Gravações de ‘O Shaolin do Sertão 2’ passam por várias cidades do Ceará; conheça bastidores do filme
Com orçamento de R$10 milhões, sequência aposta em elementos que consagraram o anterior e adiciona novos nomes ao elenco
Sequência do longa de 2016, “O Shaolin do Sertão 2” já é realidade. O filme está em fase de produção e pode ser considerado o projeto mais desafiador da carreira de Halder Gomes. Pudera: são 62 cenários utilizados, novos nomes adicionados ao elenco e investimento maciço em avanços tecnológicos. O resultado, segundo a equipe, deve surpreender o público.
Veja também
“O primeiro filme foi um grande sucesso, e eu torcia mesmo que fosse porque a gente queria falar mais desse mundo. Felizmente aconteceu”, confessa Halder Gomes, que assina direção dos dois longas. Segundo ele, Quixadá, Aquiraz e Fortaleza foram algumas cidades por onde o projeto já passou para contar o próximo capítulo da jornada de Aluísio Li (Edmilson Filho).
Na Capital, o Verso teve oportunidade de visitar um dos sets de gravação, e a produção realmente impressiona. Dezenas de profissionais transitando de um lado para o outro, grandes estruturas montadas em estúdio e trabalhos de diferentes naturezas se intercambiam de modo a deixar tudo tecnicamente impecável. O esforço é geral e coletivo.
Uma das grandes novidades diz respeito à utilização de um grande painel de LED para ambientar, em estúdio, o que poderia ser gravado em locação externa. De acordo com Halder, apesar de preferir estar in loco nos cenários, a necessidade de um recurso dessa magnitude proporciona maior conforto para a equipe e otimiza determinadas logísticas.
“Vale a pena ser utilizado numa situação em que você precisa colocar um carro no meio da estrada com todos os atores dentro, no calor e tudo. Isso é muito complexo, e o estúdio traz esse conforto – embora eu seja um grande apaixonado pela locação. Esse é o único momento em que estamos no estúdio, mas por questões de logística, menos por questões estéticas”, diz.
“Sou aficionado pelos lugares, pela cidade, por conviver, integrar o cinema ao lugar, integrar as pessoas trabalhando no projeto. Essa interação é que faz o cinema ser algo tão pulsante e inclusivo. Isso é o que me fascina”, completa o cineasta. No rol das novidades, também está quem ele chamou para integrar a nova empreitada.
Destaque aos atores Priscila Fantin e Marcelo Serrado, cuja presença deve iluminar ainda mais a trama com personagens que oferecem contrapontos a Aluísio Li – embora, ao mesmo tempo, auxiliem o herói a contar a própria história diante das adversidades que a nova trajetória reserva.
A trama do filme
Após terminar o primeiro filme no auge, glorioso e bem-sucedido com a própria academia de luta, neste segundo Aluísio Li passará por instantes não tão bons. A trama ocorre dez anos depois daqueles acontecimentos e reflete a necessidade de o herói retomar a autoestima, resgatando o espírito guerreiro para embarcar em uma jornada de grandes desafios.
Com orçamento de R$ 10 milhões advindo da Agência Nacional do Cinema (Ancine) por meio do Fundo Setorial do Audiovisual (FSA), além de produção de ATC Entretenimentos e co-produção de Telecine, Corte Seco e Mei do Mundo, “O Shaolin do Sertão 2” começou a ser pensado tão logo o longa anterior foi lançado.
O tempo que passou para ser realizado refletiu a busca por financiamento e precisou enfrentar entraves como a pandemia de Covid-19. Nada que tenha abalado a sina aguerrida de Halder. Segundo ele, apesar das barreiras – além das já mencionadas questões, ainda há a recriação de cenários à la anos 1990 – sempre contou com equipe de ponta, o que facilitou o fluxo.
“A gente tá contando uma história que passa por várias cidades e momentos, com inúmeras lutas, personagens, coreografias e efeitos visuais. São muitos elementos que, juntos, transformam esse filme numa grande produção e o público vai ficar espantado, à altura da expectativa que o primeiro criou”, antecipa.
“Temos uma equipe extremamente qualificada. As pessoas que estão aqui são as mesmas que fazem os grandes filmes nacionais de drama, por exemplo. E são as mesmas justamente para imprimir o talento delas, a arte e a qualidade na comédia pra que esse gênero comece a colocar outros parâmetros na forma de fazer cinema no Brasil. Vamos subir o sarrafo”.
Pois vamos à turma. Liderando o elenco está Edmilson Filho, selando mais uma da longeva parceria com Halder. Voltar ao projeto, nas palavras dele, é um “prazer muito grande” porque o filme mexe com a própria história do artista, haja vista o cenário de lutas e a cearensidade retumbante do roteiro. “É um personagem que pra onde eu vou, me acompanha”, vibra.
Descrevendo Aloísio como inocente e sonhador – o que, para o ator, foi o que conquistou a audiência – ele reflete que, agora, o hilário lutador volta mais “apanhado” da vida, com várias decepções e fracassos, tendo que recuperar tudo o que perdeu. Para o papel, Edmilson precisou considerar estar nove anos mais velho, o que demandou maior preparação.
“O físico começa a cobrar. Acho, inclusive, que a parte mais desafiadora foi essa mesmo, a física. O filme deve ter mais de 12 cenas de luta, de ação, e eu tendo que coreografar todas elas… Mas tiramos de letra, botei pra ‘voar as banda’”. Não à toa, a prerrogativa de que as pessoas cheguem mais junto neste e o considerem até mais engraçado que o antecessor.
Quem fica e quem entra
Igualmente presente no primeiro filme, o humorista Falcão também festeja o retorno à odisseia de Halder com o personagem Chinês – um charlatão que vive como ermitão. Renovar a “fuleragem” e ver a passagem do tempo no elenco estão entre os principais atributos . “Ver a gente mais velho e mais feio é de lascar, mas é isso aí”, ri.
“É uma alegria fazer projetos com o Halder. Ele e toda essa turma são culpados porque nunca imaginei na vida ser ator. Eu queria ser só um Robert De Niro, mas aí não deu”, gargalha novamente, elogiando o avanço técnico da produção e a sensibilidade do diretor de escolher atores e atrizes capazes de conversar tão bem com os respectivos personagens.
É o que acontece também com Paulo Sérgio Miranda, o Bolachinha. Desta vez, ele será Eustáquio, uma vigarista, parceiro de deboches dos personagens interpretados por Marcelo Serrado e Priscila Fantin. “O público vai adorar esse meu novo personagem, ele é um grande trambiqueiro”, comenta ao finalizar figurino e maquiagem para gravar. E, olhando para a maratona de atividades ao redor, confidencia: “Vou sentir saudades quando tudo acabar”.
Esse componente afetivo da equipe atravessa ainda João Pimenta, Fábio Goulart e Samuel Girão. O primeiro – baiano com experiência em stand-up comedy – estreia em trabalhos com Halder Gomes na pele de um mecânico cujo trabalho é agilizar os consertos do veículo no qual os protagonistas transitam. Na fala, a alegria incontida de estar na empreitada.
“Tá sendo divertido pra caramba, uma verdadeira escola, principalmente a partir do contato com esse rapaz aqui (aponta para Falcão). É um professor, um mestre, e não é demagogia, não – mestre na fuleragem, nos aprendizados, nas rimas, então está sendo muito bom”, enumera. “Principalmente por ser cinema, é uma experiência bem massa”.
Fábio Goulart, por sua vez, o icônico Toni Tora Pleura, dimensiona o valor da parceria com Halder Gomes e Edmilson Filho – amizade semeada há mais de 30 anos por meio do taekwondo. Conforme conta, “O Shaolin do Sertão 2” dá um passo à frente do antecessor, sobretudo por dedicar boa fatia de atenção a cada um dos personagens.
“Todos nós temos um momento no filme – sem falar das fuleragens. O Halder deixa a gente muito à vontade para criar. Inclusive, o que muda do primeiro pro segundo filme é que, no primeiro, eu era o antagonista, o lutador final; agora, sou técnico do Aluísio Li e o ajudo junto à trupe formada por Falcão, João Pimenta e nossa maior revelação, o João Pedro”.
Samuel Girão, por fim, detalha como é novamente ser o dublê de Edmilson Filho, mas também ir além, participando como ator. “Edmilson luta muito, então nas cenas de luta, principalmente neste filme, foi onde vi a melhor performance dele. Claro que tive que estar à altura – por isso mesmo, perdi quase 10 quilos pra fazer o personagem. Cinema é isso”.
Abrilhantar a tela
Priscila Fantin e Marcelo Serrado completam o time com toda a expertise e carisma já conferidos em inúmeras outras produções cinema e televisão adentro. É a primeira vez, no entanto, que embarcam em um projeto de Halder Gomes. Priscila o credita como gênio.
“Ele é o maestro dessa grande orquestra que é o cinema, com vários setores envolvidos, cada um fazendo tudo com muita excelência. Quando você junta tudo isso, é capaz de enxergar muitas camadas, muitos detalhes no resultado final que faz com que seja uma obra-prima, realmente muito rica. Então estou honrada de estar nesse projeto”, diz a veterana.
Ela interpreta Jussimara, alguém que traz um ar serelepe e engraçado à trama – dos figurinos ao penteado. Anda no meio de homens, mas tem a própria trupe. No avançar da história, une-se à turma de Aloísio Li, mas nunca abandona o saltão, o cabelão e os brincos. “Ela traz uma graça para aquele meio. É, como diz o Falcão, uma ‘espilicute’”, brinca.
“Tô gostando de fazer a Jussimara porque ela começa com uma personalidade – quer trapacear o Aloísio Li – mas se arrepende disso. No meio da situação, se transforma e encontra valores humanos dentro dela. Assim, ela começa de um jeito, vai se transformando e termina de outro jeito. Além disso, amo a caracterização dela, então a gente se diverte aqui”.
Marcelo Serrado não fica atrás. Será Demóstenes, “um cara safadão que faz dupla com o Bolachinha e que quer armar para conquistar o personagem do Edmilson Filho para ele lutar pra gente”. Para o ator, trata-se de um grande vilãozinho, capaz de falar castelhano, português e paraguaio. “É um 171, como se pode dizer”, resume.
“A comédia feita por Halder e Edmilson é genial e única porque leva algo lúdico e quase circense pro cinema, os arquétipos todos. Acho que as crianças e os jovens vão amar. Me lembra muito os Trapalhões, lá atrás, com filmes de ação, com Bruce Lee… Sou muito fã, tô bem feliz”, recordando também da raiz cearense a partir da mãe e da avó.
Terminado o período de gravação, o próximo passo será a pós-produção, onde inicia o processo de artesania do projeto – incluindo trilha sonora, efeitos especiais e últimos acabamentos. “O Shaolin do Sertão 2” tem previsão de chegar aos cinemas no fim de 2025.