Espaços do Centro oferecem arte na hora do almoço para atrair trabalhadores

De oficinas a espetáculos, equipamentos realizam programações em horário alternativo buscando expandir oferta cultural.

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
(Atualizado às 09:34)
Pessoas em torno de uma mesa branca, fazendo artesanato com carretéis de linha coloridos e fios, como parte de uma atividade cultural em um equipamento de arte.
Legenda: Na Pinacoteca do Ceará, a faixa Pouso do Trabalhador foi criada em maio e se firmou na agenda semana do museu.
Foto: Ismael Soares

Na lida diária do trabalhador, o espaço para a pausa ou o respiro pode ser mínimo, ainda mais se for de cunho cultural. A partir dessa realidade, equipamentos do Centro de Fortaleza têm buscado oferecer programações por volta do meio-dia para atender trabalhadores em horário de intervalo e pessoas do entorno.

Seja em faixas de programação pensadas especificamente para quem trabalha por perto ou na promoção de espetáculos neste horário alternativo, espaços como a Pinacoteca do Ceará, o Cineteatro São Luiz, o Teatro Carlos Câmara e o Banco do Nordeste Cultural despontam nesta oferta.

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Pouso artístico

O Verso foi visitar uma dessas ações: o Pouso do Trabalhador, projeto criado no escopo da Pinacoteca que promove oficinas gratuitas e abertas com diferentes técnicas artísticas às quartas-feiras, de 12h30 às 13h30.

A próxima edição ocorre na quarta (26) e será uma oficina de macramê ministrada pela artesã e designer de moda Meire Nascimento. São ofertadas 15 vagas, sem necessidade de inscrição prévia e preenchidas por ordem de chegada na recepção. Em dezembro, haverá pausa por conta dos feriados de fim de ano, com retorno da ação em janeiro.

A faixa de programação foi criada em maio, em alusão ao Dia do Trabalhador, a partir de observações da equipe da Pinacoteca, como explica a coordenadora de Arte e Educação Simone Barreto. 

“É um museu dentro de um bairro que é muito comercial, tem muitos trabalhadores passando aqui. Como é que a gente poderia convidá-los a entrar e ter esse momento tanto de fruição artística nas exposições, como de ‘vou só pousar, relaxar, aprender uma coisa’?”, inicia.

Grupo de pessoas em uma mesa de artesanato, manuseando linhas coloridas que estendem no ar. A mesa tem grandes rolos de linha preta, rosa, branca e amarela. Uma mulher de cabelo castanho e óculos, com um casaco rosa, está visível à esquerda, segurando uma linha azul clara.
Legenda: Pouso do Trabalhador busca oferecer oficinas rápidas de saberes manuais a cada semana.
Foto: Ismael Soares.

O projeto, resume a também artista, é “um convite para aproximação”. “Muitos trabalhadores ficavam por aqui na hora do almoço passando, procurando um lugar para descansar ou ficar”, aponta Simone, mas “não necessariamente entravam”.

“Não sabiam, por exemplo, que é gratuito, que é um ambiente climatizado, tem água, café”, elenca a coordenadora. A partir desse potencial público, a Pinacoteca oficializou o projeto para ocorrer na hora do intervalo de almoço, propiciando contato com arte e um respiro no meio do expediente.

Público conhece no “boca a boca”

Para divulgação da primeira edição, explica Simone, houve distribuição de folders com informações no entorno e também articulação junto ao Sindicato dos Lojistas. “A gente viu a procura das pessoas e uma adesão grande também ao tipo de oficina”, segue Simone.

“A gente tem priorizado criações manuais. Todo dia você sai com alguma coisa que produziu, seja um patuá, um bordado, mas também tem uma parte das oficinas que são mais voltadas para o corpo, relaxamento, um alongamento. É uma pausa para esse corpo em um museu descansando”
Simone Barreto
coordenadora de Arte e Educação da Pinacoteca do Ceará

Pessoas deitadas em colchonetes vermelhos no chão de um espaço de Pinacoteca do Ceará, em uma atividade de relaxamento. Uma mulher, em pé, orienta o grupo próximo a uma grande janela que mostra a paisagem externa.
Legenda: No Pouso do Trabalhador, da Pinacoteca do Ceará, há espaço até para oficinas de alongamento e relaxamento corporal.
Foto: Marilia Camelo / Divulgação.

Seis meses depois, o Pouso do Trabalhador é divulgado pela comunicação institucional nas redes sociais e no “boca a boca”.

Foi assim que a bolsista e artista freelancer Amanda Lopes, 27 anos, descobriu o Pouso na última quarta (19), ocasião em que a oficina do dia foi sobre macramê, com a professora Meire Nascimento.

“Minha amiga trabalha como estagiária na Pinacoteca e a gente se encontrou na hora do almoço e ela me disse: ‘Vai ter uma oficina de macramê, você quer participar?’. Vim por causa desse contato e está sendo muito legal”, partilha.

Perfil diverso e além do público-alvo

Três pessoas em uma mesa em uma oficina de artesanato. Uma mulher com cabelo crespo e ruivo está inclinada, trabalhando com linhas. Dois homens, um à esquerda e outro à direita, também participam do trabalho manual. Ao fundo, um móvel preto e vazio com espaços vazados.
Legenda: A bolsista e artista Amanda Lopes soube da oficina durante o almoço com uma amiga e decidiu participar da atividade.
Foto: Ismael Soares.

Amanda está atualmente trabalhando como bolsista do Mutuá, um programa de mentoria em design promovido pela Kuya - Centro de Design do Ceará, que fica na Praça da Estação como a Pinacoteca.

Como observa Simone, a presença dela reflete parte do perfil de participantes das 22 edições do Pouso realizadas desde maio.

235
pessoas já participaram das oficinas do Pouso do Trabalhador

“São pessoas que trabalham por aqui, tanto no próprio Complexo (Cultural Estação das Artes) quanto pelo entorno. Lembrei de algumas meninas estudantes de cursinho que vêm de farda. Não necessariamente era o público, mas para pré-universitários é legal fazer essa pausa”, considera a coordenadora.

Há, ainda, o “público que fala ‘nessa hora eu posso’, e então vem”. “Não são trabalhadores aqui do entorno, mas vem só para fazer a oficina”, acrescenta Simone. É o caso da estudante Ihorrany Macedo, de 20 anos, que conheceu a faixa pelo Instagram da Pinacoteca.

Mulher jovem de cabelo castanho encaracolado e blusa clara sentada em uma mesa, sorrindo, enquanto trabalha com linhas coloridas em uma atividade de artesanato. Na frente dela, há um grande rolo de linha escura e outros materiais. Um homem de camisa vermelha é parcialmente visível à esquerda.
Legenda: Além do público-alvo de trabalhadores do entorno, oficinas também atraem pessoas interessas nas oficinas, como é o caso da estudante Ihorrany Macedo.
Foto: Ismael Soares.

Estudante do 3º semestre de artes visuais do IFCE, ela aproveitou o horário de almoço para participar da oficina. “Sempre acompanho as coisas que acontecem nos museus de Fortaleza porque gosto muito de estar sempre ampliando minha visão sobre a arte”, explica.

“Eu já tinha visto (sobre o Pouso do Trabalhador) e hoje consegui vir. Outra vez eu vim, mas não deu tempo, cheguei atrasada e perdi as vagas”, contextualiza. 

Vale reforçar: as vagas das oficinas abrem uma hora antes do início da atividade e são ocupadas por ordem de chegada, sem necessidade de inscrição ou conhecimentos prévios.

Pausa que faz diferença

O resultado após a primeira experiência, na oficina de macramê, foi aprovado por Ihorrany. “É como se a gente parasse um pouquinho o dia. Volta mais tranquilo, mais livre, a mente mais aberta”, resume.

Amanda ecoa: “É muito terapêutico e auxilia também no foco, no desenvolvimento da concentração. Também é uma atividade social, a gente tem contato com várias pessoas diferentes. Recebi ajuda de pessoas desconhecidas, fortalecendo o senso de comunidade”.

Quatro pessoas em uma mesa de artesanato, manuseando linhas coloridas. A mulher de cabelo crespo ruivo e óculos e o homem de camisa vermelha estão de pé, curvados sobre o trabalho. Um homem de óculos e uma mulher de cabelo cacheado estão sentados, concentrados na atividade manual. Há um rolo grande de linha escura na mesa.
Legenda: Amanda (de pé, de óculos) e Ihorrany (sentada, à direita) ressaltam pontos positivos da atividade como a pausa no dia e a sociabilidade.

Para Meire, a experiência nesse modelo em horário alternativo tem sido inédita. A professora e artista ministrou oficinas de macramê nos dias 12 e 19 de novembro e também será responsável pela próxima, no dia 26.

“Tem me surpreendido muito tanto a quantidade de gente que vem, quanto a diversidade de pessoas. Tem gente que já sabe macramê, tem quem não sabe nada e consegue desenrolar alguma coisa, a galera aprende e já leva uma coisa para ir usando”, analisa.

Mulher de cabelo crespo curto com mechas grisalhas frontais sorri e olha diretamente para a câmera. Ela usa uma blusa com estampa colorida de paisagens e tem tatuagens. O fundo está desfocado, mostrando um ambiente interno.
Legenda: Oficinas de macramê no Pouso do Trabalhador tiveram a artesã e designer de moda Meire Nascimento como professora.
Foto: Ismael Soares.

“Percebo que o pessoal vem com disposição de aprender e fazer uma coisa diferente naquela horinha do almoço Com essa intenção de realmente ter esse pouso, um descansinho de uma hora que espero que faça a diferença no dia”, confia a professora.

As impressões das alunas e da professora são reforçadas pela coordenadora de Arte e Educação da Pinacoteca. 

“É uma quebra desse formato de trabalho onde você passa a manhã inteira vendo uma planilha ou atendendo clientes. Tem um impacto nesse cotidiano e nesse modo de trabalho de estar tão entregue às demandas, às correrias”
Simone Barreto
coordenadora de Arte e Educação da Pinacoteca do Ceará

“É um convite para, além de conhecer, entrar na Pinacoteca, saber que aqui posso criar com as minhas mãos sem estar preocupado com metas. Gera outro estado no meio do dia, do expediente. É importante trazer isso para o nosso cotidiano de trabalho”, sustenta Simone.

Pinacoteca do Ceará - Pouso do Trabalhador

  • Quando: às quartas, de 12h30 às 13h30; próxima edição no dia 26, com oficina de macramê
  • Onde: rua 24 de maio, Praça da Estação, s/n, Centro
  • Entrada gratuita, com capacidade máxima de 15 pessoas e vagas preenchidas por ordem de chegada
  • Mais informações: no site ou no Instagram @pinacotecadoceara 

Teatro ao meio-dia

Além da Pinacoteca, outros espaços culturais que ficam no Centro também contam com agendas no horário de almoço.

Recentemente reinaugurado, o Teatro Carlos Câmara conta com uma faixa semanal que promove apresentações gratuitas sempre ao meio-dia das quintas-feiras, na Sala de Espetáculos Rogério Mesquita.

Três pessoas em um palco escuro de um teatro, iluminados por focos de luz azul e branca. Um artista ao centro canta tocando um violão, usando um chapéu. À esquerda, uma mulher faz intepretação de Libas, e à direita, um homem sentado faz a percussão.
Legenda: No Teatro Carlos Câmara, ao meio-dia das quintas-feiras, espetáculos são apresentados gratuitamente ao público, como "As caras do Cabra", com Gil Soares.
Foto: Micaela Menezes / Divulgação.

A programação, explica a diretora Vanéssia Gomes, é “voltada para as pessoas que vivenciam o Centro de Fortaleza, sejam turistas, trabalhadores, moradores e frequentadores”. 

O programa foi criado, segundo a gestora, pelo “desejo de aproximar ainda mais o Teatro Carlos Câmara de seu território imediato”. 

“O horário foi pensado para dialogar diretamente com a rotina dos trabalhadores do entorno, que muitas vezes não conseguem acessar atividades culturais nos turnos tradicionais”, considera. 

Vanéssia destaca, ainda, a abertura de “janela de respiro, fruição e encontro em meio ao cotidiano” e o reforço da relação do teatro com a vizinhança.

Teatro Carlos Câmara

  • Quando: às quintas, a partir de 12 horas
  • Onde: rua Dr. João Moreira, 472, Centro
  • Entrada gratuita.
  • Mais informações: no Instagram @teatrocarloscamara_

Arte na praça

Faixa já estabelecida na programação do Cineteatro São Luiz, o Curta São Luiz promove apresentações gratuitas de diferentes linguagens artísticas sempre às 12h30 — tanto na área externa, em diálogo com a Praça do Ferreira, quanto na área do hall de entrada do equipamento.

A proposta é se aproximar do espaço urbano do Centro, tanto trabalhadores quanto visitantes e moradores. Ainda que não haja um dia da semana específico ou periodicidade fechada para a realização, o programa já é marca da agenda do Cineteatro.

Um artista de palhaçaria, sorri usando suspensórios vermelhos e uma bandana vermelha, atuando para uma plateia reunida em uma área externa no centro de uma cidade. Há pessoas ao fundo, algumas caminhando e outras observando.
Legenda: Curta São Luiz é a faixa de programação do Cineteatro que promove espetáculos na hora do almoço tanto na entrada local, quanto na Praça do Ferreira; na foto, registro da apresentação de "Pedro, que horas são?", do Coletivo Paralelo.
Foto: Dazfotos / Divulgação

Na próxima quarta-feira (29), por exemplo, está marcada a apresentação do “Reisado do Garajal: Guerreiros de Jorge”, com o Grupo Garajal, na calçada do São Luiz.

A atividade é promovida com o Sesc Ceará, um parceiro constante do Cineteatro para as agendas do Curta São Luiz. A agenda da faixa de programação é sempre divulgada mensalmente pelo equipamento.

Cineteatro São Luiz

  • Quando: funcionamento varia de acordo com a programação
  • Onde: rua Major Facundo, 500, Centro
  • Entrada gratuita.
  • Mais informações: no site ou no Instagram @cineteatrosaoluiz

“Menu” musical

Outro espaço já reconhecido pela programação no horário do almoço é o Banco do Nordeste Cultural, próximo à Praça dos Leões.

Também com agenda mensal divulgada previamente, o centro cultural tem marcadas para o restante de novembro duas apresentações musicais.

Nesta quinta (27), às 12 horas, o grupo musical Não Insistas, Rapariga!, formado por mulheres musicistas, realiza apresentação no Palco Praça de Convivência.

No mesmo local e no mesmo horário, porém na sexta (28), é a vez do tradicional forró pé-de-serra com Claudinho & Banda

Banco do Nordeste Cultural

  • Quando: funcionamento geral de terça a sábado, de 10 às 19 horas
  • Onde: rua Conde d'Eu, 560, Centro
  • Entrada gratuita.
  • Mais informações: no site ou no Instagram @bancodonordestecultural

Além do Centro

Ao Verso, a Secretaria da Cultura do Ceará indicou outros espaços que promovem programações culturais em horários alternativos fora da região central. 

Segundo a Secult, o Porto Iracema das Artes, na Praia de Iracema, irá promover nas terças e quintas de dezembro uma atividade voltada à mobilidade, alongamento e consciência corporal, sempre de 12h30 às 13h30.

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“Aula de Manutenção Técnica - Condicionamento Físico com ênfase em Técnica Moderna” será ministrada por Diego Freire na Sala Wilemara Barros, que fica na escola. A ação é aberta ao público e tem capacidade máxima para 25 pessoas, com participação por ordem de chegada.

“As aulas de manutenção tem como intuito potencializar o corpo através de exercícios de técnicas de danças modernas, pilates e danças contemporâneas de chão, diagonais e de centro”, informa. É preciso levar tapetinho próprio.

Outro espaço citado pela Secult é o Museu da Imagem e do Som do Ceará, que fica na av. Barão de Studart. Às quartas, quintas e domingos, ele fica aberto de 10 às 18 horas, e às sextas e sábados, de 13 às 20 horas. 

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A secretaria destaca as exposições na sala imersiva e no Casarão como opções, além da biblioteca Marly Mariano & Thomaz Farkas (que fica no próprio museu e funciona de quarta à sexta, de 13 às 18 horas) e da Galeria da Liberdade.

Esta fica no Palácio da Abolição, em frente ao MIS, e funciona às quartas e quintas, de 10 às 18 horas, e sextas e sábados, de 13 às 20 horas. No local, está em cartaz a exposição “...e se não for agora, um dia será…”.

Porto Iracema das Artes - Aula de Manutenção Técnica

  • Quando: nos dias 2, 4, 9, 11, 16 e 18 de dezembro, de 12h30 às 13h30
  • Onde: rua Dragão do Mar, 160,Praia de Iracema
  • Entrada gratuita, com capacidade máxima de 25 pessoas e mediante ordem de chegada
  • Mais informações: @portoiracemadasartes 

Museu da Imagem e do Som

  • Quando: às quartas, quintas e domingos, de 10 às 18 horas, e às sextas e sábados, de 13 às 20 horas; biblioteca Marly Mariano & Thomaz Farkas de quarta à sexta, de 13 às 18  horas; Galeria da Liberdade às quartas e quintas, de 10 às 18 horas, e sextas e sábados, de 13 às 20 horas
  • Onde: avenida Barão de Studart, 410, Meireles
  • Entrada gratuita.
  • Mais informações: @mis_ceara
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