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Qual o papel de Acilon Gonçalves na movimentação política do Ceará

A série Influências Políticas, do Diário do Nordeste, apresenta como diferentes lideranças atuam na estratégia eleitoral do Estado em 2022

Escrito por Igor Cavalcante , igor.cavalcante@svm.com.br
Prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves
Legenda: Prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves
Foto: Lucas de Menezes

Uma das principais lideranças da Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), o prefeito de Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), tem comandado articulações que o fazem ser apontado por aliados e adversários como um possível “fiel da balança” no pleito deste ano. Chefiando ou tendo correligionários em ao menos seis prefeituras no entorno da Capital – e oito em outras regiões do Estado –, o político é cortejado por lideranças da base governista e também da oposição.

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O mandatário, que até pouco tempo era considerado aliado de primeira ordem do grupo Ferreira Gomes, é um dos raros políticos cearenses que consegue ter em seu plantel de aliados petistas e bolsonaristas. Desde o fim do ano passado, quando tornou-se correligionário do presidente Jair Bolsonaro (PL), o cearense se viu emparedado e teve sua liderança questionada até por colegas de sigla no Estado. 

No entanto, a três meses das eleições, o político já ganha elogios de bolsonaristas cearenses enquanto é disputado pelo senador Cid Gomes (PDT), líder das articulações governistas, e pelo deputado federal Capitão Wagner (União Brasil), principal nome da oposição. 

Para entender qual é o papel de Acilon Gonçalves na movimentação político-eleitoral no Ceará, o Diário do Nordeste ouviu analistas políticos, lideranças partidárias e aliados do prefeito como parte da série Influências Políticas.

Tropa de prefeitos

Em termos quantitativos, o que credencia Acilon como essa liderança forte no Ceará é justamente o poder de influência nos municípios cearenses, aponta o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC).

“Ele é uma liderança muito importante por ter um poder de influência sobre, praticamente, 15 prefeituras, isso não é pouco, faz dele um player importante. Além disso, é uma figura que está liderando o PL no Ceará, o partido de Bolsonaro, essa liderança garante a ele o poder de distribuir os recursos eleitorais”
Cleyton Monte
Cientista política

Nas eleições de 2020, além de conseguir ser reeleito como prefeito do Eusébio, Acilon emplacou integrantes de seu grupo político em municípios vizinhos. Em Aquiraz, Bruno Gonçalves conseguiu ser eleito como chefe do Executivo municipal. O político é filho de Acilon.

Os prefeitos de Itaitinga, Paulo César Feitosa; Beberibe, Michele Queiroz; e Pindoretama, Dedé Soldado, também são aliados do prefeito de Eusébio. Além desse grupo, o PL ainda elegeu mandatários para as prefeituras de Baturité, Cariús, Choró, Milhã, Miraíma, Mulungu, Nova Russas e Santana do Acaraú. Ao todo, no pleito de 2018, esses municípios somaram quase 390 mil eleitores.

Prefeito Bruno Gonçalves, deputado Júnior Mano, prefeito Acilon Gonçalves e ex-vereador Marta Gonçalves
Legenda: Prefeito Bruno Gonçalves, deputado Júnior Mano, prefeito Acilon Gonçalves e ex-vereador Marta Gonçalves
Foto: Divulgação

Para Capitão Wagner, esses números enchem os olhos daqueles que, como ele, querem se aliar a Acilon. 

“Além de presidir um partido extremamente importante, o Acilon traz consigo a experiência de uma gestão reconhecida: o melhor IDH do Ceará está no Eusébio. Além disso, ele tem uma grande força política nas prefeituras que são vinculadas a ele, é um grupo político muito consolidado, forte e leal”
Capitão Wagner (União Brasil)
Deputado federal e pré-candidato ao Governo do Ceará

“Tem ainda experiência de gestão como secretário, vereador e deputado, tem força política, experiência de gestão, partido importante, então é um aliado que é cobiçado por todas as forças políticas do Estado e terá um peso político muito importante”, conclui Wagner.

Um passado que explica o presente

Assessor de Acilon Gonçalves no fim dos anos 1990 e início dos anos 2000, o consultor político Luiz Cláudio Ferreira Barbosa relembra que ainda na primeira metade da carreira política, o atual prefeito do Eusébio já dava sinais do poder de influência que teria nos municípios da Região Metropolitana de Fortaleza.

Em sua segunda disputa eleitoral, em 1992, Acilon foi eleito vereador de Fortaleza. O político só deixou o legislativo municipal em 1998, quando conseguiu ser eleito para a AL-CE.

“Ele compreende logo que é uma figura forte na Grande Fortaleza, principalmente na Capital e em Eusébio. Nascido em Aurora, mas com colégio eleitoral na Região Metropolitana, ele já se projetava, nessa época, como liderança estadual”, conta. 

“Ainda em 2001, ele vai para o PSB e apoia o grupo que lançou Anthony Garotinho como candidato à Presidência. Isso é importante para entendê-lo agora, o Acilon sempre se adequou aos projetos nacionais e locais. Algumas pessoas acham que esse processo dele é recente, mas tomando como princípio o rearranjo nacional, ele já fez esses movimentos há 20 anos”
Luiz Cláudio Ferreira Barbosa
Consultor político

Em sua trajetória política, Acilon foi eleito prefeito do Eusébio em 2004 e reeleito em 2008. O mandatário, à época, indicou o sucessor, Arimatéa Júnior, e retornou ao cargo quatro anos depois.

De acordo com Luiz Cláudio, nos anos seguintes, a influência de Acilon – tão disputada no pleito deste ano – é capilarizada pelos municípios próximos ao Eusébio, chegando ao auge da influência em 2020, quando ele consegue eleger aliados em cinco municípios. 

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Paralelamente, o político também expande a força partidária – até então abrigada no Patriota – para o Legislativo Federal, elegendo o deputado Júnior Mano (PL). No ano seguinte, Acilon e seu grupo político desembarcam no PL, que tinha em seus quadros o deputado federal Dr. Jaziel. 

Assim, até o fim do ano passado, Acilon parecia ter um cenário favorável para se consolidar como uma das principais lideranças governistas do Ceará: comandava um dos maiores partidos do Brasil, tinha dois nomes na bancada Legislativa Federal e ainda comandava direta ou indiretamente quase 15 prefeituras cearenses.

Aliado de Bolsonaro

No entanto, a filiação do presidente Jair Bolsonaro em novembro do ano passado revirou o tabuleiro político do prefeito do Eusébio e o obrigou a tomar medidas que podem ser decisivas tanto para a base quanto para a oposição do Ceará neste ano. 

Acilon com aliados do presidente Jair Bolsonaro no Ceará
Legenda: Acilon com aliados do presidente Jair Bolsonaro no Ceará
Foto: Divulgação

Em um primeiro momento, atraídos pela filiação do chefe do Executivo nacional, bolsonaristas cearenses desembarcaram no PL Ceará e, mais que isso, investiram para tomar o comando da sigla. A frente incluía o vereador de Fortaleza Carmelo Neto, os deputados estaduais André Fernandes e Dra. Silvana, além do deputado federal Dr. Jaziel. 

Porém, a investida fracassa e o prefeito acaba conseguindo aval do presidente nacional da sigla, Valdemar Costa Neto, para ser reconduzido ao comando do PL Ceará. Essa decisão atesta o interesse de Valdemar em manter a política pragmática de Acilon no comando da sigla no Estado.

“O Valdemar Costa Neto transformou o Partido Liberal no maior partido governista, mas não em um partido bolsonarista. Ele tem quadros bolsonaristas. Agora ele quer transformar o PL em uma potência eleitoral, aí ele faz uma estratégia interessante, que é manter o Acilon. Assim, ele consegue fincar o pé na Prefeitura de Fortaleza, no Governo do Ceará e no Governo Federal”, avalia o consultor político.

As manobras tomadas por Acilon desde novembro o fizeram ganhar espaço também entre a ala mais bolsonarista do partido. Antes crítica do presidente da sigla, a deputada Dra. Silvana passou a exaltar o correligionário.

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“Ele comprovadamente tem experiência em montar partido, em ganhar eleição [...] Em princípio, cheguei a duvidar, falei até para ele mesmo que achava difícil que ele fosse marchar com Bolsonaro, mas vi que ele tem palavra, as atitudes dele têm demonstrado que ele realmente vai marchar com o presidente Bolsonaro”, afirmou em entrevista ao Diário do Nordeste.

Pragmatismo

Desde que Bolsonaro passou a ser correligionário de Acilon, o político cearense fez movimentos de aproximação com o presidente da República. Em fevereiro deste ano, por exemplo, Acilon viajou até Jati, no Ceará, para recepcionar o presidente. Ele não chegou a compor a mesa ao lado de Bolsonaro e assistiu a todo o evento da plateia, no entanto, foram apresentados um ao outro por Wagner.

Mas os acenos não pararam por aí. Em março, ele confirmou que estará engajado na campanha de Bolsonaro no Ceará.

"A partir de abril, vamos trabalhar toda a sistemática do partido para angariar votos para todos os filiados ao partido. (...) Hoje temos como objetivo fortalecer o partido, fazer boa bancada e levar muitos votos para os candidatos majoritários: hoje tem o presidente Bolsonaro, (candidato a) presidente pelo partido", disse Acilon.

Em outra via, Acilon também tem reforçado a base bolsonarista no Estado. Ele já lançou a pré-candidatura da médica Mayra Pinheiro, que deve disputar vaga como deputada federal. Outro pré-candidato da sigla é o Coronel Aginaldo, diretor da Força Nacional de Segurança Pública e marido da deputada federal Carla Zambelli (PL).

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No mês passado, o prefeito ainda iniciou uma ofensiva de apoio a Bolsonaro, tentando estruturar a coordenação de campanha do presidente. Ele fez viagens ao Cariri ao lado do ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, mas sem a presença de articuladores tradicionais de Bolsonaro no Estado, como o deputado estadual André Fernandes.

Acilon tem um modus operandi político que difere dos aliados mais fiéis do presidente, que rejeitam as instituições e se aproximam da figura de Bolsonaro. O prefeito cearense atua na construção de alianças e expansão da força política por meio do pragmatismo, sem adotar radicalismos.

“Querido amigo”

Mesmo caminhando para trincheiras adversárias, a situação de Acilon é compreendida pelo senador Cid Gomes (PDT), líder do grupo governista no Ceará. Em fevereiro deste ano, durante evento pedetista em Pacajus, ele comentou sobre o futuro do prefeito de Eusébio.

“É uma situação que eu não queria estar. O Acilon é um querido amigo nosso e não é de hoje, ele compôs a base de apoio quando o Ciro foi prefeito em 1989, então é uma relação de muito tempo. Agora, o presidente Bolsonaro se filiou ao partido dele, isso criou uma situação constrangedora”, disse.

“Tenho certeza que a situação dele é absolutamente desconfortável. O Acilon não tem nada de bolsonarista, pelo contrário, ele acredita na ciência, é um médico, acredita na boa gestão, mas está nessa sinuca de bico"
Cid Gomes (PDT)
Senador

Para o cientista político Cleyton Monte, ainda que o presidente do PL Ceará aproxima-se de Bolsonaro, não é possível afirmar que haja uma ruptura dele com o grupo governista no Ceará. 

“(Acilon) está buscando garantir pontes com Bolsonaro e com o Governo do Ceará, tanto que ele nunca anunciou oficialmente o rompimento com o grupo governista daqui, a ideia dele, como pragmático, é garantir os dois espaços”, avalia.

A nível estadual, Acilon, de fato, tem participado constantemente de eventos ao lado da governadora Izolda Cela (PDT) e até do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT). O político também não garantiu, até agora, apoio ao nome de Wagner, pré-candidato da oposição. Pelo contrário, o prefeito de Eusébio tem articulado o lançamento da candidatura de Raimundo Gomes de Matos.

Poder de barganha

Para Cleyton Monte, essa postura dá a Acilon “poder de barganha” nas negociações, seja de um lado ou de outro, em um eventual segundo turno.

“Acilon tem se distanciado dos Ferreira Gomes e de Camilo Santana, mas isso não os tornou adversários. Ele tem portas abertas, talvez até para um futuro próximo. Não existe um rompimento verbal entre eles”
Luiz Cláudio Ferreira Barbosa
Consultor político

Tanto o cientista político quanto o consultor apontam que o foco de Acilon Gonçalves e Valdemar Costa Neto é ampliar a bancada legislativa, garantindo ao PL mais força no Congresso Nacional. Nesta conjuntura, o lançamento de uma chapa majoritária, defendida pelo prefeito, serve principalmente como palanque para os candidatos a deputado.

“Para eleger três ou quatro deputados estaduais e federais, ele necessita de uma candidatura própria. Do lado governista, há interesse em formar essa oposição consentida, que é como uma dissidência da base governista estadual com um pé no presidente da República”, acrescenta o consultor.

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Por outro lado, para Luiz Cláudio, em um estado onde a rejeição a Bolsonaro é alta, como o Ceará, uma eventual candidatura lançada pelo partido do Acilon pode beneficiar inclusive Wagner. 

“É interesse do Wagner regionalizar a campanha, então essa candidatura do PL pega para si a bandeira de defender o Governo Federal, deixando Wagner em uma situação mais livre, que é de interesse dele, para atrair votos mais diversos e também os votos bolsonaristas, lavajatistas etc”, aponta.

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