Pinacoteca do Ceará reúne Anita Malfatti, Volpi e Rosana Paulino em parceria com o MAM São Paulo

Exposição com acervo das duas instituições abre neste sábado (7), em Fortaleza.

Escrito por
João Gabriel Tréz joao.gabriel@svm.com.br
Entre obras do acervo do MAM São Paulo em exposição na Pinacoteca, está a série 'Bastidores' (1997), de Rosana Paulino
Legenda: Entre obras do acervo do MAM São Paulo em exposição na Pinacoteca, está a série "Bastidores" (1997), de Rosana Paulino
Foto: João Musa / Divulgação

Obras de nomes históricos e contemporâneos das artes visuais do Brasil — de Anita Malfatti, Alfredo Volpi e Di Cavalcanti a Rosana Paulino, Jonathas de Andrade e os cearenses Efrain Almeida e Yuri Firmeza — estarão expostas para o público em Fortaleza a partir de uma parceria entre a Pinacoteca do Ceará e o Museu de Arte Moderna de São Paulo.

A aproximação entre as duas instituições museais, que inclui a doação de 87 obras do Clube de Colecionadores da entidade paulista ao acervo da cearense, é celebrada na exposição “MAM São Paulo na Pinacoteca do Ceará: figura e paisagem, palavra e imagem”, que tem abertura no sábado (7), a partir de 17h.

Múltiplas materialidades e temáticas

Com curadoria de Cauê Alves e Gabriela Gotoda, a mostra traz um total de 94 obras, sendo metade pertencente ao acervo do MAM e a outra vinda da doação feita à Pinacoteca. O lote doado, apontam os curadores, trazia diversos trabalhos com questões e noções em diálogo.

Foi isso o que guiou o olhar curatorial para os dois “temas” principais da mostra, destacados já no título: a relação entre figura e paisagem e, ainda, a presença da escrita nas artes visuais. 

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A dupla, então, se debruçou na coleção do próprio MAM para procurar “obras que também permitissem essa aproximação com as noções de figura, paisagem, palavra, imagem, realizadas por artistas importantes da história da arte moderna brasileira e da produção contemporânea”.

“Com isso, reunimos 94 trabalhos de diferentes linguagens e procedimentos técnicos, como fotografia, xilogravura, serigrafia, pintura, desenho, escultura, bordado, vídeo, entre as mais variadas combinações e derivações”, seguem, apontando que o conjunto reflete a “multidisciplinaridade” da arte brasileira.

Obra 'Paisagem' (1944), de Clóvis Graciano, compõe exposição da Pinacoteca do Ceará em parceria com o MAM São Paulo
Legenda: Obra 'Paisagem' (1944), de Clóvis Graciano, compõe exposição da Pinacoteca do Ceará em parceria com o MAM São Paulo
Foto: Romulo Fialdini / Divulgação

A exposição inclui obras como um desenho sem título de Anita Malfatti; as pinturas “Pescadores” (1939-40), de Alfredo Volpi, e “Nu” (1940), de Iberê Camargo; monotipias de Tunga; e ainda trabalhos de nomes como Alair Gomes, Bárbara Wagner, Cao Guimarães, Emídio de Souza, Mira Schendel e Xadalu Tupã Jekupé.

Relação entre as instituições vai além da doação e da exposição

Ao Verso, os curadores apontam que a totalidade da doação do MAM São Paulo para o equipamento cearense contempla obras datadas entre 1982 e 2020, todas ligadas ao Clube de Colecionadores de Gravura e Fotografia do museu paulista.

“O Clube de Colecionadores foi fundado em 1986 com o objetivo de estimular a produção artística contemporânea, além de incentivar e democratizar o colecionismo de arte. Perto de completar quarenta anos, é o programa institucional mais longevo do museu, que preserva em sua coleção permanente exemplares de todas as edições já realizadas”, contextualizam.

Em 2021, após inventariar a coleção, o MAM identificou repetições de obras e, a partir disso, têm travado parcerias com diferentes instituições culturais do País para doação de lotes de trabalhos com propostas e linguagens diversas.

Obra sem título da série 'Vida da minha vida' (2019), do cearense Yuri Firmeza, pertencente à coleção da Pinacoteca do Ceará
Legenda: Obra sem título da série 'Vida da minha vida' (2019), do cearense Yuri Firmeza, pertencente à coleção da Pinacoteca do Ceará
Foto: Pinacoteca do Ceará / Divulgação

O lote doado ao museu cearense traz obras de nomes importantes da arte contemporânea brasileira, incluindo o cearense Efrain Almeida, Rosangela Rennó, Rivane Neuenschwander, Luiz Paulo Baravelli, Iole de Freitas, Lenora de Barros e Carmela Gross, entre outros.

Diretor da Pinacoteca do Ceará e artista visual, Rian Fontenele contextualiza que a parceria se deu primeiramente por aproximação e diálogo naturais entre as instituições, “com o objetivo de fortalecer o intercâmbio nacional e compartilhar experiências em formação, mediação museal, em acervo e em práticas artísticas”.

Deste diálogo inicial, veio a oportunidade da ampliação do acervo da Pinacoteca com a doação das obras por parte do MAM e, então, a atual mostra.

“A exposição não estava necessariamente prevista desde o início, mas foi um desdobramento natural dessa parceria, que acaba possibilitando a ampliação do acervo público com obras de grande valor cultural, fortalecimento do discurso museológico da Pinacoteca incorporando novas narrativas e, principalmente, o acesso a obras importantes que dificilmente chegariam no Ceará sem essa colaboração”
Rian Fontenele
diretor da Pinacoteca do Ceará

Das 87 obras doadas e agora pertencentes à instituição cearense, 40 delas não estão no recorte curatorial proposto pela exposição. Rian explica que elas “integrarão futuras mostras temáticas e podem participar de itinerâncias e projetos educativos, assim como a possibilidade de pesquisas para curadores, críticos, artistas”.

Parcerias com perspectiva cearense

O trabalho em conjunto com o Museu de Arte Moderna de São Paulo se soma a uma série de outras parcerias já estabelecidas entre a Pinacoteca do Ceará e diferentes instâncias nacionais da arte, de instituições a eventos.

Rian Fontenele elenca, entre outras, colaborações com a Pinacoteca de São Paulo, o Itaú Cultural, o Instituto Moreira Salles e o Festival Internacional Verbo de Performance, por exemplo. 

“Ressalto que todas essas exposições e parcerias acontecem numa construção junto e a partir do Ceará”, destaca. “São construídas a partir da nossa realidade e sempre com uma pesquisa local e um diálogo com nosso acervo”, reforça.

“A Pinacoteca do Ceará tem essa prática já consolidada de trabalhar em rede com outras instituições, fortalecendo muito o seu papel no cenário cultural brasileiro a partir de uma perspectiva cearense”
Rian Fontenele
diretor da Pinacoteca do Ceará

Cauê e Gabriela ecoam a importância de aproximações como essa. “Quando duas instituições se juntam com o mesmo propósito, todos saem ganhando. A parceria aumenta a visibilidade das coleções e contribui para uma troca e aprimoramento de experiências dos profissionais envolvidos”, apontam.

O fortalecimento, acrescenta Rian, é de múltiplos alcances. “Essa iniciativa reforça muito a importância da articulação entre instituições culturais brasileiras, da formação de uma rede onde possamos não só trocar, mas fazer circular pensamento, pesquisa, ação, curadoria e os próprios acervos, descentralizando e democratizando o acesso à arte e qualidade em museus públicos”, defende.

“MAM São Paulo na Pinacoteca do Ceará: figura e paisagem, palavra e imagem"

  • Quando: abertura sábado, 7, às 17 horas; visitação até 21 de setembro, de quarta a sexta, das 10 às 18 horas, sábado, das 12 às 20 horas, e domingo, de 10 às 17 horas
  • Onde: Pinacoteca do Ceará (Rua 24 de maio, s/n, Centro)
  • Acesso gratuito; classificação indicativa de 14 anos
  • Mais informações: @pinacotecadoceara e www.pinacotecadoceara.org.br
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