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Quem forma o batalhão de defesa dos pré-candidatos à Prefeitura de Fortaleza na Câmara Municipal

Em busca de tempo de TV e de formação de uma base de sustentação no Legislativo, partidos com pré-candidaturas lançadas intensificam apoios

Escrito por Bruno Leite , bruno.leite@svm.com.br
Plenário da Câmara Municipal de Fortaleza
Foto: André Lima / CMFor

A arrumação das chapas visando a disputa eleitoral para o Executivo da Capital cearense tem repercutido entre os partidos com representação na Câmara Municipal de Fortaleza (CMFor). Ao todo, 15 agremiações compõem o quadro de vereadores. Seja apoiando candidaturas ou lançando nomes próprios, todas elas terão envolvimento com o pleito que irá selecionar aquele ou aquela que vai gerir a cidade pelos próximos quatro anos. 

Até o momento já foram colocadas como pré-candidatos pelos seus grupos de apoio figuras como o atual prefeito José Sarto (PDT), o senador Eduardo Girão (Novo), o ex-deputado federal Capitão Wagner (União), o deputado federal André Fernandes (PL), a deputada federal Luizianne Lins (PT), o ex-deputado federal Artur Bruno (PT), o deputado estadual Evandro Leitão (PT), a deputada estadual Larissa Gaspar (PT), o deputado estadual em exercício Guilherme Sampaio (PT) e o produtor cultural Tecio Nunes (Psol).

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Decorrente da ressaca pós-eleitoral de 2022, marcada pelo rompimento da "dobradinha" que alternava no comando do Palácio da Abolição, representada por PT e PDT, a propositura antecipada dos possíveis representantes foi um dos fenômenos que movimentou a cena política cearense no último ano. 

Agora, com um processo em que, antes mesmo da largada, há um número expressivo de postulantes em mandatos eletivos, já aprovados anteriormente pelo voto popular, a busca por agremiações que possam compor uma base de sustentação no Legislativo municipal é essencial sobretudo para a conquista de mais tempo na propaganda eleitoral obrigatória no rádio e na televisão. 

A fim de traçar um desenho da movimentação partidária, o Diário do Nordeste conversou com parlamentares da CMFor para que pudessem ajudar no diagnóstico do cenário pré-eleitoral neste início de 2024.

Sem nome, mas com aliados

O Partido dos Trabalhadores, apesar de não ter definido quem estará nas urnas, tem se adiantado na aglutinação de legendas. No ano passado, duas passaram a orbitá-lo e devem estar no seu bloco para o Executivo em outubro: o Partido Socialista Brasileiro (PSB) e o Partido Social Democrático (PSD).

Vice-líder do PT na Casa Legislativa, a vereadora Adriana Almeida afirmou que a sigla já organiza a chapa de vereadores e começou a discutir movimentos em torno das prévias. "O primeiro trimestre para a gente vai ser crucial nessa discussão", opinou.

Professora Adriana
Legenda: Vice-líder do PT na Câmara disse que federação deve ser considerada na articulação deste ano.
Foto: Érika Fonseca / CMFor

Ao que disse a parlamentar, filiações realizadas em 2023 serviram como o pontapé inicial e os nomes colocados à disposição têm viabilidade. "Temos cinco bons nomes para que a gente possa estar fazendo essa discussão interna, até março, e sair com um nome, qualquer que seja ele, forte".

Na compreensão de Adriana, o órgão partidário local não tem nenhuma predileção por candidatos. A petista ainda salientou que cada um deles tem atributos relevantes para o jogo. De acordo com ela, o diálogo agora vai se dar entre os movimentos que dão corpo ao PT e com a militância. Essas conversações também irão fundamentar a seleção de um time que possa ampliar a bancada na Câmara, composta atualmente por apenas dois componentes.

"Hoje nós temos eu e Dr. Vicente como os nomes que o PT tem interesse e disposição, quer jogar suas forças para nossa reeleição. E fazer outros nomes para que a gente possa fortalecer nossa chapa", pontuou. O propósito, revelou, é ter mais um ou dois novatos do seu partido e outros membros da federação.

Elmano de Freitas
Legenda: Legendas do arco de alianças do Governo Elmano devem ser incorporadas na coligação que dará sustentação para candidatura do PT à Prefeitura.
Foto: Kid Jr.

A federação em que a legenda está inserida foi homologada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) em maio de 2022 e é composta também pelo Partido Verde (PV) e pelo Partido Comunista do Brasil (PCdoB). Ambos não possuem cadeira no Plenário Fausto Arruda na legislatura atual e buscam voltar a ter espaço no quadro. 

"Essa federação é fortalecida, vem na perspectiva de juntos elegermos, no mínimo, cinco vereadores", frisou. À reportagem, a política contou que a vinda de aliados de Evandro e oposicionistas com mandato seria uma possibilidade para que cumprissem a meta estipulada.

Além dos já mencionados, os partidos que estão no arco do Governo Elmano de Freitas - Movimento Democrático Brasileiro (MDB), Solidariedade (SD), Progresista (PP) e Republicanos (REP) - devem subir no palanque do PT na corrida eleitoral.

Nove na base

Enquanto isso, o Partido Democrático Trabalhista (PDT), que tem a maior bancada da CMFor, tentará manter o comando de Fortaleza sobre o seu guarda-chuva. O escolhido para a empreitada, pelo que declarou o presidente municipal da legenda, Roberto Cláudio, em entrevista concedida na última sexta-feira (12), será o atual mandatário.

"Há um consenso no diretório municipal, há um consenso no diretório nacional do partido e agora do novo diretório nacional da pré-candidatura da reeleição do prefeito Sarto. Isso é um entendimento comum a todos nós porque é uma gestão que, primeiro, tem dado muitos resultados para a população, temos muitas coisas a celebrar", defendeu o ex-prefeito, mencionando dados econômicos que, na visão dele, dão legitimidade para a escolha do correligionário como o postulante.

Para Roberto Cláudio, ter o prefeito como o nome da agremiação é algo inerente ao projeto pensado pelo seu agrupamento. "Então, tudo isso dá condição natural para a pré-candidatura à reeleição do prefeito Sarto. Havia um grupo dissidente dentro do PDT, que agora está batendo em retirada, pelo menos parte desse grupo, anunciou saída do partido, então isso dá ainda mais coesão e unidade para esse sentimento", continuou, se referindo aos ex-companheiros cidistas. 

Foto de José Sarto em 2020
Legenda: PDT busca reeleição de Sarto.
Foto: Camila Lima

O município é estratégico para o PDT, já que é o maior gerido pelo grupo. Por conta disso, articulações com os ex-aliados PSB e PSD são tocadas pelas lideranças. Em declarações públicas, dirigentes e outros líderes afirmaram que a montagem em Fortaleza terá repercussões nas chapas para o Executiva em outros colégios eleitorais fora do estado. Recife, onde o trabalhismo tem a vice-prefeitura, seria um deles.

"O (Carlos) Lupi está super antenado, está trabalhando nesse sentido, que é do equilíbrio. Em várias capitais o PDT está abrindo mão e apoiando alguns partidos, então o Lupi está com muita habilidade trabalhando essa dimensão de uma estratégia nacional. Ele disse hoje que a grande prioridade na eleição de 2024 é Fortaleza. Isso dá ao PDT uma possibilidade de buscar aliança com outros partidos. Tenho também conversado com outros partidos", detalhou o entrevistado.

A arrumação de candidaturas foi pauta de reuniões entre Sarto e vereadores da ala governista na CMFor. Os encontros começaram a ser realizados na segunda-feira (8), no Paço Municipal, e marcam a largada do grupo político para a formulação de estratégias que viabilizem a reeleição do prefeito.

Na quarta-feira (10), quando perguntado sobre os desdobramentos, o gestor apenas disse que trataram de assuntos relacionados com a administração municipal. "A gente está conversando com a bancada de sustentação para entender qual é a intenção dos vereadores em termos de projetos para 2024, haja vista que esse pacote de R$ 2,2 bi é o maior valor de investimentos da história de Fortaleza", disse.

A entrada na mobilização eleitoral, pelo que alegou, só aconteceria a partir de março, com a abertura da janela eleitoral, quando é permitida a migração de partido aos que possuem mandato proporcional. A postura pública de distanciamento adotada por ele na oportunidade condiz com a praticada ao longo dos últimos eventos políticos e reveses pedetistas. No entanto, aliados deram indícios de que Sarto não está tão distante assim da estratégia.

Líder do governo na Câmara Municipal, Iraguassú Filho (PDT) foi um deles. Indagado sobre os encaminhamentos das conversas, ele citou as ações de gestão e a tentativa de aproximação do Executivo com o Legislativo. "A pauta principal é exatamente a questão do diálogo relacionado a como pode melhorar as ações da prefeitura, a questão das entregas e dos serviços, programas, projetos e obras que devem ser lançadas", argumentou na ocasião. 

Mas ele também não deixou de lado a organização para o pleito. Segundo a liderança, "questões de partido" foram levadas para a mesa. Na aprovação de matérias e, consequentemente, para competir na eleição municipal, os governistas esperam contar com o apoio de nove partidos - a relação de siglas inclui PRD, PSDB, Cidadania, Agir, Avante, PMB, PMN e PRTB.

Depois do primeiro ciclo de diálogos, uma nova agenda de encontros entre o prefeito e dirigentes partidários deverá acontecer nos próximos dias, conforme revelaram interlocutores. A montagem das chapas para o processo eleitoral é um assunto inerente a essa etapa.

Na sexta-feira (10), antes mesmo da abertura da janela partidária, de maneira informal, Ana do Aracapé (PL) e Kátia Rodrigues (Cidadania) foram divulgadas como futuras pedetistas. Por estarem no exercício dos seus mandatos, a filiação delas ocorrerá no momento reservado pela Justiça Eleitoral para formalização do procedimento.

PSB quer indicar vice

A filiação de Cid Gomes e seus aliados ao PSB deve dar outra dimensão para a sigla, que poderá se tornar o maior em número de prefeitos em todo o Ceará. O poderio adquirido traz uma munição para que possa barganhar e fomentar ambições próprias dos partidários.

"Vamos ter uma janela para definir a questão partidária e nosso arco de alianças do grupo que faço parte está bem amplo agora. Acho que é incontestável o apoio do PSB ao projeto junto ao Governo do Estado", disse o vereador Léo Couto, líder do partido na Câmara Municipal.

Cid Gomes
Legenda: Chegada de Cid Gomes e seu grupo fortaleceu PSB.
Foto: Kid Jr.

Ele citou acontecimentos políticos recentes, a exemplo do apoiamento do Solidariedade. "Isso é fruto de diálogos, das articulações, do trabalho bem feito e, obviamente, teremos um nome para colocar à disposição do fortalezense. Vamos discutir, conversar, um nome em comum e competitivo para concorrer e ganhar a eleição deste ano", completou.

A designação de um socialista para vice na majoritária que concorrerá em Fortaleza é uma das ambições. "O PSB hoje é um dos maiores partidos do Ceará. Com a vinda do presidente Eudoro Santana engrandeceu, cresceu bem mais, o partido estava praticamente sem expressão. Gerou-se uma credibilidade maior, uma musculatura, e essa vinda do senador Cid cria outra dimensão. É uma possibilidade a indicação do vice", alegou Couto, aventando uma figura feminina como opção.

O parlamentar preferiu não opinar sobre qual seria o formato ideal de escolha da pessoa que vai encabeçar a candidatura, mas ponderou que as alternativas colocadas no radar pelos aliados são válidas. "O PT sempre foi de discutir muito, de dialogar muito, então acredito que saia do diálogo e tenha um nome comum. Caso não aconteça, acho que as prévias também são uma maneira democrática de definir candidatura", finalizou.

Retorno em discussão

Em outubro, quando entrevistado pela Live PontoPoder, o presidente estadual do PSD deixou explícito que não iria seguir outro caminho na formalização de apoios para a Prefeitura de Fortaleza que não seja aquele encabeçado pelo grupo do governador e do ministro da Educação, Camilo Santana (PT). 

Questionado sobre uma possível aliança com o PDT, caso este coloque outro nome que não seja o atual prefeito José Sarto, com quem rompeu em agosto, o dirigente foi categórico em dizer que não pretende retroceder na decisão tomada.

"Na política a gente conversa sempre e com todas as pessoas. Eu, Domingos Filho, na minha história política não tenho dado um passo para voltar atrás. Hoje nós vamos tratar dentro da base do Governo Elmano, com Camilo [Santana], com Elmano, com Cid, com todos que estão e com os demais partidos que estejam. É nessa frente que nós estamos".
Domingos Filho
Presidente do PSD Ceará

A aliança com o PDT, discorreu durante o bate-papo, só aconteceria se os trabalhistas aceitassem retornar para o agrupamento. "Essa frente vai incluir o PDT? Sim ou não? Não sei. Então, assim... não fazemos política com vetos, vetando ninguém, mas respeitando compromissos e trabalhando as alianças que a gente está. Se estamos dentro da aliança, vamos esgotar todas as possibilidades dentro da nossa aliança", sustentou.

Para ele, todos as figuras que já demonstraram interesse em concorrer são bastante competitivas, inclusive o próprio mandatário da Capital cearense: "Você está numa circunstância que com até 20% você está no segundo turno". A unidade, a paciência e o diálogo seriam, nas palavras dele, os elementos essenciais ao período de definições. 

A participação de Domingos Filho aconteceu dois meses depois do seu partido entregar os principais cargos que ocupava no Governo Sarto. Embora a decisão tenha sido pública e formal, vereadores continuaram votando com o Paço Municipal e filiados seguiram na gestão.

Até o esgotamento definitivo das negociações em torno do retorno do PSD, tratativas têm sido feitas, pelo que confessou Roberto Cláudio, presidente municipal do PDT. "O Domingos Filho já disse que o PSD está na base estadual, inclusive já anunciou apoio à candidatura do PT aqui, mas a gente tem mantido essas conversas. Converso com todo mundo para deixar as portas abertas e avaliar o que, ao final, será possível em termos de aliança", destacou.

PP Cell (PSD), é um dos membros do parlamento municipal que acreditam na reintegração. Vice-líder governista na Casa, ele sugeriu, na última quarta-feira (10), ao ser abordado, durante a cerimônia de posse dos conselheiros tutelares da Capital, que é um incentivador da medida.

"Tenho conversado muito com o deputado que sou aliado, Luiz Gastão, que é com quem ando junto. Na verdade, o PSD saiu, mas tá meio que neutro. Ainda não foi decidido nada. Tem muita água para rolar debaixo dessa ponte".
PP Cell
Vice-líder de Sarto na CMFor

O social-democrata, junto com os demais colegas do time de líderes, é um dos que acompanham de perto as reuniões de Sarto com os vereadores aliados.

PSOL definiu candidatura

O produtor cultural Tecio Nunes Salgado foi indicado como o pré-candidato do Partido Socialismo e Liberdade (PSOL) para a Prefeitura de Fortaleza. Anunciada pelo presidente estadual Alexandre Uchôa na última quinta-feira (11), a decisão de ter um nome próprio no páreo assinala para um comportamento comum da sigla, que tem o histórico de ter postulantes nas eleições para o Executivo municipal em cidades que tem diretório. 

O dirigente, no entanto, afirmou que não descarta abrir mão da candidatura por um projeto comum entre o campo da esquerda. "Podemos estar juntos (de uma aliança por Fortaleza), mas hoje temos um amadurecimento de uma candidatura própria", avaliou. O anúncio foi feito pelo líder partidário em entrevista aos editores de Política do Diário do Nordeste, Wagner Mendes e Jéssica Welma.

Na convenção, marcada para o fim de janeiro, os psolistas irão montar uma comissão para avaliar a pré-candidatura de Tecio. "Vai se debruçar melhor sobre o tema, mas temos a pré-candidatura de um camarada que é negro, militante, dirigente nacional, produtor cultural, então tem uma grande importância para a gente e vai verbalizar bem esse PSOL popular", acrescentou. 

A possibilidade de aliança que Uchôa apontou, mesmo anunciando a chapa do PSOL, leva em conta a força da direita na Capital, o que poderia levar a uma recuo da chapa do seu partido em prol de uma candidatura liderada pelo governador Elmano de Freitas (PT), por exemplo. 

A vice-líder do PSOL na CMFor, Adriana Gerônimo, disse que o debate será levado para as plenárias realizadas no início do ano, embora a ideia de ter um correligionário ou correligionária nas urnas seja um consenso entre as correntes internas do partido.

"Publicamente, o presidente do partido já sinalizou o desejo do grupo político dele de ter candidatura própria. O campo político que eu pertenço também tem o mesmo desejo. Acho que esse ano é fundamental para que a esquerda socialista, que tem esse alinhamento mais programático de cidade, sustente uma candidatura ao Executivo".
Adriana Gerônimo
Vice-líder do PSOL na CMFor

O intento, defendeu a parlamentar, é sustentar essa posição. "Aí, num futuro, numa perspectiva de segundo turno, é outra questão. Agora, no primeiro turno, acho que tem uma possibilidade muito concreta de ter candidatura própria, já que os grupos políticos internos estão sinalizando isso", completou. 

Dois partidos estão alinhados com o PSOL de maneira imediata, o Partido Comunista Brasileiro (PCB) e o Rede Sustentabilidade (Rede). Este último compõe uma federação junto com os psolistas. A aliança entre as partes foi formalizada junto ao TSE em maio de 2022. 

Segundo Adriana, ambos serão incluídos no debate em torno da candidatura, o que poderá incorrer na ocupação de posições na chapa. "É óbvio que o PCB é o grande aliado das lutas e a gente também tem a federação Psol-Rede, que também vai participar desse debate. Há ainda muitas janelas abertas para a gente poder ver o que de fato vai se desenhar", explicou.

O Rede tem uma vereadora no Legislativo do Município, Estrela Barros, que em outubro do ano passado já havia sinalizado seu desejo de sair da legenda. Na época, ela contou que não tinha contato com a executiva municipal e que estaria fora dos rumos que o partido poderia tomar a partir deste ano. Seu destino seria o PSD.

Ao ser perguntada sobre o alinhamento, Adriana Gerônimo falou que desde que a legenda saiu da base de Sarto, a relação tem sido positiva: "A gente conseguiu ter um alinhamento político e programático bem melhor. Têm coisas que a gente precisa alinhar e ser consenso entre nós, porém, esse último ano foi muito melhor". 

Adriana Gerônimo
Legenda: Adriana Gerônimo revelou que candidatura própria é uma unanimidade entre correntes do PSOL.
Foto: José Leomar

Ela falou ainda que, independente da continuidade da única representante do partido aliado na Câmara no quadro, o Psol pretende continuar o trabalho com a Rede.

Coalizão desejada

Terreno de embates internos no decorrer de 2023, o Partido Liberal (PL) indicou, em novembro, o deputado federal André Fernandes como pré-candidato a prefeito de Fortaleza. A aposta em André para concorrer ao pleito aconteceu em um contexto de troca na direção estadual - que antes era ocupada pelo prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves, e passou para o controle do deputado estadual Carmelo Neto.

O novo comandante do PL Ceará tem proximidade com o ex-presidente Jair Bolsonaro e assume uma conduta mais ideológica. O ex-presidente, no entanto, tinha um histórico de alianças com o grupo de Camilo Santana e com os irmãos Ferreira Gomes, quando estiveram à frente do Palácio da Abolição.

A ascensão de André ao posto de pré-candidato foi precedida de uma carta de apoio da comissão provisória do PL Fortaleza que gerou desgastes entre os membros. Carmelo, que naquele período também era pré-candidato, chegou a manifestar sua indignação com relação ao acontecido. Com a movimentação, chancelada pelo próprio ex-chefe do Planalto, os ânimos foram apaziguados e a unidade em torno do parlamentar federal foi sacramentada.

A retirada de Acilon, conhecido pelo trabalho de articulação com prefeitos do interior, porém, causou efeitos adversos no conjunto de vereadores no Legislativo da Capital. Ao menos três dos seis liberais do Plenário Fausto Arruda - Bruno Mesquita, Tia Francisca e Ana do Aracapé - já tornaram pública a decisão. Aracapé tem destino definido quando houver a abertura da janela partidária: irá para o PDT.

No último dia 5, ao Diário do Nordeste, Mesquita sinalizou que há uma discordância quanto ao direcionamento dado pelo atual companheiro de legenda. "A candidatura do André não me atende em nenhum quesito. Não me sinto representado pelo deputado. Não tenho ligação com 'candidatos de internet', tenho com candidatos que fazem alguma coisa pelo povo, que têm um projeto político para a cidade", salientou, justificando que a discordância não tem nenhum cunho pessoal. 

Apontado nos bastidores como um dos que também irão sair, por conta da proximidade da sua família com o Governo Sarto, Pedro Matos foi o único que negou ter tal pretensão no momento. "Até o momento não tenho discutido saída do PL e pretendo permanecer. Vou deixar para analisar alguma mudança somente na janela partidária", afirmou.

O desafio do PL, assim como de outros partidos da direita será o de captar apoios de outras legendas, já que cada uma delas têm candidaturas próprias. A ideia de um elo, ainda no primeiro turno, que unisse André, Capitão Wagner (União) e Eduardo Girão (Novo), foi ventilada por Carmelo Neto em novembro, durante a participação dele no PontoPoder.

"São três nomes que têm qualidades, três nomes que legitimamente se colocaram à disposição dos seus partidos. O André foi o deputado do PL mais votado em Fortaleza, o deputado Capitão Wagner foi candidato ao Governo, tirou uma votação expressiva na Capital, e o Eduardo Girão também foi eleito senador com votação expressiva em Fortaleza", comentou.

E continuou, ponderando um denominador comum entre apoiar seu colega e reconhecer os demais: "Obviamente, eu vou defender que o candidato do PL é a melhor opção para a cidade, mas eu não posso deixar de manifestar o meu respeito pelos outros nomes dentro do nosso campo político". 

Direita pulverizada

O lançamento da candidatura de Girão, também em novembro, durante o 4º encontro estadual do Novo, realizado na Assembleia Legislativa do Ceará (Alece), contou com a presença das figuras da direita. O deputado estadual Sargento Reginauro, do União, e os liberais Carmelo Neto e André Fernandes foram algumas delas.

O senador que se lançou como pré-candidato chegou ao partido em fevereiro de 2023, depois de passar pelo Partido Republicano da Ordem Social (Pros) e Podemos. 

Para o Capitão Wagner, o pleito de 2024 vai ser o mais "diferente" que ele já disputou. "Nunca vi uma eleição tão antecipada", declarou o secretário de Saúde de Maracanaú em setembro do ano passado. A particularidade da eleição seria por conta da antecipação e o acirramento entre os nomes anunciados previamente.

Naquela ocasião, afirmou o presidente do União Brasil, o melhor caminho para os liberais seria seguir na aliança com seu partido. "O PL se tornou o maior partido do País, isso o credencia a lançar candidato em qualquer lugar porque tem tempo de TV, tem estrutura financeira do Fundo Partidário, mas o PL em Fortaleza precisa definir se é oposição ou base do Governo Sarto", ressaltou.

"Parte do PL está dentro do Governo Sarto, vereadores do PL estão apoiando, secretários são do PL (...) então o PL vai ter que definir se vai ter candidatura própria e aliança, se for lançar, definir quem é o melhor nome, então há uma indefinição no PL como há no PT".
Capitão Wagner
Pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza (União)

Wagner ainda questionou os ideais e projetos dos seus aliados na última eleição. "Quais os projetos, quais ideias do PL em termos de gestão? Qual figura vai encabeçar esse projeto com experiência e condição de viabilizar? Quem assiste pela TV acha que é fácil, mas eu que já participei de três (eleições) sei o quanto é difícil", concluiu.

Correligionário do Capitão e líder na Câmara, Julierme Sena deu ênfase para a potência do partido. "É indiscutível a força do partido para a eleição de todo e qualquer candidato, seja no cargo majoritário ou proporcional. Precisamos estar aliados, até porque os mandatos, de certa forma têm um direcionamento do partido", constatou.

O vereador revelou que a continuidade no União Brasil é algo que está em aberto, já que tem dialogado com outras siglas que tenham uma aderência maior ao que defende do ponto de vista ideológico. O Partido Liberal seria sua opção predileta. "Mas não há nada definido", inteirou.

Enquanto ainda não decide pela saída, Julierme tem acompanhado o trabalho da legenda na construção das candidaturas para a eleição. "Ele (Capitão Wagner) tem feito algumas reuniões com os colegas, está visitando algumas bases nos bairros de Fortaleza. Nesse ano de 2024 já está bem avançado na formatação da chapa e o trabalho está sendo desenvolvido, esse pré-trabalho, que na realidade é uma pré-campanha que ele já vem fazendo há um seis meses", detalhou.

Capitão Wagner
Legenda: Capitão Wagner estaria tocando trabalho junto aos membros da base há pelo menos seis meses.

De acordo com o entrevistado, a ideia é que os esforços sejam intensificados a partir de fevereiro, quando Wagner irá se despedir da Secretaria de Saúde de Maracanaú. Até aqui, a chapa majoritária só tem a "cabeça", representada pelo ex-deputado federal. 

O posto de vice-prefeito na seria algo não sabido entre os correligionários, pelo que disse Julierme. "Ele não falou para nós quem será o vice ou se algum partido irá compor a chapa. À priori ele está trabalhando formatação da chapa de vereadores do União Brasil". 

A aliança da direita também é defendida pelo vereador de Fortaleza, que considera a disputa acirrada como um parâmetro. "Acho que pode haver, ou não, uma composição dos partidos da direita para unir forças para a eleição. Seria interessante essa junção", finalizou.

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