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Cinco pontos para entender as estratégias do novo momento do PDT Ceará

Enquanto dissidentes encaminham a saída da legenda, a ala pedetista ligada ao ex-ministro Ciro Gomes permanece na sigla sinalizando uma unidade de olho nas eleições do próximo ano

Escrito por Igor Cavalcante, Bruno Leite ,
Após embates com a ala ligada ao senador Cid Gomes, pedetistas ligados ao ex-ministro Ciro Gomes retomam o comando do PDT Ceará
Legenda: Após embates com a ala ligada ao senador Cid Gomes, pedetistas ligados ao ex-ministro Ciro Gomes retomam o comando do PDT Ceará
Foto: Thiago Gadelha

Após quase dois anos imerso em uma crise sem precedentes que esfacelou a sigla e a fez reduzir a representatividade nas prefeituras cearenses e no Congresso Nacional, o PDT Ceará passa por um novo momento. Os dissidentes encaminham a saída da legenda e os que se mantêm na sigla sinalizam por uma unidade de olho nas eleições do próximo ano.

A visita, nesta sexta-feira (12), do presidente nacional licenciado do PDT e ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, reforçou a estratégia da agremiação no Estado, que promete focar na reeleição do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), além de ampliar a base do mandatário na Câmara Municipal. Ao mesmo tempo, os dirigentes pedetistas tentam reconstruir a gestão da legenda, alvo de uma disputa política e judicial no ano passado.

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Para entender as estratégias do novo momento do PDT Ceará, o Diário do Nordeste ouviu dirigentes e mandatários do partido e aponta agora cinco estratégias da legenda para este ano.

Relação com os vereadores

Depois de sucessivas desidratações em sua base na Câmara de Fortaleza — inclusive com a saída do líder do PDT na Casa e do vice-líder do Governo da base de aliados no Legislativo —, Sarto iniciou o ano fazendo movimentos de reorganização da base. 

No último dia 8 de janeiro, ele reuniu oito dos dez vereadores do PDT e conversou sobre prioridades da gestão municipal para este ano. “É basicamente para iniciar o ano conversando com as bancadas, ver o que a gente pode melhorar na interlocução entre os dois poderes”, disse.

Vereadores de Fortaleza ao lado do prefeito da Capital, José Sarto
Legenda: Vereadores de Fortaleza ao lado do prefeito da Capital, José Sarto
Foto: Divulgação

Na terça-feira (9), uma nova leva de parlamentares de siglas como Cidadania, PP, Republicanos e do próprio PDT se reuniu com o chefe do Executivo. Na quarta-feira (10), Sarto encontrou integrantes do PMB, do PL e do União Brasil.

"A gente está conversando com a bancada de sustentação para entender qual é a intenção dos vereadores em termos de projetos para 2024, haja vista que esse pacote de R$ 2,2 bi é o maior valor de investimentos da história de Fortaleza", disse, se referindo a um conjunto de obras que será anunciado pela Prefeitura até o fim de janeiro.

Em entrevista ao Diário do Nordeste nesta sexta-feira, o presidente do PDT Fortaleza, o ex-prefeito Roberto Cláudio, reforçou o plano de ampliar a base pedetista na Câmara de Fortaleza. 

“Temos a maior bancada com 11 (vereadores). Nossa expectativa é, não só manter a bancada, mas manter de 14 a 15 vereadores, isso inclui a vinda de vereadores de outros partidos para o PDT. Não vou me antecipar porque o que está decidido não pode ser dito, mas vários nomes estão conversando conosco, são (nomes) já da base do prefeito Sarto”, adiantou o ex-prefeito.

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Segundo Roberto Cláudio, há inclusive uma comissão, presidida pelo vereador Gardel Rolim (PDT), que também comanda a Câmara de Fortaleza, para que os novos filiados sejam “bem acolhidos e aceitos". “Porque já estão dentro do partido”, reforçou.

“Estamos nesse diálogo de construção, vem novidades muito em breve de nomes de vereadores de mandato, alguns suplentes de vereadores e nossa ideia é eleger representantes de setores, de causas. Sarto está pensando em lançar um nome da educação, um nome que represente a luta da saúde, outro da assistência social, os movimentos... Vai ter muita novidade para a gente”, conclui o presidente do PDT Fortaleza.

Reeleição de Sarto é prioridade para o PDT

Apontada como prioridade por aliados, a candidatura à reeleição do prefeito José Sarto ainda é vista com cautela pelo próprio mandatário. Em entrevista ao Bom Dia Nordeste, da Verdinha FM, no último dia 29 de dezembro, ele respondeu sobre a possibilidade de disputar a eleição majoritária.

“Ainda é muito prematuro. Estamos em dezembro e há muitas urgências que nos interpõem nesse momento, é o medicamento no posto, é a qualidade da merenda escolar, é a rua sem lama, é a política habitacional, é o papel da casa. Estou muito envolvido na gestão dos grandessíssimos problemas de Fortaleza”, justificou. Até agora, a estratégia usada pelo pedetista tem sido se cacifar para a disputa ampliando a agenda de inaugurações e anúncio de obras, além de reforçar a agenda de eventos da Capital.

Nesta sexta-feira, o político voltou a comentar sobre os avanços da Capital sob sua gestão. “Fortaleza é o primeiro PIB do Nordeste, deixamos o segundo colocado a ver navios (...) Fortaleza também consolida-se como a capital do Réveillon, do turismo, tivemos um Réveillon que foi o maior do Brasil, o mais sustentável, sem incidentes. Tivemos as Férias na Praia de Iracema, vamos lançar hoje a abertura do Ciclo Carnavalesco, que também se consolida, e, em breve, vamos lançar mais um evento em Fortaleza”, reforçou.

Quem não tem a mesma cautela em lançar a pré-candidatura de Sarto é o presidente licenciado do PDT nacional, Carlos Lupi (PDT). Para o pedetista, o prefeito não só é o nome da sigla para a Capital como irá vencer já no primeiro turno.

"O Sarto, para mim, é o orgulho do PDT e, na minha opinião, ele está crescendo bem e tem tudo para ganhar essa eleição no primeiro turno", disse. 

"Fortaleza é a mais importante cidade que o PDT administra e vai ser a mais importante que nós vamos apoiar em termos não só de investimentos do Fundo Eleitoral, mas de 'prestigiamento' político"
Carlos Lupi
Ministro do Governo Lula e presidente nacional licenciado do PDT

Presidente do PDT Fortaleza, Roberto Cláudio também reforça o “consenso” municipal e nacional em torno do nome do atual prefeito da Capital.

“É um entendimento comum a todos nós, porque é uma gestão que, em primeiro lugar, tem dado resultados para a população. Temos muitos motivos para celebrar, como, por exemplo, ser a maior cobertura em tempo integral do Brasil, possuir o maior PIB do Nordeste atualmente, ser a capital que mais gera empregos no Norte e Nordeste. Além disso, hoje (Fortaleza) concentra 40% da economia do Estado, sendo uma capital financeiramente equilibrada, com um conjunto de investimentos que é recorde. Tudo isso dá condições naturais para a pré-candidatura à reeleição do prefeito Sarto”, argumentou.

Saída dos dissidentes e fim das disputas internas

O movimento que marca o novo momento do PDT Ceará é justamente o anúncio da debandada do grupo majoritário da sigla no Estado. Sob liderança do senador Cid Gomes (PDT), cerca de 40 prefeitos, mais de 20 parlamentares estaduais e federais, além de centenas de vereadores prometem deixar a sigla rumo ao PSB.

Permanece pedetista a ala ligada ao ex-ministro Ciro Gomes, ao ministro Carlos Lupi e aos presidentes André Figueiredo (nacional), Flávio Torres (estadual) e Roberto Cláudio (municipal), que comemoram o fim dos embates internos na legenda.

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O próprio Sarto diagnosticou o fim da crise na última quinta-feira (11), em entrevista ao Diário do Nordeste.  "O que o Brasil precisa hoje é pacificar, é divergir compreendendo as razões do outro para divergir. Cada um tem sua opinião. E o PDT hoje de Fortaleza está pacificado", garantiu.

Na passagem por Fortaleza, Lupi também comentou sobre a saída de correligionários, citando diretamente o senador Cid Gomes. "Ele fez a opção dele e eu tenho que respeitar. (...) Eu lamento, porque ele foi um bom senador do PDT", disse. 

O ministro disse que "ainda vai conversar" com o ex-governador. "Eu tenho um profundo carinho e respeito pelo senador Cid Gomes há muitos anos, eu tenho uma relação excelente com ele. (...) Ele é um homem sério, honrado e eu não vou mudar minha opinião, porque ele está saindo do partido", reforçou.

Em discurso alinhado aos colegas de partido, Flávio Torres mencionou a ala dissidente em seu primeiro pronunciamento como presidente da comissão provisória do PDT Ceará, empossada nesta sexta-feira. 

“Tivemos essa confusão, mas vamos virar essa página (...) Eu, quando olho para aquela porta, vejo um bocado de gente de costas saindo, só vejo o povo de costa, não tem ninguém olhando pra mim, estão saindo, que Deus os leve, cada qual que procure o seu caminho, e nós vamos tratar de fazer o nosso”
Flávio Torres
Presidente da comissão provisória do PDT Ceará

Em seguida, ele ressaltou que não tem “ranço” dos antigos aliados. “Eu quero ver se a gente faz essa reconstrução do partido, conversando com as pessoas, não tenho raiva de ninguém, quem quiser sair que saia, todo mundo tem direito de achar qual é o seu melhor espaço, onde se sente mais feliz”, ressaltou.

Por outro lado, ao mencionar os parlamentares federais e estaduais que manifestaram interesse em deixar a sigla, Torres foi mais incisivo e ressaltou que a sigla irá exigir o mandato.

“O problema dos outros é resolvido pelos outros, esse problema não é nosso. Eles têm que procurar um caminho, a legislação não permite. O mandato é o do partido, se eles quiserem deixar o mandato, é só renunciar e ir para onde eles quiserem (...) A legislação só permite que os deputados saiam do partido em 2026, eles fizeram uma solicitação, a meu ver, construída falsamente, porque nunca foram perseguidos”, concluiu.

De volta ao comando da ala cirista

A posse da nova comissão provisória do PDT Ceará, sob comando do ex-senador Flávio Torres, indica a nova mudança de rumo do partido. Até o fim do ano passado, o partido no Estado foi presidido pelo ex-senador Cid Gomes, que manteve-se no cargo sob liminar judicial.

Ao longo do ano passado, o partido passou por sucessivas trocas de comando e, sob a gestão do último presidente, viu cartas de anuência serem concedidas aos deputados federais e estaduais para que deixassem a sigla sem perder o mandato. Agora, o grupo ligado a Ciro Gomes retoma o comando e planeja “organizar a casa” o mais rápido possível.

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Em suas primeiras palavras como novo comandante do PDT Ceará, Flávio Torres brincou que pretende rapidamente passar o cargo a um sucessor. “Eu não vou ficar muito tempo não, viu? A gente tem uma tarefa… Fomos combinar uma comissão provisória, e o Lupi sabe que o Ceará é um dos poucos estados que nunca viveu com uma comissão provisória, sempre teve diretório”, ressaltou.

Torres disse ainda que, no acordo que firmou para assumir a função provisoriamente, estabeleceu que o partido estará preparado para uma convenção em março. Do encontro, será definido um novo diretório. “Um diretório pleno, representativo, com um maior número de pessoas”, reforçou. 

Pré-candidatura de Sarto à reeleição foi defendida por aliados nesta sexta-feira (12)
Legenda: Pré-candidatura de Sarto à reeleição foi defendida por aliados nesta sexta-feira (12)
Foto: Thiago Gadelha

“Quando eu olho para cada um de vocês vejo um ânimo de que a gente vai conseguir reconstruir esse partido onde foi extinto e reforçar onde ele está feito, porque a gente recebe um partido que não é pequeno. Nós temos o prefeito Fortaleza, candidato à reeleição, ele fez uma bela administração e ainda vai fazer mais, não terminou, não. Nós temos três deputados estaduais, estão aqui, a Câmara de Fortaleza, então o partido é um partido médio”, destacou.

Além de Torres, assumem funções na comissão a ex-presidente da sigla, Cristina Brasil, agora como vice-presidente, e o vereador de Fortaleza Iraguassú Teixeira Filho, como tesoureiro.

Possibilidades de aliança para 2024

Ao mesmo tempo em que busca ampliar a quantidade de vereadores pedetistas, uma das estratégias da legenda é atrair novas siglas aliadas. No ano passado, o prefeito José Sarto sofreu dois reveses na gestão com a saída do PSD e do PSB da base municipal.

A primeira sigla firmou aliança com a gestão estadual, sob comando de Elmano de Freitas, já a segunda passou a ser comandada pelo ex-deputado Eudoro Santana, pai do ministro Camilo Santana. O PSB ainda será o destino da ala dissidente do PDT ligada ao senador Cid Gomes.

Contudo, para alguns aliados do prefeito é possível reverter parte das perdas, que refletiram diretamente em uma ampliação de recursos e de tempo de TV e rádio para a candidatura à reeleição de Sarto.

Em passagem pelo Ceará, Lupi cumpriu agendas ao lado do prefeito José Sarto
Legenda: Em passagem pelo Ceará, Lupi cumpriu agendas ao lado do prefeito José Sarto
Foto: Thiago Gadelha

Para o presidente do PDT Fortaleza, Roberto Cláudio, a sinalização do ministro Carlos Lupi de que a prioridade da sigla é reeleger o prefeito da Capital cearense favorece a possibilidade de novas alianças.

“O Domingos Filho já disse que o PSD está na base estadual, inclusive já anunciou apoio à candidatura do PT aqui, mas a gente tem mantido essas conversas. Tenho conversado com todo mundo para deixar as portas abertas e avaliar o que, ao final, vai ser possível em termos de aliança”
Roberto Cláudio
Presidente do PDT Fortaleza

Vice-líder governista e membro do PSD, PP Cell ainda alimenta a esperança do retorno da agremiação para o arco de alianças. "Tenho conversado muito com o deputado que sou aliado, Luiz Gastão, que é com quem ando junto. Na verdade, o PSD saiu, mas tá meio que neutro. Ainda não foi decidido nada. Tem muita água para rolar debaixo dessa ponte", salientou.

"Existe sim a esperança do PSD, de repente lá na ponta, caminhar com o PDT, com o prefeito Sarto. Hoje sou um aliado do Gastão, mas estou também aliado ao prefeito Sarto, estou na liderança dele e torço muito para haver esse alinhamento", reforçou.

Uma reaproximação com o PSB também era almejada pelos pedetistas. Contudo, as investidas esfriaram após o anúncio da filiação do senador Cid Gomes e do grupo de dissidentes que brigam na Justiça pela desfiliação do PDT. "Mas nada está descartado", ponderou Iraguassú Filho ao Diário do Nordeste nesta semana.

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