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Por que PSB está sendo disputado em Fortaleza e o que influencia nas expectativas de Cid e de Sarto

Partido está no centro de novo embate que tem como principal impasse a disputa eleitoral em Fortaleza

Escrito por Luana Barros , luana.barros@svm.com.br
Cid e Sarto
Legenda: O PSB está no meio de impasse que envolve diretamente a disputa pela Prefeitura de Fortaleza em 2024
Foto: SVM

Uma nova queda de braço opõe, novamente, as duas alas ainda filiadas ao PDT. Desta vez, o grupo político liderado pelo senador Cid Gomes (PDT) e os aliados ao deputado federal André Figueiredo (PDT) e ao ex-ministro Ciro Gomes (PDT) disputam outro partido: o PSB. E, no centro do impasse está, mais uma vez, Fortaleza. 

Ao contrário da crise interna do PDT, que colocou em lados opostos os dois grupos em busca do comando da sigla brizolista, desta vez algumas das metas são distintas. A ala pedetista que irá permanecer na legenda dialoga com a cúpula nacional do PSB para trazer o partido para o arco de alianças da pré-candidatura à reeleição do prefeito José Sarto (PDT). 

Os aliados a Cid Gomes, por sua vez, buscam um novo partido para abrigá-los após a saída — já anunciada — do PDT. A filiação, no entanto, também tem desdobramentos na corrida eleitoral pelo Paço Municipal, consolidando o PSB na aliança do pré-candidato a ser lançado com o apoio do governador Elmano de Freitas (PT) e do ministro da Educação, Camilo Santana (PT). 

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O posicionamento, no entanto, não será trazido pelos possíveis novos filiados. O ex-deputado Eudoro Santana (PSB) assumiu a presidência estadual do PSB em agosto e foi incisivo, em mais de uma ocasião, sobre, em 2024, marchar junto ao conjunto de partidos que apoiam o Governo Elmano na disputa eleitoral na capital cearense. 

O impasse chegou a Brasília e deve envolver, na resolução, os dirigentes nacionais tanto do PSB como do PDT, além de lideranças regionais interessadas no desenrolar dos fatos. Isso, porque o impasse não envolve apenas a conjuntura eleitoral em Fortaleza, mas também em Recife — principal capital comandada pelo PSB.

Além disso, qualquer decisão deve ser vital para os diálogos sobre a formação de federação entre PDT e PSB em 2026. A superação da cláusula de barreira na eleição para a Câmara dos Deputados é um ponto de preocupação das duas siglas, algo que pode, no entanto, ser equacionado com a chegada do grupo de Cid ao PSB. 

E se a conjuntura acirra o impasse em torno da sigla, o cientista político Cleyton Monte elenca outras razões para a disputa entre os grupos adversários pelo PSB. "Primeiro, o aspecto histórico.  É um partido que tem uma trajetória histórica de luta contra ditadura, de fortalecimento da democracia", relembra. Um outro elemento importante é a própria estrutura — estadual e nacional desta sigla. 

"É um partido muito capilarizado no País, tem um número grande de diretórios municipais, bancada importante de parlamentares. (...)  Tem forte relação com Pernambuco, tem força grande no Nordeste. O próprio grupo do Cid já foi do PSB, que já teve grande força, já foi até maior aqui, no Ceará, e perdeu importância. É um partido estruturado, que tem representação. Por isso, é disputado", arremata. 

Por que aliança com PSB interessa a Sarto?

Eleito em 2020 encabeçando ampla coligação partidária — à qual se somou apoios importantes de outras siglas no 2º turno —, José Sarto viu o arco de alianças minguar nos três anos à frente da Prefeitura de Fortaleza. A principal razão foi o rompimento da aliança entre PT e PDT nas eleições para o Palácio da Abolição em 2022. 

Apesar dos dois partidos não serem aliados na Capital desde o primeiro mandato do ex-prefeito Roberto Cláudio (PDT), a ruptura tirou da base aliada a Sarto outros partidos que, até então, vinham dando sustentação ao seu governo, como o Progressistas. Em 2023, outros dois desembarques importantes: PSD e PSB

Mas não foi apenas o rompimento entre os dois grupos políticos o responsável pela diminuição da lista de partidos aliados ao PDT. O PL, por exemplo, apoiava Sarto em 2020, mas agora está sob comando de lideranças bolsonaristas — que chegaram à sigla após a filiação do ex-presidente Jair Bolsonaro em 2022. Outro aliado, o DEM se fundiu ao PSL dando origem ao União Brasil — hoje sob comando de Capitão Wagner. 

"O arco de aliança do Sarto está sendo esvaziado", ressalta o cientista político Cleyton Monte. Para exemplificar, ele cita a recente filiação do presidente da Assembleia Legislativa do Ceará, Evandro Leitão, ao PT. "Tinham a presença de nove partidos. Fora os partidos de direita", lembrou. "Os espaços para Sarto vão ficando reduzidos". 

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Para a disputa pela reeleição, a diminuição de partidos aliados tem efeitos práticos, reforça Monte. Primeiro, a diminuição do tempo de propaganda no rádio e TV, além de menos recursos para a campanha eleitoral — o cálculo de ambos é feito a partir do número de legendas na coligação de cada candidato. 

Cada partido significa, ainda, uma chapa de pré-candidatos a vereador de Fortaleza, o que significa maior capilaridade à candidatura majoritária entre os bairros e comunidades da Capital. 

Líder do prefeito Sarto na Câmara Municipal de Fortaleza, Iraguassu Filho (PDT) afirma que as negociações em torno do arco de alianças devem se acomodar mais próximo ao período da janela partidária, entre março e abril de 2024. Contudo, ele tem confiança que, "a preço de hoje", oito ou nove partidos devem se coligar para apoiar a reeleição de Sarto. 

Um número que pode inclusive crescer, já que existem diálogos sendo travados com as direções de diversos partidos. "A eleição em Fortaleza é uma prioridade nacional para o PDT", destaca. Atualmente, existe apoio de partidos como PSDB, Cidadania, Avante, PRTB, PRD e Agir. 

Nesse cenário, o interesse de atrair o PSB ocorre por semelhanças programáticas entre a sigla e o próprio PDT. "Pela aproximação ideológica", ressalta o vereador. "Nacionalmente, é um partido que pensa parecido com o PDT. Desde a primeira eleição do Ciro (Gomes como candidato à presidência) no PDT, em 2018, tentou-se andar em conjunto, alinhado, coligado", reforça. 

A conversa entre os dois partidos, acrescenta, ocorre "há muito tempo" e não envolve apenas Fortaleza. Capitais como Recife e Aracaju também estão envolvidas, dentre outras cidades, explica o vereador. Outro ponto que deve influenciar são os diálogos para a formação de uma federação partidária entre as duas agremiações, acrescenta o deputado estadual Cláudio Pinho (PDT). 

"O PDT está conversando para fazer uma federação em 2026. Antes da federação, existe a conversa para marcar unido onde for possível em 2024", explica o parlamentar. Ele considera que a falta de apoio em Fortaleza pode "inviabilizar a federação", já que "uma das condições foi o apoio para a Prefeitura de Fortaleza".  

O Diário do Nordeste procurou o presidente nacional interino do PDT, André Figueiredo, para saber como estão sendo feitos os diálogos entre o partido e o PSB, mas não obteve retorno até a publicação desta reportagem.

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Por que PSB é a preferência de aliados a Cid?

E se a proximidade ideológica é levantada por aliados a Sarto como motivo para o PSB apoiar a candidatura do prefeito em 2024, o mesmo argumento é usado pelos dissidentes do PDT — que estão de saída da sigla após profunda crise interna iniciada na campanha eleitoral de 2022 — para escolher o PSB como novo partido.

Líder do PDT na Assembleia Legislativa do Ceará, Guilherme Landim (PDT) relata que existe "preferência da quase totalidade do grupo para ir ao PSB". O motivo? "A proximidade ideológica. Muitos de nós já fizemos parte, então é um partido que muitos simpatizam", diz. 

Deputado estadual em exercício, Antônio Granja (PDT) relembrou quando foi parlamentar pelo PSB e disse ser esse um dos motivos para defender a sigla como destino partidário do grupo aliado a Cid Gomes. "A grande maioria lá sinalizou positivamente, se tiver oportunidade da gente poder ir para o PSB, essa é a legenda que a gente escolhe", reforça. 

A proximidade com o governador Elmano de Freitas e com o ministro da Educação, Camilo Santana, também são apontadas como elementos importantes pelo coordenador da bancada cearense no Congresso Nacional, Eduardo Bismarck (PDT) — a entrada oficial na base aliada da gestão estadual foi o principal impasse vivenciado pelo PDT em 2023 e que agravou a crise interna vivida pelo partido, com ampla maioria de parlamentares e prefeitos defendendo o alinhamento com o Governo Elmano.  

Essa preferência pelo PSB travou, contudo, em uma "sombra"  chamada Fortaleza, explica Bismarck. A referência são aos diálogos entre PDT e PSB pela troca de apoio, onde de um lado está a disputa em Recife e do outro, a disputa em Fortaleza. 

"O exercício do diálogo com o PSB agora é para abrigar o grupo, sem prejudicar a reeleição de (João Campos no) Recife", explica. Isto porque, aponta Bismarck, um eventual apoio a Sarto seria "incoerente". 

Fala do senador Cid Gomes após a reunião realizada com aliados na última segunda-feira (18) corrobora com o argumento. "Isso para a gente fica extremamente contraditório. Nós estamos saindo do PDT basicamente por uma visão diferente de uma sessão do partido que está concentrada em Fortaleza. E como é que o partido que a gente vai apoiar em Fortaleza aqueles que nos colocaram para fora do partido (PDT)?", pontuou o ex-governador.

Os cidistas elencam, além da aproximação ideológica, o histórico do próprio grupo dentro do partido e a proximidade com o Governo Elmano como motivos centrais para a preferência pelo PSB. O cientista político Cleyton Monte, por sua vez, ressalta mais um fator relevante. "O PSB com controle do Eudoro, dá uma possibilidade real pro Cid comandar o partido", aponta. "Estruturar, ser próximo ao Governo. O Cid não vai para qualquer partido, que possa dar espaço de poder. A abertura para o Cid é de ter esse comando". 

O que dizem os pessebistas?

As negociações devem se estender por janeiro, principalmente entre os dirigentes nacionais. Contudo, existem indicativos que apontam que Cid Gomes pode ter vantagens nas negociações. A primeira delas é a saída de aliados de Sarto das fileiras do PSB, como é o caso do vice-prefeito Élcio Batista. Eleito para o cargo pelo PSB, ele se filiou ao PSDB em fevereiro deste ano.

O PSB Ceará também emitiu comunicado onde reafirmou que irá apoiar o candidato a prefeito de Fortaleza lançado pelo Palácio da Abolição. "Declarar, para que não existam dúvidas, que o PSB do Ceará apoiará o candidato a prefeito de Fortaleza que será lançado pelo conjunto de partidos que apoiam o Governo de Elmano Freitas e o Projeto do 'Ceará cada vez mais forte'", diz o texto. 

Com a perspectiva de filiar o senador Cid Gomes, entre três e quatro deputados federais, além de suplentes ao cargo, pode ser que a tese de federação com o PDT ou mesmo a pressão de lideranças pernambucanas não seja o suficiente para que a direção nacional do PSB decida fechar acordo com o PDT. 

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"Tem muitas dificuldades para a federação, não só em Fortaleza. Por mais que seja importante para Pernambuco, para Recife, não sei se vale a pena pro PSB se sacrificar nacionalmente só por causa de Pernambuco", considera Cleyton Monte. Para o cientista político, a direção nacional do PSB deve tentar encontrar uma saída "sem ter que fazer esse malabarismo".

A bancada de três vereadores do PSB na Câmara Municipal de Fortaleza está dividida. Os vereadores Léo Couto (PSB) e Eudes Bringel (PSB) integram a oposição a Sarto no legislativo municipal. Eleito em 2020, Fábio Rubens (PSB) está de licença da vereança por estar no comando da Secretaria Regional 8 da Prefeitura. Suplente em exercício, Moura Taxista (PSB) tem votado junto com a base aliada a Sarto na Casa. 

Indagado sobre como tem observado as movimentações em torno do partido, Moura Taxista destacou as "indecisões", em que "está cada dia com cenário diferente, a coisa muda de figura a todo instante". 

Ele diz entender o motivo para a disputa pelo partido. "O PSB pela grandeza, pela história do partido, de Miguel Arraes e de tantas figuras importantes, (...) tem uma história muito bonita. Isso atrai esses dois campos. Entendo como importante em um cenário importante (como o de Fortaleza) ter o PSB do lado", disse. 

Ele diz, no entanto, que ainda não foi chamado a discutir o tema dentro do PSB. "Eu, enquanto vereador do PSB, filiado do PSB, não participei de nenhum debate sobre essa decisão partidária ou envolvendo as eleições municipais", garante. A defesa dele é de que Sarto tem feito uma "gestão positiva para a cidade", mas que está "aberto ao debate". 

Para o vereador Léo Couto, no entanto, uma aliança em torno da candidatura de Sarto está "totalmente fora de cogitação". A perspectiva, assim como o comunicado feito pelo diretório estadual do partido, é que o PSB "deve caminhar junto" com o candidato apoiado pelo Governo Elmano. A pressão que vem sendo feita para fechar apoio do PSB ao candidato Sarto é "papel deles", considera, como tentativa de ter "o maior arco de alianças". 

"O PDT está enfraquecido em relação ao arco de aliança em prol do prefeito Sarto", diz. "Um dos motivos é a falta de diálogo, isso obviamente é reflexo dessa posição do prefeito. Com certeza, eles pensam em aumentar tempo de televisão, apoio partidário e por isso essa queda de braço, esse tensionamento que insistem em fazer para ter outros partidos". 

O Diário do Nordeste entrou em contato com o presidente do PSB Ceará, Eudoro Santana, mas não obteve resposta até a publicação desta reportagem. 

Prazo para definição

O senador Cid Gomes preferiu não definir nova data para a decisão de qual partido receberá o grupo aliado a ele. No entanto, parlamentares consideram que a resolução deve sair até o dia 15 de janeiro. Um dos principais motivos para a pressa são as tratativas necessárias para as disputas para os cargos de prefeito e vereador. 

O próprio Cid disse, após a última reunião realizada no dia 18 de dezembro, que a filiação ao PSB pode trazer "problemas" em alguns municípios cearenses. Ele chegou a fazer uma comparação com o Podemos — a outra alternativa do grupo — onde só um município teria alguma adversidade com quem já está na sigla. 

"Se a gente for para o PSB, (...) tem uma quantidade maior de municípios que já existe (problemas). Mas, sim, a meu juízo são problemas resolvíveis, são problemas equacionados", disse o senador. 

O senador disse que o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, pediu o mês de janeiro para conseguir resolver os entraves dentro do partido.  "Mas eu espero que a gente possa até resolver antes disso. Na hora que a gente tiver uma posição definitiva de sim ou de não, a gente convoca (uma nova reunião)", garantiu.

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