Para próximo Carnaval de Fortaleza, secretária promete mais tempo para editais e priorizar avaliação da classe artística
Após “risco muito grande” do Carnaval de Fortaleza não acontecer em 2025, Helena Barbosa faz balanço de Ciclo Carnavalesco descentralizado e desafiador
Avaliação de editais junto à classe artística, fortalecimento da institucionalidade da Secretaria da Cultura de Fortaleza e “mais tranquilidade” e tempo para a execução da festa são alguns dos pontos prioritários para o próximo Ciclo Carnavalesco de Fortaleza, conforme partilha Helena Barbosa, titular da Secultfor, ao Verso.
Em 2025, a festa contou com 11 dias de programação de Pré-Carnaval espalhada por 20 diferentes polos e, também, quatro dias de agenda oficial de Carnaval com atrações em sete polos da Cidade.
Veja também
No entanto, conforme a secretária, houve “risco muito grande” da política cultural não acontecer neste ano por conta dos impactos da mudança de gestão à frente da Prefeitura.
“É muito complexo o Carnaval de Fortaleza por ser uma grande estrutura, por mexer com várias pastas, ainda com um monte de território. Não precisava esse risco muito grande de não ter acontecido”
A maior parte dos editais do Ciclo Carnavalesco 2025, por exemplo, foi lançada pela gestão anterior no final de dezembro de 2024.
“Não havia tempo hábil nenhum de rodar os quatro editais do Carnaval para ele acontecer. Para rodar esse tipo de edital, preciso de pelo menos três a quatro meses”, explica.
Três deles foram lançados nos últimos dias do ano passado e um ficou para o início deste ano, já pela nova gestão:
- Edital de Concessão de Apoio Financeiro ao Desfile das Agremiações Carnavalescas na Avenida Domingos Olímpio de Fortaleza 2025, lançado em 27/12/2024;
- Edital de Concessão de Apoio Financeiro aos Blocos de Rua Independentes do Ciclo Carnavalesco de Fortaleza 2025, lançado em 27/12/2024;
- Edital de Credenciamento de Artistas e Grupos para o Ciclo Carnavalesco de Fortaleza 2025, lançado em 30/12/2024;
- e Edital de Pesquisadores do Ciclo Carnavalesco 2025, lançado pela atual gestão em 9 de janeiro
“(Eles) têm que ser lançados em outubro. Isso faz com que os processos sejam rodados com tranquilidade, com que se respeite o tempo das outras secretarias, com que as pessoas minimamente recebam antes”, reforça Helena.
A concretização da festa, credita a gestora, foi possível com “muito esforço da gente e muita prioridade na publicação de DOM (Diário Oficial do Município), em avaliação jurídica, em colocar gente extra”.
“Se não houvesse essa prioridade com esse corpo todo da Prefeitura para rodar (as políticas) e se eu não trouxesse para a equipe pessoas que já rodam eventos há muito tempo, não daria certo, a gente não teria nem atração”, afirma.
Segundo Helena, “a prioridade da prioridade” para o próximo ciclo é “que a gente consiga ter tranquilidade, mais responsabilidade, em rodar os instrumentais da institucionalidade da Secretaria”.
Descentralização como marca — mas acentuada no Pré-Carnaval
Uma das marcas do Ciclo Carnavalesco 2025 foi a programação descentralizada. O gesto, no entanto, se concentrou durante o Pré-Carnaval, nos quais 20 polos receberam atrações em diferentes datas.
Já nos quatro dias de Carnaval, foram sete os polos ativos — um a menos do que na festa oficial do ano passado. Isso se deu em especial por impactos financeiros do início da nova gestão.
“Por uma questão de redução orçamentária, a gente não conseguiu ter 20 palcos acontecendo durante todo o ciclo. A nossa ideia inicial era essa e, diante do quadro que a gente encontrou a Prefeitura de Fortaleza, a gente teve que planejar e agir de forma estratégica (para) dar o tom da política da descentralização e ao mesmo tempo respeitar um teto orçamentário”
Conforme Helena, um estudo feito pela equipe e apresentado ao prefeito Evandro Leitão chegou ao modelo que foi efetivado — “em que a gente respeitava o teto, ampliava (os polos) e economizava diante do quadro”.
Dados de público de cada polo deste Ciclo Carnavalesco foram levantados por equipes de pesquisadores e serão publicizados posteriormente. Segundo a gestora, a lotação dos novos palcos foi variada.
“Esses polos que não foram lotados nunca receberam programação, então é a primeira vez que chega dentro desse território uma programação desse porte. As pessoas vão se acostumando. É também um processo de formação de plateia”, considera Helena.
Entre os destaques de público, a secretária cita a Barra do Ceará e a Praça Santa Cecília, no Grande Bom Jardim.
“Não precisa ter uma grande atração, é fazer um trabalho bem feito. É bacana ver uma estrutura bem cuidada, ordenamento, a presença dos órgãos que compõem o plano operacional. Isso faz com que as pessoas se sintam acolhidas, respeitadas e queiram estar ali”, defende.
Impactos econômicos da festa descentralizada
Entre as pesquisas produzidas a partir do Ciclo Carnavalesco de 2025, uma será focada nos impactos financeiros das programações. Neste sentido, a descentralização deve ter papel relevante nos resultados.
Isso porque o espalhamento das festas do Pré-Carnaval por 20 espaços da Cidade também fez com que vendedores ambulantes de outros territórios tenham sido alcançados pelo credenciamento oficial da Prefeitura.
“Eles nunca eram contemplados, já que (a programação) se concentrava. Em cada polo, a gente tinha pelo menos 20 ambulantes, o número do menor palco. Agora você multiplica isso por 20 polos, sabendo que nos outros polos têm muito mais ambulantes. A gente acredita que vai ter um impacto bastante positivo”, antevê a secretária.
Veja também
O grupo de pesquisa, explica Helena, está levantando dados “externos”, referentes ao impacto econômico nos territórios, e também “internos”, “para a gente saber a quantidade de trabalhadores da cultura que estiveram envolvidos nessa festa”.
Classe artística será convidada a avaliar editais após críticas
Um ponto de questionamento de parte do público e da própria classe artística ocorrido no Ciclo se deu em relação ao edital de credenciamento de artistas e grupos. Isso porque blocos e bandas consideradas “tradicionais” se apresentaram menos vezes no período.
Segundo a gestão, isso se deu para trazer maior diversidade de artistas e grupos a serem contratados para as apresentações de Pré-Carnaval e Carnaval. “A gente saiu de 86 apresentações para quase 150. Ou você cobre o pé, ou cobre a cabeça. Se eu tiver que repetir as bandas, deixo de colocar outras pessoas para cantarem”, aponta Helena.
Ressaltando que o edital é de credenciamento, o que configura que os habilitados e aprovados ficam à disposição da curadoria para serem ou não contratados, a secretária reforça que a intenção da programação foi “valorizar” mais artistas.
“A gente fala muito sobre valorização dos artistas de Fortaleza, mas isso não se resume a uma banda ou grupo. É a ampliação de mostrar toda essa cena. Seria incoerente da minha postura repetir pessoas e deixar outras de fora que foram também habilitadas tecnicamente, juridicamente, e que a gente viu que tinham perfil para integrar a curadoria”
Conforme Helena, alguns artistas chegaram a ser recebidos pela gestão com demandas referentes à questão. “Às vezes, é só questão de não deixar que o silêncio seja o canal de diálogo entre nós”, afirma.
Para tanto, a Secultfor deve promover, como adianta a secretária, uma avaliação dos editais de credenciamento e de maracatus por parte da própria classe artística para aprimorar critérios e decisões dos próximos ciclos.
“Quando a gente faz um pacto de forma cooperada, ele não pode ser questionado lá na frente porque a gente já teve conversa em torno do objeto", aponta Helena.
"É comum, a partir da nossa decisão, agradar e não agradar, mas o mais importante é conversar sobre as questões, atender as pessoas, ter um processo de esclarecimento e fazer nossas avaliações, tanto a gente enquanto instituição, quanto o artista enquanto cena”