Em novo momento do PDT, Sarto reforça articulação com vereadores para força-tarefa em ano eleitoral
Encontros com a base marcam início do último ano do mandato do gestor à frente da Prefeitura Municipal de Fortaleza
Tão logo iniciou-se o último ano do primeiro mandato do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), a agenda oficial se voltou para a realização de reuniões com os aliados que compõem a base de sustentação do governo na Câmara Municipal (CMFor). Os encontros estão sendo realizados desde a segunda-feira (8), no Paço Municipal, e marcam a largada do grupo político para a formulação de estratégias que viabilizem a reeleição do mandatário.
O primeiro momento foi protagonizado pelos vereadores do Partido Democrático Trabalhista (PDT), cuja bancada é a maior do Legislativo. Nas fotos publicadas foi possível ver à mesa os parlamentares Renan Colares - atualmente licenciado da CMFor -, Iraguassú Filho, Carlos Mesquita, Adail Júnior, Lúcio Bruno, Gardel Rolim, Raimundo Filho e Paulo Martins. Além deles, o vice-líder governista PP Cell (PSD) também marcou presença.
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Fortaleza tem uma relevância mais que simbólica para o diretório nacional do PDT, que hoje é presidido interinamente pelo deputado federal André Figueiredo, aliado de Sarto. A Capital cearense é a maior cidade brasileira sob o comando de um membro da legenda.
Dando seguimento aos compromissos, a segunda reunião com o chefe do Executivo, na terça-feira (9), teve uma composição mais diversa. Além de pedetistas, representados por Iraguassú Filho, Carlos Mesquita e Didi Mangueira, foram convidados o Professor Enilson (Cidadania), Luciano Girão (PP), Kátia Rodrigues (Cidadania), Veríssimo Freitas (Republicanos) e Consul do Povo (PSDB).
A terceira rodada de conversas, na quarta-feira (10), além de contar novamente com as presenças de Iraguassú, Mangueira e Mesquita, teve o comparecimento de Pedro Matos (PL), Germano He-Man (PMB), Marcelo Lemos (União), Ana do Aracapé (PL), Tia Francisca (PL) e Didi Maravilha (PMB). Na segunda-feira (15), um novo encontro deverá encerrar o roteiro.
'Reunião de demandas'
Nessa quarta, quando foi questionado sobre os assuntos abordados junto aos integrantes do seu grupo político, Sarto alegou que a pauta trouxe apenas pontos relacionados à gestão, se abstendo das outras temáticas de cunho político-partidário.
"A gente está conversando com a bancada de sustentação para entender qual é a intenção dos vereadores em termos de projetos para 2024, haja vista que esse pacote de R$ 2,2 bi é o maior valor de investimentos da história de Fortaleza", disse, se referindo a um conjunto de obras que será anunciado pela Prefeitura até o fim de janeiro.
Assim como em outros eventos públicos em que foi interpelado sobre a entrada na articulação visando a disputa eleitoral, o prefeito sustentou que só irá integrar essas discussões no momento oportuno para o lançamento da sua candidatura.
"A estratégia política é definida a partir do momento em que começa o jogo. E ele deve começar com a janela eleitoral, onde a movimentação tem um prazo para filiação partidária. Aí a gente vai saber quais serão os pré-candidatos, pelo menos a vereador. O de pré-candidato a prefeito a gente tem o prazo das convenções, que se estendem até 5 de agosto".
O líder do governo na CMFor, Iraguassú Filho, reforçou a versão de Sarto. "A pauta principal é exatamente a questão do diálogo relacionado a como pode melhorar as ações da prefeitura, a questão das entregas e dos serviços, programas, projetos e obras que devem ser lançadas", argumentou.
Porém, deu indícios de que houve tratativas eleitorais durante o bate-papo: "E saber também questões de partido". Segundo ele, o aprimoramento da relação entre os dois poderes também foi um aspecto levantado. Na aprovação de matérias e, consequentemente, para a disputa eleitoral, os governistas esperam contar com o apoio de nove partidos: PDT, PRD, PSDB, Cidadania, Agir, Avante, PMB, PMN e PP.
A ideia agora é ampliar essa base. Pelo que disse a liderança, um esforço dos dirigentes partidários está sendo feito neste sentido. Assim, os nomes dos convertidos à doutrina do trabalhismo devem ser divulgados entre o fim de janeiro e início de fevereiro.
Retorno do PSD e PSB?
Uma reaproximação com o Partido Socialista Brasileiro (PSB) - que compôs a coligação eleita em 2020 e acabou rompendo a aliança no ano passado - era almejada pelos pedetistas. Entretanto, as investidas esfriaram após o anúncio da filiação do senador Cid Gomes e do grupo de dissidentes que brigam na Justiça pela desfiliação do PDT. "Mas nada está descartado", ponderou Iraguassú Filho ao Diário do Nordeste.
O Partido Social Democrático (PSD) é outra sigla que está no raio de reaproximação do governo. Longe da administração Sarto desde agosto de 2023, quando entregou os cargos que ocupava, a legenda ainda tem vereadores que votam com a gestão e tem duas regionais, a II e a V, sob o comando de filiados.
Vice-líder governista e membro do PSD, PP Cell ainda alimenta a esperança do retorno da agremiação para o arco de alianças. "Tenho conversado muito com o deputado que sou aliado, Luiz Gastão, que é com quem ando junto. Na verdade, o PSD saiu, mas tá meio que neutro. Ainda não foi decidido nada. Tem muita água para rolar debaixo dessa ponte", salientou.
"Existe sim a esperança do PSD, de repente lá na ponta, caminhar com o PDT, com o prefeito Sarto. Hoje sou um aliado do Gastão, mas estou também aliado ao prefeito Sarto, estou na liderança dele e torço muito para haver esse alinhamento".
Também questionado sobre o tema das reuniões, o vice-líder confirmou a discussão eleitoral. "É início de ano, estamos começando os trabalhos, esse é um ano eleitoral e o prefeito Sarto precisa fortalecer a base dele, saber quem de fato está com ele. O motivo das reuniões é basicamente esse, definir ali quem são os nomes, como será a questão da formação de partidos. Está sendo conversado também sobre muitas obras", pontuou.
Presente na posse dos conselheiros tutelares na quarta-feira (10), Michel Lins, vereador licenciado e presidente do Partido Renovação Democrática (PRD) no Ceará, declarou que conversaria com Sarto para que pudesse haver um "alinhamento" e "ajustes" entre as partes.
"O Michel vereador, na gestão, tem declarado abertamente o apoio e o presidente do partido também tem a intenção de estar alinhado a todo esse grupo em Fortaleza. O grupo quer estar com o prefeito Sarto".
A reportagem procurou o PSD e o PSB em busca de uma posição dos partidos sobre as alegações dos entrevistados. No entanto, não houve nenhuma resposta até a publicação desta matéria. O conteúdo será atualizado assim que houver uma devolutiva.
Contexto de 2024
O cronograma de investimentos - a exemplo do pacote de realizações a ser anunciado e do orçamento municipal que excede os R$ 13,1 bilhões - deverá ser uma bandeira levantada em 2024, um trunfo para o convencimento do eleitorado em uma disputa eleitoral que já conta com pré-candidaturas ligadas ao nome do governador e da oposição à direita.
O momento que o PDT vive nesses primeiros dias do ano também é de tranquilidade para o grupo de Sarto, o qual é encabeçado localmente pelo ex-prefeito Roberto Cláudio. Após o encerramento do mandato de Cid Gomes no órgão estadual e da proximidade da despedida do seu agrupamento das fileiras do partido, o Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) homologou a comissão provisória que irá controlar a divisão partidária até julho.
Um ato, previsto para esta sexta-feira (12) irá formalizar a criação da instância validada pela Justiça Eleitoral. Ela será dirigida pelo ex-senador Flávio Torres. O presidente nacional licenciado e ministro da Previdência, Carlos Lupi, deverá estar presente no evento de formalização.