da Assembleia Legislativa, abordados nas comissões e cobrados na Mesa Diretora da Casa estão muito claros do ponto de vista dos parlamentares da oposição eleitos em outubro do ano passado.
Não há novidade quanto às abordagens, porém o que pode surpreender o cenário político é a capacidade de união do grupo – já que alguns nomes eleitos na oposição não garantem cumprir o papel de uma oposição tradicional.
Em pequena quantidade, os opositores prometem fazer barulho. Com nomes ligados ao ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), os parlamentares indicam um combate ferrenho ao governador petista.
À coluna, parlamentares eleitos pela oposição contaram qual será o foco para a próxima legislatura e como devem tratar o governador Elmano de Freitas.
Segurança
Principal pauta da oposição ligada a Capitão Wagner (União) – que ficou em segundo lugar na disputa pelo Governo do Estado no ano passado – a segurança pública deve ser o carro forte na agenda de deputados estaduais contrários à gestão do PT.
Deputado estadual mais votado em outubro, Carmelo Neto (PL) adianta que o assunto vai ser uma das prioridades do seu mandato.
"Sendo um dos problemas mais graves na atual situação do estado do Ceará, como parlamentar lutarei para garantir que os funcionários da segurança pública tenham as melhores condições de trabalho possíveis para o exercício de suas funções, cobrando do Governo do Estado os investimentos necessários para a manutenção dos equipamentos, quartéis, delegacias e veículos de uso da Polícia Militar e da Polícia Civil do Estado do Ceará", disse.
Ainda de acordo com o parlamentar, "a expansão do Raio para 100% dos municípios (proposta do Elmano) é interessante no combate à violência, mas não é a única medida que precisa ser adotada. O efetivo de policiais precisa crescer e a qualidade dos equipamentos, também".
A segurança pública também é um dos principais alvos do deputado estadual eleito Sargento Reginauro (União).
"Nós temos um problema grave histórico que ele (Elmano) herdou do próprio governador que o apoiou. Temos um problema muito mais grave, sistêmico que é a questão da segurança pública, e que precisa ser de fato encarada de frente", diz o parlamentar.
O tema das facções criminosas seguirá vivo nos discursos da oposição na Assembleia se depender do parlamentar do União Brasil.
"Nós temos um estado que tem se tornado refém das facções criminosas e é possível que o estado ocupe seu lugar, né? E tome de volta para si o que é a sua atribuição porque é garantia de segurança pública da população que hoje não tem. Principalmente na grande periferia e até mesmo no Interior do Estado onde pessoas têm sido expulsas de casa, pessoas têm perdido seu patrimônio para facções criminosas como se não houvesse de fato estado democrático de direito", critica.
O tema é um dos pontos sensíveis por parte do governo, já que os índices de criminalidade foram bastante explorados na campanha eleitoral e o assunto está na rotina da sociedade cearense. Há cobranças por um plano exitoso que alie educação, emprego e segurança.
Costumes
Reeleita para mais um mandato na AL-CE, a deputada estadual Silvana Oliveira (PL) vai pautar com mais ênfase os princípios cristãos no seu mandato. Ela diz estar "preocupada" com os rumos que o governo está tomando logo no seu início.
"Minha pauta será ainda mais forte na questão dos princípios que a igreja defende. Teremos um risco maior devido ao alinhamento do governo federal com o estadual. Eu me preocupo e muito. Estamos vendo a melhor forma de fazer uma blindagem dos valores que consideramos caros para os cristãos", pontua.
De acordo com a parlamentar, que já foi aliada do governo Camilo Santana, o "início do governo Elmano com o Lula já estão deixando marcas muito preocupantes pra os cristãos – exemplo disso foi a pauta do aborto". "Isso nos deixou chocados. O modelo que está sendo desenhado agride muito frontalmente", critica.
Saúde
Firmo Camurça (União), eleito para o primeiro mandato, declarou que o mutirão de cirurgias eletivas vai ser uma das principais prioridades nessa legislatura.
O deputado eleito, no entanto, não se coloca como oposição. Ele adianta que vai "dar um crédito" ao governo e tentar ajudar como for possível, inclusive por medidas já anunciadas pelo governador beneficiar diretamente o município de Maracanaú, como o passe livre intermunicipal.
Estreante em mandatos eletivos, Felipe Mota (União) aponta a saúde como uma das bandeiras que serão reforçadas por ele enquanto deputado de oposição.
Mota pontuou a necessidade da construção do Hospital no Maciço de Baturité, o fim da fila das cirurgias eletivas e a criação de um centro de oncologia no Estado.
O parlamentar, no entanto, adianta que vai fazer uma oposição equilibrada. "Não é porque eu sou de oposição que vou querer deixar o governo desconfortável", pontua.
Já para Carmelo Neto, a saúde vai ser pauta de forma enfática. "Vamos cobrar respostas para a situação precária dos equipamentos públicos de saúde espalhados pelo interior que não estão exercendo a função para os quais foram criados. É hora de trabalhar para pôr um fim no abandono da saúde no Ceará e finalmente oferecer um serviço de qualidade para a população que tanto paga imposto. Estou certo de que minhas fiscalizações podem contribuir nesse sentido", diz.
O assunto saúde é outra pauta crônica na gestão estadual. O então candidato Elmano de Freitas recebeu críticas principalmente do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT) na campanha eleitoral. O pedetista buscou atacar a candidatura do governo apontando a existência de uma grande fila de cirurgias eletivas no Estado.
Educação
Carmelo também elege a educação como foco central das discussões pela oposição na AL-CE, muito embora seja um assunto mais confortável para o governo que exibe ao longo dos últimos anos bons resultados principalmente na educação básica a partir de parcerias com as prefeituras.
"Vamos cobrar e acompanhar de perto a expansão do ensino em tempo integral no Estado, com atenção especial às escolas de tempo integral que estejam com obras atrasadas ou prejudicadas pela gestão do PT. Vamos trabalhar exigindo agilidade e qualidade nas novas escolas, além de denunciar as condições precárias de outras já existentes".
Tributação
Felipe Mota (União) afirma que vai pautar ações que ajudem a economia local em áreas como agricultura, agronegócio e agropecuária. A cobrança será por equipamentos, tecnologia, capacitação do pequeno e médio agricultor. "Isso é uma cadeia produtiva", reforça.
Carmelo Neto elenca ainda ações tributárias que gere melhorias na economia cearense e não prejudique os contribuintes.
"Estou comprometido a trabalhar contra os aumentos de impostos no estado do Ceará, votando e discursando contra as proposições de Elmano que surgirem nesse sentido. Também estamos prontos para contestar as taxas abusivas cobradas pelo Governo do Ceará para serviços prestados por órgãos como o Detran, que oneram o contribuinte de forma excessiva e desnecessária".
Oposição?
Dificilmente o governador terá dificuldades na Assembleia Legislativa. Primeiro porque deverá ajudar a reeleger o amigo Evandro Leitão (PDT). Segundo porque Elmano tem uma excelente articulação e diálogo com colegas naquela Casa.
As dificuldades com o PDT deverão ser pontuais, provavelmente com nomes mais ligados a Roberto Cláudio e Ciro Gomes. O PSD dificilmente fará oposição ao governo. Não é do perfil do partido criar resistências com o Executivo.
O sinal de alerta para a oposição fica por conta do União Brasil. Nomes do partido liderado pelo deputado federal Capitão Wagner estão dispostos a serem afagados pelo governo, a ponto de correrem o "risco" de ocuparem fileiras da base – como é o caso do ex-prefeito de Maracanaú.
Não foram todos os deputados eleitos pela oposição que falaram com a coluna. Alguns não foram localizados.