O que é Bololô? Falcão lança música com gíria popular no TikTok
Single e clipe estão disponíveis nas plataformas digitais, entre funk, brega e dance; músico e humorista se une a DJ Ari SL para entregar performance engraçada e envolvente
Se você nunca ouviu falar, relaxe: Falcão também não conhecia o termo e, mesmo assim, gravou música sobre o tema. “Bololô” é o novo single do artista, disponível desde quinta-feira (2) nas plataformas digitais. Junto a DJ Ari SL, o cearense, um dos maiores nomes da comédia nacional, entrega gaiatice, malemolência e inesperadas reflexões.
Com quase três minutos, a música mistura funk, brega e dance a partir da batida pop-eletrônica irresistível de DJ Ari e, claro, ao carisma sem precedentes de Falcão. A letra – assinada pelo quarteto Gustavo Protásio, João Flores, Matheus Rodrigues e João Dalzoto, do hit “Descer pra BC”, interpretado por Brenno & Matheus – se utiliza de memes como “Que show da Xuxa é esse?” para dialogar diretamente com a audiência, seja ela jovem ou adulta.
Falando em juventude, foi nessa fonte que a produção bebeu a fim de trazer a expressão-título à tona. Segundo Falcão, “bololô”, em bom português, significa festa, balada, bagunça, confusão.
Em algum momento da canção, ele mesmo pergunta: “Que diabo é bololô?”. “É uma gíria da garotada. Quem quer aproveitar, junta todo mundo e vai pro bololô, ou seja, vai para uma festa, uma balada, uma parada qualquer”, explica, aos risos.
Veja também
Em determinado trecho, a aplicação do termo na frase deixa ainda mais claro o significado: “As novinha tão querendo Iphone, roupa cara e bololô”. Para o cearense, além de toda a energia engraçada, a música tem possibilidade de gerar sutil reflexão sobre o antagonismo entre o velho e o novo, o que passou e o que está em voga.
“Tem outro detalhe também: não vi o processo de composição, mas os autores pensaram no que tinha acontecido em décadas passadas – algumas coisas, por sinal, não casam com a cronologia. Fala-se em Getúlio Vargas em meados de 1963, mas não pode porque Getúlio morreu antes disso; que o Rio de Janeiro era a capital federal, e em 1963 não era mais”, ri.
“Vi todas essas idiossincrasias, esses errinhos, e deixei porque achei interessante. Acho que pode instigar as pessoas a ir atrás para, de fato, saber, ‘será que foi isso mesmo que aconteceu nessa época?’. Não é igual aos bregas que já gravei, nem aos rocks que também já fiz. Está mais para um funk – um gênero tão execrado por certas pessoas. Quis entrar nessa seara”.
Proximidade com a juventude
Em plena forma física e criativa aos 68 anos, Falcão não teme se lançar em projetos como este porque, à medida que tecnologias e novas tendências surgem, ele logo se adequa e chega junto. A presença constante nas diferentes redes sociais e o próprio fato de ter como matéria-prima de trabalho o humor favorecem esse cenário.
“Quando as redes sociais surgiram, fui logo entrando, me enturmando, porque acho que é sempre uma linguagem que tenho que dominar. Resultado: consigo me entrosar perfeitamente com todas as gerações, até mesmo com o público infantil. Tem muita criança no meu fã-clube, e essas crianças foram crescendo a ponto de hoje estar na faixa mais jovem. É muito legal ter essa mistura de faixas etárias em quem me acompanha”, festeja.
Ao mesmo tempo, reflete sobre a produção de humor por artistas contemporâneos. Para ele, a linguagem do meme, do stand-up e até de uma comédia alinhada a algo mais “esculhambado”, conforme menciona – bastante forte entre as décadas de 1980 e 1990 – podem ser encontrados Brasil afora, algo tão curioso quanto atraente.
Não deixa de ser oportunidade para ele aprender e, mais uma vez, se adaptar. “Faz a gente descer um pouco do pedestal, ficar mais humilde. Sempre tendemos a achar que a geração da gente é que é boa, que a música de hoje é muito ruim e tal. Mas não é assim. Tem muita gente boa fazendo coisa boa, e ensinando. E muita gente ainda não sabe dessa realidade”.
Falcão na MPB
Voltando à música, a proposta é que “Bololô” seja um trabalho entressafra, para movimentar ainda mais a carreira de Falcão – além do segmento musical, o artista tem se dedicado cada vez mais ao cinema, por exemplo. Entre outras produções, é presença confirmada em “O Shaolin do Sertão 2”, continuação de um dos principais sucessos do diretor Halder Gomes.
No quesito novidade, os próximos passos do cearense prometem muito. Um deles é a aposta no segmento da Música Popular Brasileira: quer lançar disco no qual a vertente mais tradicional do cancioneiro nacional entre em evidência. “Uma coisa bem classe A, de Chico, Caetano, Fagner… Vamos ver no que vai dar”, arrisca.
“Minha principal ideia foi a seguinte: como ninguém aguenta mais funk ruim, piseiro ruim, comecei a pensar o seguinte: ‘O negócio está tão ruim, tão esculhambado, que a maior esculhambação é o Falcão gravar uma coisa séria”, gargalha. “Ainda estamos gravando, devagarinho, bem à vontade, para dar tempo e não atrapalhar nada”.
Até lá, haja bololô para escutar e assistir – um clipe da canção também foi lançado, no mesmo estúdio onde a gravação sonora aconteceu. Jeito totalmente Falcão de brindar o gracejo e a magia de estar neste tempo. “Humor é algo que você pode lançar em qualquer área, até num velório. Os assistentes do velório talvez não gostem, mas o morto vai gostar”.