Sessão na Câmara de Guaramiranga (CE) termina em confusão durante votação para criação de órgão ambiental

Opositores ao projeto acusam gestão de abrir brechas que facilitam degradação ambiental na cidade

Escrito por
Bruno Leite bruno.leite@svm.com.br
Câmara de Guaramiranga
Legenda: Polícia Militar foi acionada para garantir a segurança do vice-prefeito e de vereador que apoiou a matéria do governo
Foto: Reprodução / Facebook

A sessão ordinária da Câmara Municipal de Guaramiranga desta quinta-feira (20) foi marcada por um conflito entre vereadores e populares que foram até a sede do Legislativo para protestar contra a votação de um projeto de lei, de autoria do Executivo, para a criação da Autarquia Municipal do Meio Ambiente. 

A proposta assinada pela prefeita Ynara Mota (Republicanos), segundo os opositores, facilitaria a degradação ambiental na cidade. E, apesar dos protestos de parlamentares e da população, a matéria foi aprovada por um placar de 5 votos favoráveis e 4 contrários.

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Antes de dar início para a ordem do dia, o presidente da Casa Legislativa, Jerry Souza (Republicanos), frisou que o projeto de lei tramitava desde janeiro e que a redação votada era fruto de rodadas de debates que contaram com a presença de representantes da Secretaria do Meio Ambiente e Mudança do Clima (Sema), da Superintendência Estadual do Meio Ambiente (Semace) e do Ministério Público do Estado do Ceará (MPCE).

Segundo o chefe do Poder Legislativo do Município, as emendas apresentadas pelos legisladores foram acolhidas e as melhorias sugeridas durante as reuniões foram incluídas no texto. “Nós sentamos para conversar e montamos através de diálogos, emendas e conversas”, destacou Jerry Souza durante sua fala.

As explicações favoráveis não foram bem recebidas por quem estava acompanhando no Plenário Vereador Fernando Gomes da Silva, e o presidente da Câmara Municipal foi vaiado por alguns dos presentes, que carregavam cartazes com mensagens. Ele chegou a ser chamado de “mentiroso” pelos manifestantes.

O vereador Israel Máximo (PSD), contrário ao projeto, alegou estar “ao lado do verde de Guaramiranga”. De acordo com ele, a criação do órgão, em regime de urgência, não permitiu que a ideia fosse discutida de maneira ampla. “Isso não está sendo feito de forma clara. Acredito que a população está indignada, e com razão, porque está querendo questionar o projeto”, ponderou.

Espectadores que eram favoráveis ao projeto também se manifestaram, com gritos de “autarquia já” e aplausos após falas de apoio do presidente Jerry Souza. Conforme defendeu ele, o órgão municipal iria restringir o desmatamento e regular a ocupação de áreas no município localizado na região do Maciço de Baturité.

Após mais de 20 minutos do início da sessão, o presidente da Câmara e o vice-presidente, Régis Ruivo (PDT), protagonizaram uma discussão, porque o pedetista tentou ceder seu tempo de fala ao vereador Israel. “Não tumultue”, advertiu Jerry, se dirigindo ao colega. “Você é muito autoritário, presidente”, rebateu Régis. Em seguida, acordaram pela cessão da fala, após outros vereadores darem suas contribuições.

Em seguida, Romario Barozo (PDT) sugeriu que os protestos a favor do projeto não estavam sendo feitos pelos moradores de Guaramiranga, mas da vizinha Baturité, cidade comandada pelo prefeito Hérberlh Mota (Republicanos), marido da prefeita do município. “Aqui é o povo de Guaramiranga, [mas] aqui eu não conheço”, distinguiu o vereador, apontando para pontos diferentes da plateia.

A acusação de que pessoas de outro município estavam pressionando a votação foi reforçada por Christian Bezerra (PDT). Ao tomar o microfone, o parlamentar afirmou: “quem manda aqui é o povo de Guaramiranga”. Segundo ele, que foi interrompido por gritos de pessoas que estavam nas galerias apoiando o projeto, uma das audiências públicas para debater a proposta da autarquia não foi realizada.

Régis, ao falar, retomou a confusão, afirmando que, quando tentou passar seu tempo para o colega de legislatura, foi xingado pelo chefe de Gabinete da Prefeitura, Francisco Ilton. “Me chamou de vagabundo? Vagabundo? O que é isso? O senhor já foi prefeito do município. Dê exemplo, Dr. Ilton, nunca faltei respeito com o senhor”, pontuou.

Depois de mais uma fala do vereador Israel Máximo, que pediu a realização de mais audiências públicas, e do vereador Ronaldinho (PDT), defensor da instituição do órgão proposto pela prefeita Ynara Mota, o projeto de lei foi colocado em votação. A apreciação aconteceu em clima de acirramento, com populares invadindo o plenário e gritos entre os presentes.

Como votou cada vereador:

  • Christian Bezerra (PDT) — não
  • Israel Máximo (PSD) — não
  • Jerry Souza (Republicanos) — sim
  • Francisco Killsem (Pode) — sim
  • Nivea Rocha (Pode) — sim
  • Regis Ruivo (PDT) — não
  • Romario Barozo (PDT) — não
  • Ronaldinho (PDT) — sim
  • Silvania Chagas (Republicanos) — sim

Imagens enviadas por leitores mostram que a Polícia Militar do Estado do Ceará (PMCE) foi acionada para escoltar a saída do vice-prefeito Airton Pereira (Republicanos) e do vereador Ronaldinho da sede do Legislativo. Apesar disso, os dois foram hostilizados. 

Num outro vídeo, gravado após a conclusão da votação, também é possível ver que o prefeito de Baturité, Hérberlh Mota, estava no local no momento em que um tumulto se instalou.

Diário do Nordeste não conseguiu ter acesso ao projeto de lei e às emendas apresentadas pelos parlamentares, uma vez que os conteúdos não foram disponibilizados no portal ou nos demais canais oficiais da Câmara Municipal de Guaramiranga.

A reportagem buscou a administração municipal e o gestor do município vizinho, a fim de obter respostas acerca das acusações dos vereadores. Entretanto, não houve devolutiva até a publicação desta matéria. O conteúdo será atualizado caso haja alguma manifestação.

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