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Do Republicanos ao PSB, estratégias eleitorais mexem com liderança dos partidos de olho em 2024

Troca-troca no comando de agremiações tem levado partidos da oposição para a base

Escrito por Alessandra Castro , alessandra.castro@svm.com.br
Republicanos
Legenda: A ida de Chiquinho Feitosa para o Republicanos colocou a sigla na base do Governo do Estado
Foto: Fabiane de Paula

Com as articulações eleitorais já em andamento a menos de um ano das eleições, partidos de centro, direita e esquerda no Ceará também têm protagonizado disputas internas de olho nas tratativas para o ano que vem. A principal barganha é pelo comando das legendas, a fim de construir alianças para o pleito de 2024.  

Apesar de terem menos quadros políticos no Estado, as siglas têm forte expressão a nível nacional. É o caso do Republicanos, que conta com 40 parlamentares na Câmara dos Deputados, do PSB, que tem 14, e do Podemos, com 12. 

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No Ceará, os partidos passaram por alterações na presidência estadual e embarcaram na base do Governo de Elmano de Freitas (PT) neste ano, mudando, inclusive, de oposição para situação.  

Para o cientista político Cleyton Monte, que também é professor universitário e pesquisador do Laboratório de Estudos sobre Política, Eleições e Mídia (Lepem) da Universidade Federal do Ceará (UFC), as legendas, apesar de terem menos quadros no Ceará, têm "capital político considerável" devido à envergadura nacional. Por isso, são alvo de disputa para a construção de alianças nos municípios. 

"Esses partidos, mesmo que sejam pequenos no Ceará, são nacionalmente grandes, como o Republicanos e o Solidariedade. São partidos que dispõem de recursos financeiros e tempo de TV, então, é muito importante ter o controle sobre eles. Por mais que eles sejam pequenos no Estado, são partidos que representam um capital político considerável" 
Cleyton Monte
Cientista política, professor e pesquisador

O cientista política acrescenta, ainda, que o troca-troca ocorre neste momento para dar tempo das lideranças costurarem candidaturas e alianças nos municípios.

Troca de comando 

O primeiro a protagonizar troca de comando no Ceará foi o Republicanos. Em fevereiro, o empresário e ex-suplente de senador Chiquinho Feitosa assumiu a presidência da agremiação estadual, enquanto o vereador Ronaldo Martins, que antes ocupava o cargo, passou a liderar a legenda em Fortaleza. 

A sigla passou a abrigar o empresário após ele perder o comando do PSDB Ceará diante de divergências internas. Na eleição do ano passado, Chiquinho tentou levar o PSDB para apoiar a candidatura de Elmano, mas foi desautorizado pela cúpula nacional. 

Aliado de primeira ordem do ministro Camilo Santana (PT), o Republicanos passou por uma guinada política com a chegada de Chiquinho, deixando a oposição e passando a integrar a base do Governo do PT. 

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Em maio, deste ano, foi a vez do Podemos também dar um giro de 180 graus após mudança na Executiva Estadual. A sigla, que antes era oposição e detinha correligionários como o senador Eduardo Girão — atualmente do Novo —, passou a ser liderada pelo prefeito de Aracati, Eduardo Bismarck, que integra o arco de aliados governista.  

Bismarck deixou o PDT e assumiu o Podemos após uma costura política que envolveu o aval do senador Cid Gomes. A legenda, inclusive, é cotada para receber o senador — que vive disputa interna no PDT. 

Em agosto deste ano, foi a vez do PSB trocar de comando. O partido, que até meados de 2023 era base do prefeito de Fortaleza, José Sarto (PDT), embarcou oficialmente no grupo governista no Estado com a chegada do ex-deputado Eudoro Santana, pai de Camilo Santana. A legenda, inclusive, é uma das cotadas para receber dissidentes do PDT, incluindo Cid e o presidente da Assembleia, deputado Evandro Leitão. 

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Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da Ordem dos Advogados do Brasil secção Ceará (OAB-CE), Fernandes Neto explica que as mudanças são comuns no período pré-eleitoral e ocorrem para já garantir filiações de peso para lançar como candidato dentro do período determinado pela legislação. 

"Esse é um movimento que existe constantemente antes do período eleitoral. É necessário, para qualquer filiado, estar filiado há seis meses antes da eleição para ser candidato. Por que é importante essas alterações das comissões provisórias? Porque é lá que vai ser definida qual a direção que o partido vai tomar nas eleições" 
Fernandes Neto
Presidente da Comissão de Direito Eleitoral da OAB-CE

Ele explica, ainda, que, a cúpula nacional pode até instalar uma comissão provisória, mas que ela deve seguir um prazo determinado no estatuto. Depois do período, é necessário instalar um diretório sob pena de judicialização. 

"Adesismo"  

Professora de Teoria Política da Universidade Estadual do Ceará (Uece), Monalisa Torres explica que os partidos "menores", com menos quadros no Ceará, tendem a ser mais pragmáticos do que ideológicos para poderem sobreviver no xadrez político. Por isso, a base governista tem ganhado mais adesão do que a oposição. 

"A grande maioria dos municípios cearenses são dependentes de repasses do Governo do Estado, Federal e de emendas parlamentares, isso já é um indicativo importante para esse movimento dos partidos e dos candidatos que querem ter melhores condições de competir nessas esferas locais. Isso significa estar do lado do Governo. Esse já é um cálculo feito nesse movimento dos partidos menores para ficar abaixo da sombra do governismo, que a gente chama de tendência ao adesismo — que é a tendência de aderir aos governos de ocasião" 
Monalisa Torres
Professora de Teoria Política da Uece

Além disso, a professora destaca o rompimento interno no PDT, com racha entre os irmãos Ciro e Cid Gomes, como um componente a mais para a nomeação de aliados do grupo liderado por Cid, por exemplo, para siglas que, agora, compõem a situação ao grupo governista — posição defendido por ele e pela ala do senador. 

"Somado a isso tem essa tendência, essa versão personalizada da política, de seguir o líder político do seu grupo. O partido que o Cid Gomes for, há aqueles que o seguem. Não por identidade ideológica, mas por vinculação de afinidade, de identidade, de respeito a uma liderança que eles seguem", acrescentou. 

Partidos menores 

Em meio a esse cenário, outros partidos também têm passado por mudanças no Ceará. É o caso do Novo, que filiou o senador Eduardo Girão com a ida do Podemos para a base governista do Estado. Com isso, a legenda, que a nível nacional tem apenas três deputados federais, ganhou seu primeiro senador. 

Eduardo Girão, inclusive, foi anunciado como pré-candidato à Prefeitura de Fortaleza, ampliando o leque de potenciais candidaturas na Capital e o poder de barganha na ala oposicionista. O senador é cortejado para se aliar ao PL, que tem o deputado federal André Fernandes como pré-candidato, e ao União Brasil, que tem Capitão Wagner como prefeiturável. 

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Mais recentemente, quem tem vivido queda de braço entre oposição e Governo no Estado é o Solidariedade, que incorporou o Pros neste ano. Com isso, a nível nacional, a sigla passou a ter 7 deputados federais e ter tratativas com aliados pró e antigoverno no Ceará. 

Aliado histórico de Capitão Wagner, o ex-deputado Vaidon Oliveira passou a ser cotado para assumir a agremiação a nível estadual. Todavia, a medida ainda não foi formalizada. Ao Diário do Nordeste, ele disse que a legenda sairia do grupo governista e passaria a integrar a oposição quando estivesse sob seu comando. 

Com isso, o prefeito de Chorozinho, Júnior de Castro, passou a ser ventilado para o comando da sigla a fim de deixar a legenda no arco de alianças governista. Ele, no entanto, não atendeu as ligações para confirmar as tratativas. Já Vaidon alegou que não recebeu nenhum posicionamento diferente da cúpula federal e "aguarda" oficialização. 

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