Cinco pontos para entender as estratégias do novo momento do PDT Ceará
Enquanto dissidentes encaminham a saída da legenda, a ala pedetista ligada ao ex-ministro Ciro Gomes permanece na sigla sinalizando uma unidade de olho nas eleições do próximo ano
Após quase dois anos imerso em uma crise sem precedentes que esfacelou a sigla e a fez reduzir a representatividade nas prefeituras cearenses e no Congresso Nacional, o PDT Ceará passa por um novo momento. Os dissidentes encaminham a saída da legenda e os que se mantêm na sigla sinalizam por uma unidade de olho nas eleições do próximo ano.
A visita, nesta sexta-feira (12), do presidente nacional licenciado do PDT e ministro da Previdência Social, Carlos Lupi, reforçou a estratégia da agremiação no Estado, que promete focar na reeleição do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), além de ampliar a base do mandatário na Câmara Municipal. Ao mesmo tempo, os dirigentes pedetistas tentam reconstruir a gestão da legenda, alvo de uma disputa política e judicial no ano passado.
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Para entender as estratégias do novo momento do PDT Ceará, o Diário do Nordeste ouviu dirigentes e mandatários do partido e aponta agora cinco estratégias da legenda para este ano.
Relação com os vereadores
Depois de sucessivas desidratações em sua base na Câmara de Fortaleza — inclusive com a saída do líder do PDT na Casa e do vice-líder do Governo da base de aliados no Legislativo —, Sarto iniciou o ano fazendo movimentos de reorganização da base.
No último dia 8 de janeiro, ele reuniu oito dos dez vereadores do PDT e conversou sobre prioridades da gestão municipal para este ano. “É basicamente para iniciar o ano conversando com as bancadas, ver o que a gente pode melhorar na interlocução entre os dois poderes”, disse.
Na terça-feira (9), uma nova leva de parlamentares de siglas como Cidadania, PP, Republicanos e do próprio PDT se reuniu com o chefe do Executivo. Na quarta-feira (10), Sarto encontrou integrantes do PMB, do PL e do União Brasil.
"A gente está conversando com a bancada de sustentação para entender qual é a intenção dos vereadores em termos de projetos para 2024, haja vista que esse pacote de R$ 2,2 bi é o maior valor de investimentos da história de Fortaleza", disse, se referindo a um conjunto de obras que será anunciado pela Prefeitura até o fim de janeiro.
Em entrevista ao Diário do Nordeste nesta sexta-feira, o presidente do PDT Fortaleza, o ex-prefeito Roberto Cláudio, reforçou o plano de ampliar a base pedetista na Câmara de Fortaleza.
“Temos a maior bancada com 11 (vereadores). Nossa expectativa é, não só manter a bancada, mas manter de 14 a 15 vereadores, isso inclui a vinda de vereadores de outros partidos para o PDT. Não vou me antecipar porque o que está decidido não pode ser dito, mas vários nomes estão conversando conosco, são (nomes) já da base do prefeito Sarto”, adiantou o ex-prefeito.
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Segundo Roberto Cláudio, há inclusive uma comissão, presidida pelo vereador Gardel Rolim (PDT), que também comanda a Câmara de Fortaleza, para que os novos filiados sejam “bem acolhidos e aceitos". “Porque já estão dentro do partido”, reforçou.
“Estamos nesse diálogo de construção, vem novidades muito em breve de nomes de vereadores de mandato, alguns suplentes de vereadores e nossa ideia é eleger representantes de setores, de causas. Sarto está pensando em lançar um nome da educação, um nome que represente a luta da saúde, outro da assistência social, os movimentos... Vai ter muita novidade para a gente”, conclui o presidente do PDT Fortaleza.
Reeleição de Sarto é prioridade para o PDT
Apontada como prioridade por aliados, a candidatura à reeleição do prefeito José Sarto ainda é vista com cautela pelo próprio mandatário. Em entrevista ao Bom Dia Nordeste, da Verdinha FM, no último dia 29 de dezembro, ele respondeu sobre a possibilidade de disputar a eleição majoritária.
“Ainda é muito prematuro. Estamos em dezembro e há muitas urgências que nos interpõem nesse momento, é o medicamento no posto, é a qualidade da merenda escolar, é a rua sem lama, é a política habitacional, é o papel da casa. Estou muito envolvido na gestão dos grandessíssimos problemas de Fortaleza”, justificou. Até agora, a estratégia usada pelo pedetista tem sido se cacifar para a disputa ampliando a agenda de inaugurações e anúncio de obras, além de reforçar a agenda de eventos da Capital.
Nesta sexta-feira, o político voltou a comentar sobre os avanços da Capital sob sua gestão. “Fortaleza é o primeiro PIB do Nordeste, deixamos o segundo colocado a ver navios (...) Fortaleza também consolida-se como a capital do Réveillon, do turismo, tivemos um Réveillon que foi o maior do Brasil, o mais sustentável, sem incidentes. Tivemos as Férias na Praia de Iracema, vamos lançar hoje a abertura do Ciclo Carnavalesco, que também se consolida, e, em breve, vamos lançar mais um evento em Fortaleza”, reforçou.
Quem não tem a mesma cautela em lançar a pré-candidatura de Sarto é o presidente licenciado do PDT nacional, Carlos Lupi (PDT). Para o pedetista, o prefeito não só é o nome da sigla para a Capital como irá vencer já no primeiro turno.
"O Sarto, para mim, é o orgulho do PDT e, na minha opinião, ele está crescendo bem e tem tudo para ganhar essa eleição no primeiro turno", disse.
"Fortaleza é a mais importante cidade que o PDT administra e vai ser a mais importante que nós vamos apoiar em termos não só de investimentos do Fundo Eleitoral, mas de 'prestigiamento' político"
Presidente do PDT Fortaleza, Roberto Cláudio também reforça o “consenso” municipal e nacional em torno do nome do atual prefeito da Capital.
“É um entendimento comum a todos nós, porque é uma gestão que, em primeiro lugar, tem dado resultados para a população. Temos muitos motivos para celebrar, como, por exemplo, ser a maior cobertura em tempo integral do Brasil, possuir o maior PIB do Nordeste atualmente, ser a capital que mais gera empregos no Norte e Nordeste. Além disso, hoje (Fortaleza) concentra 40% da economia do Estado, sendo uma capital financeiramente equilibrada, com um conjunto de investimentos que é recorde. Tudo isso dá condições naturais para a pré-candidatura à reeleição do prefeito Sarto”, argumentou.
Saída dos dissidentes e fim das disputas internas
O movimento que marca o novo momento do PDT Ceará é justamente o anúncio da debandada do grupo majoritário da sigla no Estado. Sob liderança do senador Cid Gomes (PDT), cerca de 40 prefeitos, mais de 20 parlamentares estaduais e federais, além de centenas de vereadores prometem deixar a sigla rumo ao PSB.
Permanece pedetista a ala ligada ao ex-ministro Ciro Gomes, ao ministro Carlos Lupi e aos presidentes André Figueiredo (nacional), Flávio Torres (estadual) e Roberto Cláudio (municipal), que comemoram o fim dos embates internos na legenda.
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O próprio Sarto diagnosticou o fim da crise na última quinta-feira (11), em entrevista ao Diário do Nordeste. "O que o Brasil precisa hoje é pacificar, é divergir compreendendo as razões do outro para divergir. Cada um tem sua opinião. E o PDT hoje de Fortaleza está pacificado", garantiu.
Na passagem por Fortaleza, Lupi também comentou sobre a saída de correligionários, citando diretamente o senador Cid Gomes. "Ele fez a opção dele e eu tenho que respeitar. (...) Eu lamento, porque ele foi um bom senador do PDT", disse.
O ministro disse que "ainda vai conversar" com o ex-governador. "Eu tenho um profundo carinho e respeito pelo senador Cid Gomes há muitos anos, eu tenho uma relação excelente com ele. (...) Ele é um homem sério, honrado e eu não vou mudar minha opinião, porque ele está saindo do partido", reforçou.
Em discurso alinhado aos colegas de partido, Flávio Torres mencionou a ala dissidente em seu primeiro pronunciamento como presidente da comissão provisória do PDT Ceará, empossada nesta sexta-feira.
“Tivemos essa confusão, mas vamos virar essa página (...) Eu, quando olho para aquela porta, vejo um bocado de gente de costas saindo, só vejo o povo de costa, não tem ninguém olhando pra mim, estão saindo, que Deus os leve, cada qual que procure o seu caminho, e nós vamos tratar de fazer o nosso”
Em seguida, ele ressaltou que não tem “ranço” dos antigos aliados. “Eu quero ver se a gente faz essa reconstrução do partido, conversando com as pessoas, não tenho raiva de ninguém, quem quiser sair que saia, todo mundo tem direito de achar qual é o seu melhor espaço, onde se sente mais feliz”, ressaltou.
Por outro lado, ao mencionar os parlamentares federais e estaduais que manifestaram interesse em deixar a sigla, Torres foi mais incisivo e ressaltou que a sigla irá exigir o mandato.
“O problema dos outros é resolvido pelos outros, esse problema não é nosso. Eles têm que procurar um caminho, a legislação não permite. O mandato é o do partido, se eles quiserem deixar o mandato, é só renunciar e ir para onde eles quiserem (...) A legislação só permite que os deputados saiam do partido em 2026, eles fizeram uma solicitação, a meu ver, construída falsamente, porque nunca foram perseguidos”, concluiu.
De volta ao comando da ala cirista
A posse da nova comissão provisória do PDT Ceará, sob comando do ex-senador Flávio Torres, indica a nova mudança de rumo do partido. Até o fim do ano passado, o partido no Estado foi presidido pelo ex-senador Cid Gomes, que manteve-se no cargo sob liminar judicial.
Ao longo do ano passado, o partido passou por sucessivas trocas de comando e, sob a gestão do último presidente, viu cartas de anuência serem concedidas aos deputados federais e estaduais para que deixassem a sigla sem perder o mandato. Agora, o grupo ligado a Ciro Gomes retoma o comando e planeja “organizar a casa” o mais rápido possível.
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Em suas primeiras palavras como novo comandante do PDT Ceará, Flávio Torres brincou que pretende rapidamente passar o cargo a um sucessor. “Eu não vou ficar muito tempo não, viu? A gente tem uma tarefa… Fomos combinar uma comissão provisória, e o Lupi sabe que o Ceará é um dos poucos estados que nunca viveu com uma comissão provisória, sempre teve diretório”, ressaltou.
Torres disse ainda que, no acordo que firmou para assumir a função provisoriamente, estabeleceu que o partido estará preparado para uma convenção em março. Do encontro, será definido um novo diretório. “Um diretório pleno, representativo, com um maior número de pessoas”, reforçou.
“Quando eu olho para cada um de vocês vejo um ânimo de que a gente vai conseguir reconstruir esse partido onde foi extinto e reforçar onde ele está feito, porque a gente recebe um partido que não é pequeno. Nós temos o prefeito Fortaleza, candidato à reeleição, ele fez uma bela administração e ainda vai fazer mais, não terminou, não. Nós temos três deputados estaduais, estão aqui, a Câmara de Fortaleza, então o partido é um partido médio”, destacou.
Além de Torres, assumem funções na comissão a ex-presidente da sigla, Cristina Brasil, agora como vice-presidente, e o vereador de Fortaleza Iraguassú Teixeira Filho, como tesoureiro.
Possibilidades de aliança para 2024
Ao mesmo tempo em que busca ampliar a quantidade de vereadores pedetistas, uma das estratégias da legenda é atrair novas siglas aliadas. No ano passado, o prefeito José Sarto sofreu dois reveses na gestão com a saída do PSD e do PSB da base municipal.
A primeira sigla firmou aliança com a gestão estadual, sob comando de Elmano de Freitas, já a segunda passou a ser comandada pelo ex-deputado Eudoro Santana, pai do ministro Camilo Santana. O PSB ainda será o destino da ala dissidente do PDT ligada ao senador Cid Gomes.
Contudo, para alguns aliados do prefeito é possível reverter parte das perdas, que refletiram diretamente em uma ampliação de recursos e de tempo de TV e rádio para a candidatura à reeleição de Sarto.
Para o presidente do PDT Fortaleza, Roberto Cláudio, a sinalização do ministro Carlos Lupi de que a prioridade da sigla é reeleger o prefeito da Capital cearense favorece a possibilidade de novas alianças.
“O Domingos Filho já disse que o PSD está na base estadual, inclusive já anunciou apoio à candidatura do PT aqui, mas a gente tem mantido essas conversas. Tenho conversado com todo mundo para deixar as portas abertas e avaliar o que, ao final, vai ser possível em termos de aliança”
Vice-líder governista e membro do PSD, PP Cell ainda alimenta a esperança do retorno da agremiação para o arco de alianças. "Tenho conversado muito com o deputado que sou aliado, Luiz Gastão, que é com quem ando junto. Na verdade, o PSD saiu, mas tá meio que neutro. Ainda não foi decidido nada. Tem muita água para rolar debaixo dessa ponte", salientou.
"Existe sim a esperança do PSD, de repente lá na ponta, caminhar com o PDT, com o prefeito Sarto. Hoje sou um aliado do Gastão, mas estou também aliado ao prefeito Sarto, estou na liderança dele e torço muito para haver esse alinhamento", reforçou.
Uma reaproximação com o PSB também era almejada pelos pedetistas. Contudo, as investidas esfriaram após o anúncio da filiação do senador Cid Gomes e do grupo de dissidentes que brigam na Justiça pela desfiliação do PDT. "Mas nada está descartado", ponderou Iraguassú Filho ao Diário do Nordeste nesta semana.