Enquanto grupo governista espera aliança, Acilon reforça palanque de Bolsonaro no Ceará
PL do Ceará vive incertezas sobre o futuro. Sigla é liderada por aliado histórico do grupo governista no Estado, mas tem feito movimentos rumo ao bolsonarismo
Uma das alianças mais duradouras da política cearense pode estar perto do fim. Após mais de duas décadas caminhando lado a lado, o prefeito do Eusébio, Acilon Gonçalves (PL), não deve estar no mesmo palanque que o senador Cid Gomes (PDT) nem irá pedir voto para o ex-ministro e pré-candidato à Presidência Ciro Gomes (PDT) no pleito deste ano.
O que chama atenção é que, enquanto os pedetistas ainda têm esperança de manutenção da aliança com o mandatário, Acilon reafirma os planos de apoiar o presidente Jair Bolsonaro (PL) e tem reforçado o palanque para o atual presidente no Ceará.
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No grupo pedetista, a expectativa é de que, ainda que o prefeito embarque na reeleição do atual presidente, a aliança possa ser mantida ao menos a nível estadual, com Acilon apoiando o nome a ser lançado pela chapa governista, que tem quatro pré-candidatos: a governadora Izolda Cela (PDT), o ex-prefeito de Fortaleza, Roberto Cláudio (PDT), o deputado federal Mauro Filho (PDT) e o presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão (PDT).
Uma “redução de danos”, segundo interlocutores do PDT, seria o próprio PL lançar uma chapa para disputar a sucessão do governador Camilo Santana (PT). Um dos nomes cotados na sigla é o do ex-deputado federal Raimundo Gomes de Matos, recém filiado ao partido.
Assim, na avaliação do grupo governista, ainda que o PL fizesse oposição ao PDT, o grupo de Acilon não reforçaria diretamente a candidatura do principal nome da oposição, o deputado federal Capitão Wagner (UB).
Além de prefeito do Eusébio, Acilon é uma das lideranças mais fortes na Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), com aliados em quase dez prefeituras, o que pode ser decisivo em uma disputa acirrada pelo Governo do Ceará.
Entre os aliados, o prefeito conta com Paulo César Feitosa (PL), prefeito de Itaitinga; Michele Queiroz (PL), de Beberibe; Tiago Ribeiro (Cidadania), de Cascavel; e Dedé Soldado (PL), de Pindoretama. O filho do mandatário, Bruno Gonçalves (PL), também comanda a prefeitura de Aquiraz.
“Sinuca de bico”
O próprio Cid, no entanto, reconhece que Acilon vive uma “sinuca de bico”.
“Tenho certeza que a situação dele é absolutamente desconfortável. Acilon não tem nada de bolsonarista, pelo contrário, ele acredita na ciência, é um médico, acredita na boa gestão, mas está nessa sinuca de bico”
Até então liderança inquestionável do PL no Ceará, o prefeito viu sua influência ser abalada com a filiação do presidente Jair Bolsonaro (PL) à sigla, em novembro do ano passado. No Estado, o partido abriga políticos de um amplo espectro político, indo de nomes como o próprio Acilon, aliado de Ciro e Cid Gomes, a parlamentares como Dr. Jaziel (PL) e Dra. Silvana (PL), aliados de Bolsonaro.
Com a chegada do presidente na sigla para buscar a reeleição, o grupo de aliados do chefe do Executivo federal, até então minoritário no PL do Ceará, passou a fazer barulho e pressionar pela saída de Acilon, no mínimo, da presidência da legenda.
Para tornar a situação do prefeito ainda mais instável, houve uma migração em massa dos principais aliados de Bolsonaro no Ceará para o PL. Chegaram à sigla os deputados estaduais André Fernandes e Delegado Cavalcante, além dos vereadores Carmelo Neto e Priscila Costa.
Acilon agiu rápido para manter a ingerência no diretório estadual, tanto que, em fevereiro deste ano, ele foi reconduzido à presidência da sigla no Ceará pelo ex-deputado Valdemar Costa Neto, presidente nacional da legenda.
Bolsonarismo
Já em dezembro do ano passado, o prefeito não garantiu a manutenção da aliança com o grupo governista no Ceará. Ele disse que conversa com candidatos de "A a Z", inclusive com Capitão Wagner, principal nome da oposição no Ceará.
Já em fevereiro deste ano, Acilon fez um movimento de aproximação com o presidente ao recepcioná-lo em Jati, no Ceará. O prefeito não chegou a compor a mesa ao lado de Bolsonaro e assistiu a todo o evento da plateia. Eles, no entanto, foram apresentados um ao outro por Wagner.
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“Apresentei (o prefeito Acilon) ao presidente Bolsonaro (e afirmei) que estamos tentando agregar ao nosso grupo político. Eu disse ao presidente e afirmo que, para ganhar a eleição majoritária, tem que agregar, e a vinda do Acilon com seu grupo para apoiar o presidente Bolsonaro e para apoiar a nossa candidatura é extremamente importante”, declarou à época o deputado.
Mas os acenos não pararam por aí. No mês passado, Acilon confirmou que estará engajado na campanha de Bolsonaro no Ceará, ainda que mantendo cautela sobre a disputa estadual.
"A partir de abril, vamos trabalhar toda a sistemática do partido para angariar votos para todos os filiados ao partido. (...) Hoje temos como objetivo fortalecer o partido fazer boa bancada e levar muitos votos para os candidatos majoritários: hoje tem o presidente Bolsonaro, (candidato a) presidente pelo partido. Quanto ao Estado, vamos ver depois de abril uma melhor conjuntura para o partido e para o Estado"
Parte do PL, como os deputados Dr. Jaziel e Dra. Silvana, já declarou apoio a Wagner, mas não há garantias dessa aliança. O deputado André Fernandes, por exemplo, disse ao Diário do Nordeste que apoiará a decisão do comando estadual em ter palanque próprio, apesar da proximidade com Capitão Wagner.
Acilon também tem reforçado a base bolsonarista no Estado. Recentemente, ele lançou a pré-candidatura da médica Mayra Pinheiro, que deve disputar vaga como deputada federal. Outro pré-candidato da sigla é o Coronel Aginaldo, diretor da Força Nacional de Segurança Pública e marido da deputada federal Carla Zambelli (PL).
Esperança para aliados
Por outro lado, Acilon tem tentado preservar a proximidade com lideranças estaduais do PDT e do PT. Mesmo em meio às ameaças de ser destituído da presidência local do PL, ele era presença constante em eventos comandado pelo então governador Camilo Santana (PT).
Já com a governadora Izolda Cela o prefeito mantém proximidade com o governo. No último dia 5 de abril, por exemplo, ele esteve com a chefe do Executivo estadual para anunciar investimentos na área de saneamento básico para o município de Eusébio.
Acilon também esteve na posse da governadora após a renúncia de Camilo. No evento, Cid comentou sobre a situação do aliado.
"O PL é o partido do Bolsonaro a nível nacional. Eu quero ver o Bolsonaro pelas costas. O que eu puder fazer para ver o Bolsonaro fora do governo eu farei. Agora, o PL aqui do Ceará é de amigos nossos. Vamos conversar. Não dou por perdido não", disse em coletiva de imprensa.
No mês passado, durante encontro regional do PDT, Cid também havia comentado sobre o impasse político vivido pelo amigo. “É uma situação que eu não queria estar. O Acilon é um querido amigo nosso e não é de hoje, ele compôs a base de apoio quando o Ciro foi prefeito em 1989, então é uma relação de muito tempo. Agora, o presidente Bolsonaro se filiou ao partido dele, isso criou uma situação constrangedora”, disse o senador.