‘Ainda Estou Aqui’ e Fernanda Torres furam a fronteira e mostram ao mundo o que o Brasil ‘tem de rico’

Indicações ao Oscar históricas evidenciam, ainda, a riqueza do País para os próprios brasileiros

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
(Atualizado às 10:59, em 24 de Janeiro de 2025)
Legenda: 'Ainda Estou Aqui' conquista três indicações históricas no Oscar 2025, incluindo Melhor Filme
Foto: Gareth Cattermole / Getty Images North America / Getty Images via AFP

Bem antes do anúncio das três indicações históricas do filme brasileiro “Ainda Estou Aqui”, dirigido por Walter Salles, ao Oscar de 2025, a atriz Fernanda Torres refletiu sobre a crescente reação emocional do público do País às conquistas que a produção já estava angariando.

“Quando alguém fura a fronteira e leva algo que nos é pessoal para fora, é essa espécie de sentimento de ‘olha o que a gente tem de rico’”, definiu a artista, indicada na manhã desta terça-feira (23) ao Oscar pelo papel de Eunice Paiva, em entrevista ao Uol em novembro.

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É este o preciso sentimento que o longa e Fernanda proporcionaram a milhões de brasileiros com o anúncio das indicações de Melhor Atriz, Melhor Filme Internacional e Melhor Filme — a principal do evento e que, pela primeira vez, reconhece uma produção do País.

Narrando uma história cara ao Brasil — os impactos reais da ditadura militar numa família durante os anos 1970 —, “Ainda Estou Aqui” mostra ao mundo inúmeras riquezas reconhecíveis a cada brasileiro: o poder da cultura, a importância da permanência da memória entre gerações e a força da humanidade em meio às agruras que insistem em impor a nós.

Adaptada do livro homônimo escrito pelo filho de Eunice, Marcelo Rubens Paiva, o longa 'Ainda Estou Aqui' mostra os impactos reais da ditadura militar numa família nos anos 1970
Legenda: Adaptada do livro homônimo escrito pelo filho de Eunice, Marcelo Rubens Paiva, o longa 'Ainda Estou Aqui' mostra os impactos reais da ditadura militar numa família nos anos 1970
Foto: Divulgação

Tudo isso é partilhado a partir de uma trama — adaptada do livro homônimo escrito pelo filho de Eunice, Marcelo Rubens Paiva — que conta a história do desaparecimento do deputado Rubens Paiva (interpretado por Selton Mello) pelo ponto de vista de Eunice, esposa e mãe que, a partir disso, se tornaria anos depois importante defensora dos direitos humanos no País.

Se a indicação do longa de Walter Salles em Filme Internacional já era dada como quase certa, as últimas semanas foram de fortalecimento e ascendência para o nome de Fernanda Torres para Melhor Atriz. O nome da brasileira, anunciado por último nesta manhã, parecia ter sido a coroação dos reconhecimentos do dia.

A presença da produção nas duas disputas teve, desde o início, camadas simbólicas para a cultura e a história brasileiras: o último longa que conquistou espaço em ambas tinha sido justamente, há 26 anos, “Central do Brasil”, também dirigido por Walter Salles e protagonizado por Fernanda Montenegro, mãe da nova indicada.

A sequência dos anúncios culminou, naturalmente, no de Melhor Filme, no qual 10 produções seriam apresentadas na lista. Houve quem apostasse na presença de “Ainda Estou Aqui”, como a revista americana Variety chegou a fazer, mas a ideia parecia distante. Até se tornar fato.

Primeiro longa brasileiro indicado na principal categoria da — quer se queira ou não — maior premiação global do audiovisual, “Ainda Estou Aqui” segue fazendo história. 

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Já havia feito antes: ao levar mais de 3 milhões de espectadores aos cinemas, ao ocupar sessões em horários nobres nas salas de grandes complexos e shoppings pelo País, ao entrar na pauta de conversas cotidianas à mesa da família ou entre amigos, ao evidenciar Eunice Paiva, Rubens Paiva e temas como democracia, resistência e reparação nesses mesmos círculos.

São partes importantes, relevantes, daquilo que temos de rico. Mostrar tudo isso ao mundo e, ainda além, lembrar essa riqueza para o próprio Brasil é um serviço histórico que “Ainda Estou Aqui” tem prestado ao País.

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