Os esforços do Ceará para evitar que a política atrapalhe investimentos em hidrogênio verde
Governo federal precisa liderar um processo de ampliação das linhas de transmissão, um investimento bilionário fundamental para o Estado

Os desafios para viabilizar os projetos de hidrogênio verde (H2V) no Ceará vão muito além das questões técnicas e dos compromissos ambientais. Em conversas recentes, fontes qualificadas do Governo do Estado revelaram a esta coluna uma preocupação crescente com a lentidão do governo federal na ampliação das linhas de transmissão de energia. O gargalo na infraestrutura, somado às incertezas legais, tem gerado insatisfação entre investidores que já assinaram protocolos de intenção bilionários.
Diante desse cenário, o governador Elmano de Freitas tem atuado diretamente junto ao vice-presidente e ministro da Indústria, Geraldo Alckmin, e ao ministro de Minas e Energia, Alexandre Silveira, para demonstrar a necessidade de pressa e tentar destravar os processos. Além disso, o próprio governo estadual avalia maneiras de atuar diretamente na questão, estudando alternativas para ampliar a rede de transmissão e garantir que o Ceará mantenha sua posição estratégica no setor.
A situação não é exclusiva do estado. O Brasil, de modo geral, enfrenta um problema estrutural que ameaça a expansão das energias renováveis. A falta de infraestrutura adequada compromete não apenas o H2V, mas também a operação de parques solares e eólicos, especialmente no Nordeste, que hoje é o epicentro da geração de energia limpa no país.
As indefinições legais e a lentidão no planejamento de novas linhas de transmissão aumentam a insegurança e podem até afastar investidores. O Ceará, que saiu na frente com a criação do hub de H2V no Complexo do Pecém, se vê agora diante do risco de perder competitividade para outros países, que já avançaram em incentivos concretos para o setor. Em entrevista recente à Verdinha FM, o secretário da Casa Civil do governo Elmano, Chagas Vieira, enfatizou esse risco. “O Ceará pode perder investimentos, mas não é para outros estados. É para outros países. Então, isso interessa ao Brasil”, advertiu.
Crise foi parar na Justiça
O problema ficou ainda mais evidente recentemente, quando o Operador Nacional do Sistema Elétrico (ONS) determinou a paralisação temporária da produção em usinas eólicas e solares, sob a justificativa de equilíbrio do sistema elétrico. A decisão gerou forte reação do setor produtivo e acabou sendo judicializada, com questionamentos sobre os critérios adotados para a medida.
O episódio escancarou um problema já conhecido: a rede de transmissão não cresce na mesma velocidade que a geração de energia renovável, resultando em desperdício de capacidade instalada e prejuízos para investidores. Sem uma solução para esse entrave, o país corre o risco de inviabilizar parte dos investimentos em energias limpas, justamente em um momento em que há forte demanda global por transição energética.
Movimento do Ceará
O governo do Ceará, ciente da gravidade do cenário, se movimenta para evitar que a política seja um entrave aos investimentos. Além da articulação com o governo federal, há um esforço interno para encontrar alternativas viáveis, seja por meio da Secretaria de Infraestrutura ou do próprio Complexo do Pecém.
A disposição do estado em buscar soluções por conta própria reflete a urgência do tema: perder investidores neste momento significaria comprometer anos de planejamento e abrir mão de uma posição estratégica na nova economia verde.
O impasse em torno das linhas de transmissão mostra que, sem coordenação entre União e estados, o Brasil pode ficar para trás na corrida global pelo hidrogênio verde. E, no caso do Ceará, esse é um risco que o governo não está disposto a correr.