Seis curiosidades sobre o Brasil no Oscar que você provavelmente não sabia
Da primeira indicação para um brasileiro à produção nacional mais indicada na história do prêmio, confira marcos históricos sobre o reconhecimento de produções e profissionais do País no Oscar

2025 é um ano singular para o Brasil no Oscar não somente pelas três indicações de “Ainda Estou Aqui” ao prêmio, mas porque se completam 80 anos desde a primeira indicação brasileira na célebre festa do cinema.
Essa é uma das curiosidades que chama atenção no histórico dos reconhecimentos a profissionais e produções do País conquistados na premiação estadunidense.
O Verso mergulhou nas bases de dados das indicações e destaca algumas curiosidades e marcos históricos da presença do Brasil no Oscar ao longo do tempo. Confira!
Primeira indicação e primeira injustiça completam 80 anos
A primeira indicação de um brasileiro no Oscar ocorreu há exatos 80 anos. Em 1945, Ary Barroso foi indicado na categoria de Melhor Canção Original por “Rio de Janeiro”, da comédia musical “Brasil” (1944).
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Ele perdeu a estatueta, mas a injustiça se refere a outro fato: a ausência de indicação para o cantor e compositor Lupicínio Rodrigues. Uma versão de “Se Acaso Você Chegasse” foi utilizada no filme “Dançarina Loura” e indicada ao prêmio, mas o artista não havia sido creditado na obra e, portanto, também não foi considerado no prêmio. A luta por esses reconhecimentos vem sendo travada há alguns anos.
Primeira diretora indicada é irmã de Marta Suplicy
Após a primeira indicação, outras produções ou coproduções brasileiras surgiram entre as indicadas ao Oscar, mas foi somente nos anos 1980 que ocorreu a segunda vez que uma pessoa brasileira, não uma produção, ganhou uma indicação.
Foi Tetê Vasconcellos, cineasta e irmã da política Marta Suplicy, que recebeu a menção pela direção do documentário “El Salvador: Another Vietnam”, em 1981, dividida com o realizador e produtor estadunidense Glenn Silber.
Além de ser a segunda brasileira indicada ao Oscar na história, Tetê foi também a primeira profissional da direção do País a receber uma indicação.
Documentário é categoria com mais indicados do Brasil além de Filme Internacional
Nos 80 anos desde que o Brasil foi pela primeira vez indicado ao Oscar, foram cinco as produções que representaram o País na categoria de Melhor Filme Internacional (antigamente conhecida como Melhor Filme em Língua Estrangeira):
O Pagador de Promessas (1962), O Quatrilho (1995), O Que É Isso, Companheiro? (1997), Central do Brasil (1998) e Ainda Estou Aqui (2024)
Além dela, a categoria com mais indicados do Brasil (levando em conta profissionais brasileiros envolvidos ou coprodução com outros países) é a de Melhor Documentário, na qual também são cinco os representantes.
“Raoni”, sobre o líder indígena, foi codigirido pelo belga Jean-Pierre Dutilleux e o brasileiro Luiz Saldanha, é uma coprodução Brasil-Bélgica-França e foi indicado em 1978.
Já em “El Salvador: Another Vietnam” (1981), a diretora Tetê Vasconcellos recebeu indicação, mas a obra é uma produção inteiramente estadunidense. Três décadas depois, chegou a indicação de “Lixo Extraordinário”, coprodução Brasil-Reino Unido sobre o artista visual brasileiro Vik Muniz.
Em 2014, “O Sal da Terra”, sobre o fotógrafo Sebastião Salgado e codirigido pelo filho dele, o diretor Juliano Ribeiro Salgado, foi indicado. A presença mais recente do País na categoria ocorreu com “Democracia em Vertigem” (2019), dirigido por Petra Costa.
Brasileiros com mais indicações
Entre as dezenas de “indicações brasileiras” ao Oscar, somente dois profissionais foram mais de uma vez reconhecidos diretamente pela premiação: Carlos Saldanha e Walter Salles. Cada um foi indicado duas vezes ao prêmio.
O primeiro a conseguir o feito foi o diretor Carlos Saldanha, que recebeu indicações em Melhor Curta de Animação por “Gone Nutty” (2003) — protagonizado pelo esquilo Scrat, de “A Era do Gelo” — e Melhor Animação por “O Touro Ferdinando” (2017). "A Era do Gelo", em si, também disputou em Melhor Animação, mas Saldanha foi creditado como codiretor e, por isso, não foi oficialmente indicado.
Já a conquista de Walter Salles se deu com as indicações de “Central do Brasil” (1998) e “Ainda Estou Aqui” (2024) na mesma categoria, anteriormente conhecida como Melhor Filme de Língua Estrangeira e rebatizada como Melhor Filme Internacional.
Produção brasileira com mais indicações
Apesar das três importantes indicações de “Ainda Estou Aqui” no Oscar de 2025, o longa não é o filme brasileiro que conseguiu mais menções na premiação. Tal título pertence a “Cidade de Deus”, indicado em 2003 a quatro categorias.
Curiosamente, o longa de Fernando Meirelles foi o representante oficial do Brasil para a disputa de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 2002, mas não conseguiu a indicação.
No entanto, a obra se tornou elegível para o ano seguinte, recebendo indicações em quatro categorias: Melhor Direção, Melhor Roteiro Adaptado, Melhor Fotografia e Melhor Edição.
Indicações “quase brasileiras” incluem vencedores como “Me Chame Pelo Seu Nome”
Diferentes produções e profissionais indicadas e até vencedoras no Oscar possuem “DNA brasileiro” em diferentes níveis, mas não são consideradas presenças do País de forma oficial. É o caso de “Orfeu Negro”, que venceu o prêmio de Melhor Filme em Língua Estrangeira em 1960.
Apesar de gravado no Rio de Janeiro, falado em português, com parte do elenco brasileiro e roteiro adaptado de uma obra de Vinícius de Moraes, o longa é uma produção francesa e foi dirigido por Marcel Camus.
“O Beijo da Mulher Aranha”, coprodução entre EUA e Brasil, foi indicado em quatro categorias em 1986, incluindo Melhor Diretor para Hector Babenco, argentino naturalizado brasileiro. As outras indicações foram para profissionais estrangeiros, incluindo William Hurt, vencedor do prêmio de Melhor Ator.
Outra curiosidade é a do longa “Me Chame Pelo Seu Nome”, indicado às categorias de Melhor Filme, Ator, Canção Original e Roteiro Adaptado, a qual venceu. Com elenco de Hollywood, direção do italiano Luca Guadagnino e roteiro do estadunidense James Ivory, a obra é uma coprodução entre Itália, França, EUA e Brasil, representado pelo carioca Rodrigo Teixeira.
Outra situação específica é da diretora de arte Luciana Arrighi, três vezes indicada ao Oscar na categoria de Melhor Direção de Arte (1993, 1994 e 2000, vencendo na primeira delas). Filha de pai italiano e mãe australiana, ela nasceu no Rio de Janeiro, onde viveu até os dois anos, mas não é cidadã brasileira.