Mascarado de 'A Viagem', ator Breno Moroni é filho de cearense e viveu em Fortaleza
Ator revelou que novela não deixou ele rico e que maquiagem para fazer queimadura durava quatro horas
O nome do ator Breno Moroni Girão Barroso, 71, voltou a ser assunto nas buscas do Google com a reapresentação da novela "A Viagem" (1994) da TV Globo, em "Vale a Pena Ver de Novo". Em entrevista exclusiva ao Diário do Nordeste, o intérprete do enigmático Adonai — conhecido por ser "O Mascarado" — falou sobre a família cearense, o tempo que residiu em Fortaleza e também revelou informações de bastidores da produção.
Breno Moroni é filho do médico cearense Benigno Girão Barroso de Lavras da Mangabeira — cidade distante 415 km da capital cearense. O pai dele viveu parte da vida no Ceará, mas a família acabou se mudando para o Rio de Janeiro em busca de melhores condições de vida.
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Benigno atuou por toda a vida como médico. Já a esposa, a mãe de Breno, era da região Sul do país e trabalhava como enfermeira ao lado do marido.
Breno contou que a família paterna é bastante conhecida no Ceará, pelo sobrenome, Girão Barroso. Desde os cinco anos, ele visita a capital cearense para reencontrar os primos. Anualmente, eles fazem grandes festas em datas comemorativas.
Em entrevista, o ator contou que já morou por um ano em Fortaleza, quando foi convidado pela prefeitura para ajudar na criação de uma escola de circo: “O projeto ficou no papel, infelizmente. Mas é um belo projeto”.
Breno Moroni é ainda irmão da guerrilheira cearense Jana Moroni Barroso. O nome dela consta na lista da Comissão Nacional da Verdade (CNV) como vítima de desaparecimento forçado na região do Araguaia em 1974. Nascida em Fortaleza em 10 de junho de 1948, ela se mudou para Petrópolis com a família aos três anos.
Na época do regime militar no Brasil, Jana cursava Biologia na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), quando se filiou ao Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Em 1971, ela se mudou para o Pará para participar da guerrilha que lutava por um país democrático e nunca mais voltou.
Convite para fazer novela 'A Viagem'
Breno Moroni contou que a trajetória dele na televisão começou em 1973 e que o convite para a novela "A Viagem" veio de última hora. “Eles estavam procurando um ator para fazer um personagem que seria um mascarado. Na verdade, o nome dele era ‘Sombra’. E aí o Sombra virou mascarado que virou Adonai”, relembrou.
Devido à máscara usado pelo personagem, que abafava a voz, ele decidiu se comunicar por mímica — ideia que contribuiu para o tom misterioso do personagem.
O ator revelou que, desde o início, entendeu a necessidade de manter a identidade de Adonai em sigilo, inclusive entre amigos. “Isso me deu uma sensação muito boa de ter dupla personalidade, de ser duplo, ter uma identidade secreta”, disse. Ele também destacou o impacto desse anonimato na carreira: “Você faz muito sucesso, mas, ao mesmo tempo, é o famoso ‘quem?’”.
No início da novela, foi gravado o personagem como um artista de rua fazendo propaganda de refrigerante com uma placa na frente de um shopping. Com o tempo, o papel foi ganhando novas formas, com inserções inusitadas criadas junto aos diretores Ignácio Coqueiro e André Schultz.
“Eu andei no corrimão, depois vim de monociclo, depois apareci em cima do telhado. O personagem foi crescendo”, explicou. A evolução também se refletiu no cenário, que passou a incluir uma mansão com escadaria, além de um figurino cada vez mais elaborado.
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Queimadura demorava 4 horas para ser produzida
Apesar da identificação com o papel, Breno disse que não ficou com nenhuma peça do figurino. “A gente não pode. Os atores não podem nem mesmo interpretar o personagem depois. O Adonai pertence a uma equipe, a uma empresa”, afirmou.
A construção visual do personagem também exigiu dedicação. Segundo o ator, uma das máscaras de látex levava quatro horas para ser aplicada. A aparência queimada do personagem surgiu durante as gravações, com ajuda do maquiador Vavá Torres.
Apesar da popularidade, o retorno financeiro não acompanhou o sucesso de Adonai. “Era um personagem que carregava uma placa, portanto teria um salário equivalente a isso. O contrato já estava feito e assinado”, explicou. Com a reapresentação da novela, Moroni recebe direitos de imagem, mas diz que os valores são baixos.
Breno Moroni afirma que faria remake
Questionado sobre um possível remake, o ator afirmou que gostaria de interpretar Adonai novamente.
“Eu faria ainda melhor, porque depois de 'A Viagem', fui dirigir uma companhia de surdos no Instituto Nacional de Educação de Surdos e aprendi libras”, disse, ressaltando que o conhecimento em comunicação gestual poderia enriquecer a atuação. Ele reconheceu, no entanto, que acrobacias como escalar cenários talvez precisassem ser adaptadas.
Pai de quatro filho e, atualmente, vivendo no Mato Grosso do Sul, o ator ainda recebe mensagens de fãs sobre Adonai.
“Todo dia tem alguém mandando mensagem para o mascarado. Essa semana descobri até uma fábrica em São Paulo que faz camisetas com o personagem”, contou.
Ator segue com trabalho no cinema e TV
Breno Moroni segue atuando em filmes e produções para diferentes plataformas. Segundo ele, no primeiro semestre do ano, o foco foi cinema.
"Eu fiz seis filmes já esse ano. Um como diretor e roteirista, outro como ator, outro só como roteirista, tá estreando essa semana, chama-se 'Le Garçons'. E foi feito lá em Corumbá. É um filme adaptado de uma peça que fiz em Portugal. Eu escrevi e agora adaptei para cinema. E ficou muito bom esse filme. Ele vai ser lançado agora dia 10, em Campo Grande", explicou o ator.
Nos próximos meses, ele vai começar a editar como diretor e roteirista, uma adaptação de um conto chamado" Penteadeira".
"Tem ainda 'Filhos do Pantanal', que é uma longa-metragem que fiz como ator, que foi muito interessante, porque me chamaram para fazer um o papel de Capitão da Chalana. Eu nunca tinha chegado nem perto de uma Chalana", revelou Breno Moroni.