Teatro Carlos Câmara reabre após cinco anos; saiba novidades
Equipamento passou por requalificação estrutural e surge com nova proposta.
Portas abertas de novo. Nesta quarta-feira (5), ressurge, no Centro de Fortaleza, o Teatro Carlos Câmara após hiato de cinco anos, desde a pandemia de Covid-19. O clima é de aquecimento para as diferentes novidades que o equipamento apresenta nesta nova fase, bem como de reflexão para fazer com que desafios históricos não se repitam.
O destaque já começa no amarelo renovado da fachada e na própria estrutura do espaço, compreendendo palco, o Pátio Artur Guedes e hall para exposições. Serviços de manutenção, requalificação e melhorias estruturais foram realizadas no prédio, bem como investimento criativo, a fim de atrair a visualidade do público. Maior prova é o grande e colorido painel na entrada do lugar, assinado por Dhiovana Barroso (Dhiôw) e Érica Rodrigues (Ericar).
Ele traz a representação de diferentes linguagens artísticas. Falando nelas, a intenção é que sejam as verdadeiras protagonistas desse mais recente capítulo do Carlos Câmara, em comunhão com ações de envolvimento a partir dos diversos atores sociais – de artistas e pesquisadores a transeuntes e moradores do Centro da cidade.
A completa requalificação estrutural vai ao encontro de pôr em prática algumas demandas da classe artística. No palco, por exemplo, foram criados dois camarins – outrora inexistentes ao longo dos 51 anos do equipamento – bem como instalação de grids específicos para som e luz. Ajustes de segurança e implantação de sistema de iluminação para recebimento de exposições foram outros acréscimos ao panorama geral de novidades e melhorias.
O Teatro Carlos Câmara se insere na perspectiva de ser um novo palco para a cidade, baseado em uma programação ativa com o objetivo de que as pessoas possam, de fato, não apenas visitá-lo, mas vivê-lo.
Na gestão desde julho deste ano, Vanéssia Gomes reforça o compromisso de abrir espaço de fruição e difusão das mais diferentes linguagens, sempre fortalecendo as Artes Cênicas. “Somos um teatro, então trabalhamos na perspectiva da cena, de um incentivo a isso. Pensar nesse lugar é entender que a gente vai alcançar e buscar diálogo com a cidade por meio de uma necessidade identificada em várias reuniões: de que o Teatro Carlos Câmara seja espaço de temporada. Ou seja, grupos devem fazer apresentações contínuas nele”, explica.
O que esperar da programação
Um desenho possível do tom da programação do novo Teatro Carlos Câmara acontecerá durante o evento de reabertura do espaço. Tudo começa a partir das 16h desta quarta-feira (5), por meio de um Cortejo Cultural no exato Dia Nacional da Cultura. Por meio dele, grupos e artistas tomarão as ruas do Centro, em um grande gesto de celebração, rumo à sede do teatro.
A festa segue no pátio, a partir de performances, música, circo e o encontro que marca a volta de um dos espaços mais simbólicos da arte cearense. Até o fim de dezembro deste ano, esta deve ser a atmosfera, com atividades acontecendo de quinta a domingo, das 10h às 19h.
Para começar, já nesta quinta-feira (6), haverá apresentação do espetáculo “Inacabado”, do grupo Bagaceira de Teatro; na sexta (7), entra em cena o Grupo MiraIra, com a montagem “Flor do Deserto”; no fim de semana, tem o número “Sertão Confederado”, da Cia Prisma de Teatro. Show de Phill Veras, ações em alusão ao Dia da Consciência Negra, e até presença do Grupo Lume, reconhecido nacionalmente, são alguns dos próximos acontecimentos.
Para fechar o ano, em dezembro a ideia é que, por meio de parceria com o Instituto Federal do Ceará, haja apresentações de espetáculos de conclusão, bem como projetos envolvendo a Vila das Artes. Ainda em 2025, também haverá convocatórias de ocupação para 2026.
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“O Carlos Câmara reabre no Centro de Fortaleza com uma programação de rua para que artistas, transeuntes e comerciários entendam que esse é um lugar que eles ocuparão, que podem habitar. Por isso abraçamos o conceito de teatro casa, no sentido de que queremos criar programações para que as pessoas, de fato, o habitem", ressalta a gestora.
O diálogo com o entorno compreenderá ainda ações no bairro Moura Brasil – em ritmo de deslocamento do espaço físico do teatro – e em escolas de ensino fundamental e médio próximas. “Temos uma equipe de cidadania própria do Teatro, assegurando atividades no entorno com a participação de pessoas em situação de vulnerabilidade social e as comunidades periféricas, bem como com outras camadas de público que eventualmente possam comparecer aqui, no Centro e na cidade de Fortaleza”, assegura Vanéssia.
Para que não feche mais as portas
Os esforços, conforme a gestora, são no sentido de salvaguardar que o Teatro Carlos Câmara siga definitivamente de portas abertas, em contraste com o desafiador histórico do equipamento, observado durante anos.
Aberto em 1974, ele inicialmente foi nomeado como Teatro da Emcetur devido à proximidade com o primeiro equipamento turístico do Estado, inaugurado um ano antes, hoje denominado Centro de Turismo. A partir de 2012, recebeu o nome que hoje possui, por incentivo do ator e teatrólogo Ricardo Guilherme, para homenagear outra grande figura das Artes Cênicas cearenses.
Durante a década de 1970, o Teatro da Emcetur se tornou um dos mais ativos espaços da cidade nas Artes Cênicas, recebendo jovens companhias cearenses e badaladas atrações nacionais. No entanto, 20 anos após inaugurado, a falta de manutenção fez com que fosse fechado em 1994.
O equipamento só foi reinaugurado em 5 de setembro de 2012, pelo até então governador Cid Gomes, que devolveu à Capital um teatro reformado, ampliado e com novo nome. Nessa mesma época, a casa, pertencente à Secretaria do Turismo (Setur), passou para a gestão da Secretaria da Cultura do Estado (Secult).
“Imagino que, quando houve essa migração do Teatro da Emcetur para ser o Teatro Carlos Câmara, gerido pela Secult, a questão principal foi a aderência e a apropriação da cena cultural da época a fim de ocupar esse teatro”, analisa a secretária da Cultura do Estado, Luísa Cela. Segundo ela, o Teatro Carlos Câmara é o primeiro dos equipamentos geridos pela Secult-CE com necessidade de reformas ou melhorias a ser reaberto ainda nesta gestão.
Além dele, estão na fila o Museu do Ceará e o Museu Sacro, ambos com previsão de reinauguração no primeiro semestre do próximo ano. “Nessa nova fase, o Carlos Câmara procurará se relacionar com o lugar onde ele está, ou seja, o Centro de Fortaleza, por meio de programas voltados para os trabalhadores e trabalhadoras da região”, sublinha.
“Também olhará para a realidade desse mesmo Centro, levando em conta, por exemplo, a concentração de pessoas em situação de rua. Assim como a gente tem feito com o Dragão do Mar, com a Estação das Artes e com o Theatro José de Alencar, o Teatro Carlos Câmara também terá programas que busquem envolver essas pessoas na programação, no dia a dia do teatro – claro, numa articulação com a rede assistencial”.
A secretária diz ainda que a reinauguração do TCC acontece somente neste ano de 2025 pelo desejo da pasta de entregar o equipamento à sociedade com a reforma totalmente concluída. Havia desejo de que a entrega acontecesse ainda no ano passado, face aos 50 anos do Teatro; porém, optou-se por estender o prazo a fim de evitar possíveis novos fechamentos para ajustes.
“Espero que as pessoas reocupem esse lugar, que a classe artística se aproprie dele. A gente sabe que, em caso de transição de gestão, é a sociedade civil quem finca o pé e assegura a manutenção de políticas, caso haja mudanças que venham a comprometer essas ações”.
Vanéssia Gomes, por sua vez, quando questionada sobre como fazer para que o Carlos Câmara nunca mais feche as portas, é clara: “É fazer com que as pessoas pensem, ‘esse lugar tem que ficar aberto, ele não pode fechar’. Nesse sentido, a presença do Instituto Dragão do Mar na gestão é importante porque existe um trabalho com capacidade técnica, tanto do IDM enquanto instituto quanto da qualificação da equipe”.
De acordo com ela, todos os integrantes têm vasta experiência na seara cênica, com respaldo da comunidade artística e de pesquisadores. No fim das contas, é como garantem que o lema da reabertura, “Trago o seu teatro de volta” – paralelo engenhoso com a expressão “Trago seu amor de volta” – possa fazer o real sentido no dia a dia da nova temporada do TCC.
“Pretendemos fazer com que a população que ainda não conhece esse lugar possa compreender que ele é público, e que estamos fazendo o máximo de ações para que, assim, elas também compreendam que é um lugar delas”.
Serviço
Reinauguração do Teatro Carlos Câmara
Endereço: R. Dr. João Moreira, 471 - Centro. Reinauguração nesta quarta-feira (5), a partir das 16h, com cortejo cultural saindo da Praça dos Correios em direção ao Teatro. Funcionamento nos outros dias: de quinta a domingo, das 10h às 19h. Entrada gratuita. Programação e outras informações disponíveis nas redes sociais do Teatro