“A maré cearense vai invadir SP” é um festival inspirado na coragem e ousadia dos jangadeiros liderados por Manoel Jacaré. Sim, aquela viagem histórica dos anos 1940. O evento é uma iniciativa do Instituto Dragão do Mar, com apoio da Secretaria de Cultura do Ceará, e vai fazer a capital paulistana sentir um gostinho da terra do sol.
De 23 de novembro a 1º de dezembro, São Paulo, capital, será ocupada por artistas e grupos cearenses como Andreia Pires, Larissa Goes, Sol Moufer, grupo Pavilhão da Magnólia, Marimbanda, Nazirê, Cheiro do Queijo, Vitoriano e Rodger Rogério — ele mesmo, o genial cantor e compositor que virou estrela do cinema nos filmes “Bacurau” e “Oeste Outra Vez”.
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Excelente oportunidade para lembrar, aos leitores paulistas e aos conterrâneos mais jovens que desconhecem essa página extraordinária do Nordeste. A maré vai subir. Segura esse destreinado coração.
Jacaré, Tatá, Jerônimo e Manuel Preto iniciaram a viagem, na jangada São Pedro, no dia 14 de setembro de 1941. Teriam pela frente 2.700 km, de Fortaleza ao Rio de Janeiro. A longa jornada tinha um objetivo político: pedir melhorias e reconhecimento profissional para os pescadores do Nordeste ao presidente Getúlio Vargas.
Dois meses e um dia depois da partida, exatamente em um 15 de Novembro, feriado da Proclamação da República, lá estavam os quatro jangadeiros, sob a admiração da imprensa e dos cariocas. Todo mundo de queixo caído. A história era tão sensacional que saiu até em revistas estrangeiras, como a “Time” (EUA), por exemplo.
A viagem épica não foi à toa. Nem ficou apenas no acontecimento midiático. Os cearenses conquistaram direitos trabalhistas para os pescadores de todo o país, como a aposentadoria, um benefício dado como impossível naquela época.
A saga despertou interesse também do cineasta norte-americano Orson Welles, o famoso diretor de “Cidadão Kane”, que resolveu filmar a vida dos jangadeiros. Durante a filmagem, no entanto, aconteceu uma tragédia: o bravo Jacaré caiu da jangada, na altura da praia do Joá (Rio), e sumiu mar adentro. O filme não foi concluído. O material gravado seguiu desaparecido até 1982.
A história dos jangadeiros, porém, jamais saiu da memória brasileira. Em 2004, os diretores cearenses Firmino Holanda e Petrus Cariry lançaram o documentário “Cidadão Jacaré”. Quinze anos depois, a dupla entregou ao mundo o genial “A Jangada de Welles”, filme que imortalizaria a saga dos pescadores, com uma homenagem ao instigado Orson.
É com esse espírito que a maré do Ceará invade e faz da sua ressaca espetáculo na Pauliceia Desvairada. Desfrute.
*Esse texto reflete, exclusivamente, a opinião do autor.