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Cinco pontos para entender a crise no PL do Ceará que culminou na saída de Acilon e guinada política

Em menos de 24 horas, partido teve renúncia de presidente, apresentação de novo nome e anúncio de pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
Carmelo, Bolsonaro e André Fernandes
Legenda: Carmelo e André Fernandes foram oficializados como presidente do diretório estadual do PL Ceará e pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza em 2024, respectivamente
Foto: Thiago Gadelha

A crise interna no PL Ceará acabou eclodindo nesta semana. Abrigo de bolsonaristas desde o fim de 2021, o comando da legenda vinha sendo alvo de disputa desde a eleição do ano passado. Entre a noite de terça-feira (21) e a tarde desta quarta-feira (22), a "queda de braço" entre lideranças antigas e novas parece ter ganhado um novo capítulo, com a renúncia do então dirigente, a promoção de um aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) para presidência da agremiação estadual e o anúncio de uma pré-candidatura à Prefeitura de Fortaleza em 2024. 

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Prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves (PL) anunciou, na noite de terça (21), a saída da presidência da agremiação cearense por "divergências de entendimento com outros membros da sigla". Ele liderava o partido desde janeiro de 2019. Após enviar carta de renúncia, parlamentares da legenda já falavam, nos bastidores, que um acordo estava sendo costurado para que o deputado estadual Carmelo Neto (PL) assumisse o comando a nível regional.

Em troca, Carmelo abriria mão de disputar internamente com o deputado federal André Fernandes (PL) a indicação para uma candidatura pela legenda na Capital no ano que vem. Assim, a queda de braço entre os aliados de Bolsonaro estaria sanada na agremiação. 

Acilon Gonçalves
Legenda: Ao anunciar a renúncia, Acilon não mencionou nomes de correligionários que têm conflito, mas disse que continuará no partido
Foto: Fabiane de Paula

O acordo foi oficializado pelo presidente nacional do PL, Valdemar Costa Neto, na tarde de quarta. Para o anúncio, ele reuniu os parlamentares federais da legenda em Brasília numa demonstração de pacificação. Pelas redes sociais, declarou Carmelo como novo presidente do PL Ceará e André Fernandes como pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza. 

O Diário do Nordeste listou cinco pontos que explicam melhor a eclosão da crise no PL até a troca de comando do partido. Confira:

Impacto da entrada de Bolsonaro 

Com a filiação de Bolsonaro em novembro de 2021 ao partido, vários apoiadores do ex-presidente se filiaram à legenda no Ceará com a expectativa de disputar a eleição de 2022. Foi o caso de André Fernandes, à época deputado estadual; Carmelo Neto, então vereador; do Pastor Alcides Fernandes (pai de André Fernandes); e Priscila Costa, também vereadora.  

O desembarque de bolsonaristas no PL Ceará colocaram o então presidente da legenda no Ceará numa situação complicada no Estado. Liderança pragmática, Acilon era aliado do Governo do Ceará, mas teve que sair do arco de aliança por conta da posição do partido. 

Foi na pré-campanha eleitoral de 2022, inclusive, que as tensões internas começaram. Aliados do presidente Jair Bolsonaro investiram para tomar o comando da sigla, mas sem sucesso. À frente tinha como cabeças os deputados André Fernandes, Dra. Silvana, Dr. Jaziel e o então vereador Carmelo Neto. Eles defendiam, ainda, o lançamento de uma candidatura própria ao Governo do Ceará para fazer frente ao grupo governista. 

Bolsonaro
Legenda: Até esta quarta, Carmelo e André Fernandes disputavam internamente a pré-candidatura para a Prefeitura de Fortaleza em 2024
Foto: Thiago Gadelha

No entanto, o partido acabou apoiando a candidatura de Capitão Wagner (União) e Valdemar Costa Neto reconduziu Acilon ao comando da sigla.  

Apesar de ter conseguido aumentar o número da bancada estadual e federal do PL, o rompimento com o grupo governista, que não foi retomado nem após as eleições, também trouxe perdas ao partido. 

Impasse na Câmara Municipal de Fortaleza 

Apesar de ter mantido o comando do PL no Ceará, Acilon continuou enfrentando embates com a ala bolsonarista, principalmente com correligionários mais próximos de André Fernandes. Um deles foi na Câmara Municipal de Fortaleza.  

Com a migração de parlamentares aliados ao ex-presidente para a legenda, a bancada do PL na Câmara aumentou, aglutinando lideranças pró e contra a gestão do prefeito José Sarto (PDT). Em 2020, foram eleitos dois vereadores pela sigla. Em 2022, após a janela partidária, o partido tinha 6 vereadores ativos. 

A nível de Fortaleza, no entanto, a legenda mantém aproximação com a gestão municipal. Por conta disso, novas tensões começaram a surgir para saber com quem ficaria a liderança do PL na Câmara, já que a ala bolsonarista fazia oposição ao prefeito.  

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Após pressões, Acilon acabou escolhendo o vereador Pedro Matos (PL) para a liderança. 

Na sessão desta quarta-feira, a crise interna voltou a ser evidenciada na Casa. O vereador Bruno Mesquita (PL) declarou, na tribuna, que pretende deixar a legenda após a saída de Acilon. Apesar de desejar sorte a Carmelo Neto e destacar que ele é uma liderança em ascensão, Bruno frisou que "não confia em quem vai assumir o partido". 

Ao Diário do Nordeste, ele reiterou a posição e exaltou a política desenvolvida por Acilon, que emplacou prefeitos em cidades importantes como Aquiraz, cujo gestor é Bruno Gonçalves (PL), filho de Acilon. Bruno Mesquita se filiou ao PL em março deste ano, após convite de Acilon e do deputado federal Júnior Mano, conforme o parlamentar. O vereador pode mudar de partido sem perder o mandato porque o Pros, legenda pela qual foi eleito, se fundiu ao Solidariedade.

Bruno Mesquita
Legenda: O vereador Bruno Mesquita se filiou ao PL em 2023, após convite de Acilon e Júnior Mano, segundo o parlamentar
Foto: Divulgação/Cmfor

"Eu vim para o partido não foi por nenhuma ligação política nacional, foi por ligação com o prefeito Acilon e com o deputado Junior Mano, que me convidaram para o partido. Com o Acilon saindo da presidência, eu acho que brevemente eu estarei saindo do PL também", acrescentou. 

Ana do Aracapé (PL) também ressaltou que fica, com a saída de Acilon, "inviável" a continuidade na legenda para a eleição de 2024 

"Me reunirei com Acilon, entendendo que, sem sua presença na direção do PL/CE, resta inviável minha permanência no partido para o pleito de 2024", destacou. 

Já Tia Francisca (PL) e Pedro Matos (PL) evitaram bater o martelo sobre a possibilidade de saída ou permanência no partido. 

"Estamos analisando o cenário, ainda é muito cedo para sobre isso", disse Tia Francisca, por meio da assessoria, ao Diário do Nordeste. Já Pedro Matos declarou que vai conversar com Carmelo, com Acilon e Júnio Mano.

Inspetor Alberto, por sua vez, informou que a indicação de Carmelo para o comando do PL Ceará é importante para "estabilizar a legenda". Ele, inclusive, assegurou permanência na sigla. 

Cassação de deputados

Um dos episódios que gerou desgaste para Acilon com a outra ala do PL no Ceará e em Brasília foi a cassação da chapa de deputados estaduais da sigla pela Justiça Eleitoral.  

Em decisão histórica, o pleno do Tribunal Regional Eleitoral do Ceará (TRE-CE) cassou, em maio deste ano, por 4 votos a 3, toda a chapa de deputados estaduais do PL – eleitos e suplentes – por fraude à cota de gênero nas eleições de 2022. Essa foi a primeira decisão do tipo envolvendo uma chapa de postulantes à Assembleia Legislativa. No dia 9 de novembro, a Corte concluiu o julgamento, confirmando a decisão inicial.  

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Assim, os mandatos de quatro parlamentares eleitos pelo partido estão em risco. São eles: Pastor Alcides Fernandes, Dra. Silvana, Marta Gonçalves e Carmelo Neto – deputado estadual mais votado do Estado e, agora, presidente do partido no Ceará. Como esgotaram os recursos no TRE-CE, eles só podem recorrer ao TSE. Apesar disso, eles só perdem o mandato se o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) confirmar a decisão da Corte Eleitoral cearense. Ou seja, quando houver trânsito em julgado. 

Com exceção de Marta Gonçalves, que é esposa de Acilon, os demais parlamentares chegaram a indicar que Acilon deveria também responder ao processo, já que ele era o responsável por preencher a lista de candidatos. 

Duas candidatas, Maria Meirianne de Oliveira e Marlúcia Barroso Bento, alegaram que não tinham consentido o registro de candidatura para deputada estadual. Elas afirmaram, ainda, que os documentos apresentados pelo partido à Justiça Eleitoral eram de 2020, quando ambas concorreram ao cargo de vereadora de Fortaleza.  

Expulsão de Yury do Paredão 

A saída do deputado federal Yury do Paredão do PL neste ano também foi outro foco de crise interna entre o grupo mais ligado a Acilon e o próximo de Bolsonaro. Passada as eleições de 2022, o parlamentar se aproximou do grupo governista no Ceará e em Brasília. 

Em agenda com o Governo Federal em Pernambuco, ele fez o "L" ao lado de ministro de Lula. O caso foi o estopim para Yury dentro do partido, que já vinha demonstrando insatisfações com a cúpula de Brasília e com alguns parlamentares do Ceará.  

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Quando Lula visitou o Estado, em maio deste ano, Yury participou da recepção ao presidente. À época, ele chegou a postar fotos ao lado do chefe do Planalto e de outras lideranças petistas, como o governador Elmano de Freitas, o deputado federal José Guimarães e o ministro da Educação, Camilo Santana.  

Logo após o episódio, André Fernandes chegou a solicitar a expulsão do colega de legenda. O ato acabou sendo confirmado em julho, após Yury fazer o "L". No início deste mês, ele anunciou que irá se filiar ao MDB, partido aliado do Governo Lula e da gestão Elmano. 

Renúncia de Acilon e crise nas prefeituras 

A expulsão de Yury do Paredão foi uma das perdas geradas para o partido com o distanciamento do Governo Federal. No Ceará, apesar de ter conseguido aumentar o número da bancada estadual e federal, o rompimento com o grupo governista, que não foi retomado nem após as eleições, acabou trazendo perdas para o PL.  

O rompimento, no entanto, não era defendido por Acilon, que tem uma política mais pragmática. Ele, inclusive, continuou aliado da gestão de Fortaleza e, na Prefeitura de Eusébio, mantinha diálogo aberto com o Governo Estadual. 

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Todavia, dos 13 prefeitos eleitos pelo PL em 2020, apenas quatro continuam na legenda. São eles: Acilon Gonçalves (Eusébio), Bruno Gonçalves (Aquiraz), Ednardo Filho (Miraíma) e Giordanna Mano (Nova Russas). 

Outros sete migraram para partidos da base governista — tendo quatro ido para o PSB, dois para o PT, uma para o PP e outro para o Podemos — e um faleceu. São eles: 

  • Prefeito de Baturité, Herbelh Mota (Podemos); 
  • Prefeito de Milhã, Alan Macedo (PSB); 
  • Prefeito de Mulungu, Robert Viana (PSB); 
  • Prefeito de Santana do Acaraú, Meu Deus (PSB); 
  • Prefeito de Pindoretama, Dedé (PSB);
  • Prefeito de Cariús, Wilamar Palácio (PT); 
  • Prefeito de Choró, Marcondes Jucá (PT); 
  • Prefeita de Beberibe, Michele Queiroz (PP)
  • Prefeito eleito de Itaitinga, Paulo César, que faleceu. 

A renúncia de Acilon do comando do partido no Estado também tem como pano de fundo a disputa por prefeituras. Nos bastidores, correligionários da legenda apontam disputa por diretórios municipais da legenda entre Acilon e os deputados federais Dr. Jaziel e André Fernandes — este último, inclusive, que passou a comandar o PL Fortaleza desde junho após indicação da Executiva Nacional — de olho na eleição do ano que vem. Alguns dos municípios são Caucaia, Itapajé e Juazeiro do Norte. 

Agora, com Carmelo Neto no comando do partido, ele que deve dar as cartas da distribuição dos recursos do fundo eleitoral e fundo partidário. Em 2024, a legenda deve ter a maior fatia do Fundo Eleitoral, por eleger a maior quantidade de parlamentares para o Congresso em 2022. 

Filho de Acilon e prefeito de Aquiraz, Bruno Gonçalves (PL), informou, por meio da assessoria, que vai acompanhar seu pai no partido que ele indicar. A reportagem tentou contato com a assessoria dos demais prefeitos da legenda e aguarda retorno.

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