Xande de Pilares traz show cantando Caetano a Fortaleza e celebra 'unificação' da música: ‘Quero cantar todo mundo'

Apresentação de “Xande Canta Caetano” acontece neste sábado (25) na Santa Praia; show de abertura fica por conta do Grupo DTF

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
Show 'Xande Canta Caetano' parte do repertório do disco homônimo e expande versões de Xande de Pilares para canções de Caetano Veloso
Legenda: Show 'Xande Canta Caetano' parte do repertório do disco homônimo e expande versões de Xande de Pilares para canções de Caetano Veloso
Foto: Divulgação

“Fui criado através do meu avô, que me ensinou a escutar de tudo. Lá em casa, a gente escutava do forró ao jazz, do funk ao rap, do heavy metal à seresta”, partilha o cantor e músico Xande de Pilares. Crescer nesse ambiente possibilitou que, para o reconhecido sambista carioca, um passo novo — e arriscado, reconhece — pudesse ser dado numa altura que já tinha mais de 30 anos de carreira.

“Xande Canta Caetano”, o disco, surgiu então como um projeto especial, abençoado e acompanhado pelo próprio homenageado, o cantor e compositor baiano Caetano Veloso. Depois do lançamento, o projeto tem ganhado o País em turnê que desembarca, neste sábado (25) em Fortaleza, na Santa Praia.

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"Ali começo a conhecer a voz de Caetano"

Em entrevista por telefone ao Verso, o artista lembra que, ainda na infância, tinha contato amplo com a música a partir da TV, do rádio, do disco e, em especial, da própria família, “muito envolvida” com a arte. Nesse caldeirão de referências, Xande lembra do momento em que descobriu Caetano, com cerca de sete anos.

“Tinha uma novela que estava passando na época, acho que era 1977, que chamava ‘Sem Lenço, Sem Documento’ e a música de abertura era ‘Alegria, Alegria’. Ali começo a conhecer a voz, a obra de Caetano”, recupera.

Depois, descobriu que a música “Muito Romântico” que ouvia na voz de Roberto Carlos naquele mesmo ano era de autoria do baiano. “Quando descobri o trabalho do Caetano, fui procurar onde iniciou tudo, para poder seguir dali adiante, e aí virei fã dele e de toda aquela turma”, avança. 

De fã a amigo, de amigo a homenageador

O pequeno Alexandre só não imaginava, ressalta o artista na entrevista, “um dia conhecê-lo e me tornar amigo tanto dele quanto dos filhos”. Foi essa relação pessoal, possibilitada por Zeca e Tom Veloso, que abriu as portas para o projeto “Xande Canta Caetano”.

Na casa do baiano, “reuniões musicais” aproximaram os dois artistas. “Um dia eu peguei um violão e cantarolei uma música que a (Maria) Bethânia (cantora e irmã de Caetano) gravou no disco ‘Mel’ que é de autoria dele chamada ‘Ela e Eu’. Caetano achou interessante porque nunca tinha visto ninguém cantar essa música em samba”, rememora.

O momento culminou com Caetano convidando o carioca a comandar um projeto que viria a marcar os 80 anos do baiano, comemorados em 2022. “Ele perguntou se eu não queria fazer um disco cantando as canções dele em samba, as que não fossem já os sambas que ele já gravou. Que eu transformasse as baladas dele em samba”, afirma.

Com Pretinho da Serrinha como diretor musical, o projeto foi concretizado em 2023 no disco “Xande Canta Caetano”, “supervisionado” pelo homenageado. “Toda vez que a gente acabava de cantar, chamava ele para ouvir. Fiquei um pouco com medo, porque você visitar a obra ouvindo é uma coisa. Você revisitar cantando o que você ouviu de um compositor do tamanho dele, e com ele acompanhando…”, brinca Xande.

Emoções do disco, emoções do show

São, no disco, dez músicas, incluindo as já citadas "Muito Romântico" e "Alegria, Alegria", mas também "Luz do Sol" e "Tigresa". Um marco das gravações, lembra o carioca, foi a primeira audição da faixa “Gente”, que fecha o álbum.

“Eu estava emocionado porque nessa música ele cita a Zezé Motta (atriz) e o José Agrippino (escritor), e, por coincidência, na minha família tem a tia Zezé e meu falecido tio Agripino, que praticamente era o cara que me dava os discos de presente para ouvir, emprestava, era um dos grandes incentivadores que tive na família”
Xande de Pilares
cantor

Quando a versão foi colocada para tocar, ainda no estúdio, de Caetano a Pretinho, passando por Paula Lavigne (esposa do baiano e produtora do álbum), todos choraram

“Xande Canta Caetano” ressoou também com o público e as premiações especializadas. O trabalho chegou a ganhar o Grammy Latino de Melhor Álbum de Samba/Pagode no ano passado. A circulação pelo País aproximou o álbum ainda mais das plateias.

Para transformar o disco em show, Xande aponta, o processo “foi um pouco mais tenso”. “Esse disco tem 34 minutos, só, como é que a gente vai fazer uma turnê?”, questionou à época. Para isso, houve um alargamento do repertório, incluindo mais músicas de Caetano e, ainda, algumas de Xande.

“Acabei gostando, porque teve muitas canções que eu queria ter gravado e que não couberam. No primeiro show, que foi na Concha Acústica de Salvador, quando cantei ‘Força Estranha’ foi um banho de emoção na plateia, na banda”, atesta.

Unificar ao invés de separar

No show de Fortaleza, a abertura fica por conta do Grupo DTF, um dos destaques das rodas de samba da Capital. O fato é celebrado por Xande. “Acabaram aqueles separatismos chatos, essa coisa ‘só tem samba no Rio e São Paulo’. Não, está no Brasil inteiro”, defende.

“Tomara Deus que a gente consiga unificar, acabar com separatismo”, reforça. Neste sentido, a experiência da circulação, segue o artista, vem sendo “educativa”. 

“Estou muito acostumado com o ‘bate na palma da mão’, aquela coisa que sambista tem, né? Em ‘Xande Canta Caetano’, é o Alexandre Silva de Assis interpretando mais, um lado meu que muita gente não conhecia”, celebra.

“Cara, você não tem noção do que esse trabalho agregou pra mim. Ele me leva para um público em que não é fácil chegar, a famosa classe A, vamos dizer assim, pessoas que não estão o tempo todo ouvindo rádio, que esperam um show específico para prestigiar”
Xande de Pilares
cantor

O movimento, ressalta Xande, é na verdade duplo. “Um dia a minha sobrinha me liga e agradece, ‘eu não conhecia o trabalho dele e o senhor acabou despertando o Caetano Veloso em mim’. Uma menina de 16 anos de idade! Da mesma forma que tem uma senhora de 80 anos que não conhecia meu trabalho, gosta mais de MPB, mas quando escutou o Caetano, acabou ouvindo a minha obra do Revelação”, exemplifica.

É esse, como o artista reforça, o grande diferencial do projeto: a promoção de pontes, ao invés de separações.

“Muita gente acha que Xande só sabe cantar partido alto, samba enredo. Não, o Alexandre Silva de Assis gosta de música”, atesta, citando do forró ao heavy metal. À brincadeira “vai ter ‘Xande Canta Sepultura’, então?”, o artista reage animado: “É, pô! Se eu falasse inglês, eu tava rico! Quero cantar todo mundo”, arremata.

Show “Xande Canta Caetano"

  • Quando: sábado, 25; abertura dos portões às 19h30, show de abertura com Grupo DTF às 20h30 e show de Xande de Pilares às 22h30 
  • Onde: Santa Praia (av. Clóvis Arrais Maia, 3345 - Praia do Futuro)
  • Quanto: Pista - R$360 (inteira), R$ 180 (meia) e R$ 240 (social - válido com a doação de 1kg de alimento não perecível); Mesa - R$ 1.200,00 (4 lugares) e R$ 300 cada cadeira extra, sendo até 2 por mesa (limitação de 6 lugares no total da mesa)
  • Ingressos à venda: no site da Bilheteria Digital ou presencialmente na Santa Praia
  • Mais informações: no Instagram @santa_praia
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