Vitória do Brasil no Oscar após 80 anos da 1ª indicação do País guarda significados artísticos, sociais e políticos
Triunfo de “Ainda Estou Aqui” marca a história do País e da premiação em diferentes níveis

Exatos 80 anos após a primeira indicação do Brasil ao Oscar, o País alcançou na noite desse domingo (2) a primeira vitória na premiação. “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles e com Fernanda Torres como protagonista, foi eleito Melhor Filme Internacional da edição deste ano.
Fenômeno artístico, social e político desde que estreou no Festival de Veneza, em setembro do ano passado, o longa brasileiro trilhou um caminho que extrapolou as discussões do nicho cinéfilo.
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Virou assunto entre famílias, referência em discursos e atos políticos e, até — como não poderia deixar de ser, por conta da coincidência da data —, fantasia de Carnaval.
Mesmo sem a desejada vitória de Fernanda como Melhor Atriz, “Ainda Estou Aqui” é marcado, em especial, por uma série de triunfos simbólicos.
Ao receber o troféu de Melhor Filme Internacional, o cineasta Walter Salles ressaltou que a honra da vitória era “em nome do cinema brasileiro”. A cultura surge como ferramenta e canal para recontar uma história de importância acentuada para o País.
Lembrar do desaparecimento de Rubens Paiva, da força de Eunice Paiva, das ações nefastas da ditadura militar é uma forma relevante para, como diz a máxima, jamais repetir.
Culturalmente falando, a relação do público com o longa e com o caminho dele até o Oscar é, também, digna de nota.
Foram mais de 5 milhões de espectadores, mas, além das salas de cinema, “Ainda Estou Aqui” também se espalhou de outras formas entre as pessoas.
Os grupos que se juntaram em bares em pleno domingo de Carnaval para torcer pelo longa e por Fernanda são um testemunho importante desse afeto.
É fato que uma experiência coletiva como essa é potencialmente singular, ocorrendo num tempo específico e alcançando tamanha repercussão pela conjunção de tema e equipe, mas também vale ressaltar que é possível que ela seja uma semente relevante para o futuro.
O recente prêmio para "O Último Azul" em Berlim, as bilheterias de outros longas como "O Auto da Compadecida 2" e "Chico Bento e a Goiabeira Maraviósa", a promessa de um streaming público voltado ao cinema brasileiro e o destaque do cinema cearense no mundo são, também, elementos importantes para esse porvir.
A construção do cinema brasileiro, da cultura do País e da própria identidade dele, enquanto nação, devem necessariamente passar pelo próprio povo. Que mais salas de cinema, jantares em família, bares, festas e ruas celebrem, valorizem e reverenciem obras brasileiras.
É como Fernanda Torres disse em uma entrevista, meses antes de sequer pensar que seria indicada ao Oscar: 'Quando alguém fura a fronteira e leva algo que nos é pessoal para fora, é essa espécie de sentimento de ‘olha o que a gente tem de rico’”.
"Olha o que a gente tem de rico". É imensurável, é fundante, é a cultura.