Restaurantes e cafés em Fortaleza apostam em jeito e cara de casa para aproximar e conquistar público
Estabelecimentos priorizam estética e cardápio familiares para trazer sensação de aconchego
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As fachadas pintadas em cores vibrantes e os portões abertos não negam, a disposição dos cômodos reforça e a acolhida das equipes confirma: é para se sentir em casa. Em Fortaleza, diferentes estabelecimentos comerciais oferecem ao público experiências que se aproximam do cotidiano do lar.
Seja no pequeno e aconchegante Del Plata, no José Bonifácio; na preservada casinha dos anos 1930 da Vila Alencarina, no Benfica; no agradável e familiar Nos Fundos da Clau, na Barra do Ceará; ou no “antirrestaurante” Merendeiro, na Praia de Iracema, a proposta, do cardápio à estética, passa pelo aconchego e pela proximidade.
Na garagem ou nos fundos de casa

Iniciativa do casal Claudiana Demetrio e Chico Fabio, o Nos Fundos da Clau funciona literalmente na casa da família, com todos os integrantes — dos filhos João Pedro e Maria Julia às gatas Marie e Tigresa, a cadela Pitukinha e as calopsitas Laguerta, Lampião e Coxinha — envolvidos no negócio.
“Nós já reuníamos nos fundos da minha casa a nossa família, os nossos amigos, já era um ambiente transformado e voltado para isso”, explica Clau, também chef. O sonho antigo de abrir um bistrô, então, foi sendo amadurecido pela experiência de recepcionar quem já era próximo.

A casa onde hoje funciona o Del Plata, especializado em massas artesanais e com atendimento somente sob reserva, foi o primeiro lar do chef argentino Gerardo Hugo Vegas ao se mudar com a família para Fortaleza.
“Quando fui começar o Del Plata, sem ideia nem intenção de um dia virar um restaurante, a casinha tinha tudo o que precisava para montar minha primeira cozinha”, relembra. “Ocupamos o espaço, fazendo reformas mínimas para manter o ambiente de casa de família, que tem tudo a ver com a cultura italiana de comer massas em família”, ressalta.

Já o Merendeiro começou, ainda em Manaus, como um negócio montado em locais onde o casal Tarcisio Maia e Ricardo Ribeiro morou: primeiro, como lanchonete na garagem da casa da mãe de Tarcísio e, depois, numa casa alugada onde os dois moravam com o pai de Ricardo e os cachorros.
Nesse segundo momento, a proposta de funcionamento se inspirou no conceito dos “antirrestaurantes”, descoberto por eles durante uma viagem para Buenos Aires e que consiste em receber pessoas para refeições em casa, sob reserva e com cardápio rotativo e limitado.
O Merendeiro rumou para Fortaleza com Tarcísio, que tem raízes cearenses, e Ricardo. Após ocupar diferentes pontos na Cidade, ele recentemente passou a ocupar um ponto na rua Tigipió, na Praia de Iracema. “É uma casa em que a gente mora, praticamente, nos dias que funciona”, garante Ricardo.

Um dos casarões antigos do Benfica, o café Vila Alencarina preserva e celebra o gosto por receber bem. “Queríamos que tudo girasse em torno da simplicidade de tomar um café acompanhado", inicia a proprietária Letícia Henrique.
“Quando encontramos uma casinha dos anos 1930, totalmente preservada em sua essência, tentamos manter a parte estrutural em grande parte, como os pisos, portas originais, janelas de vitrais, para que tudo dançasse em sintonia com a ideia de criar algo baseado na simplicidade de um café no jardim ou quintal”, descreve.
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Aconchego e nostalgia de “casa de vó”
Para além das escolhas — circunstanciais ou não — dos locais onde montar os estabelecimentos, outro ponto que agrega ao “gostinho” de casa está na forma de preencher cada cômodo.
Itens de decoração, móveis e outros aspectos estruturais de cada espaço emanam um aconchego que, muitas vezes, passa pela memória e pela nostalgia.


“Sabíamos que gostaríamos de criar uma atmosfera que nos levasse às memórias da casa da vó”, partilha Letícia, sobre a Vila Alencarina. O respeito à estrutura da casa antiga é reforçado pela presença, nos cômodos, de itens também de outros tempos.
Em uma das salas da casa, por exemplo, há um móvel com uma vitrola e vários vinis. O cliente pode escolher o preferido e colocá-lo para tocar. Há, ainda, telefones antigos, prateleiras repletas de livros e vários itens decorativos, além de um acolhedor quintal.
“A ideia era criar algo que trouxesse aconchego, que despertasse a memória afetiva lá da infância, nos quintais da casa da vó, com muita planta e cheirinho de café. Preservar essa estética sempre fez parte da nossa proposta”, afirma a proprietária do café.


A ambientação de jardim também é destacada Nos Fundos do Clau, além de uma série de decorações e espaços nos quais é possível se identificar e lembrar da própria casa.
"O ambiente também é muito aconchegante porque é a nossa casa, nosso lar, o aconchego onde você encontra muitas plantas, um ambiente agradável, gostoso", destaca a chef Clau.


A questão nostálgica também desponta no Del Plata, que ocupa uma pequena casinha em uma rua estreita e com ares de interior. “Os clientes elogiam muito o ambiente simples e aconchegante do interior e o ambiente externo tranquilo e pacato, que parece se perder no tempo”, aponta Gerardo.
Os arredores também são um elemento especial na experiência do Merendeiro. A casa que acolhe hoje o projeto está em “um pedaço da Praia de Iracema que é super preservado, um lugar que você tem vizinhança, poucos prédios, sabe o nome das pessoas”, ressalta Ricardo.
O imóvel em si, ele e Tarcísio descobriram depois, tem cerca de oito décadas e estava abandonado há mais ou menos quatro anos. Foram cinco meses de uma reforma atenta à essência do espaço.
“Quando a gente pensou na casinha, pensou principalmente em não mexer na estrutura para não descaracterizar a planta dela, os quartos, a cozinha, o quintal”, aponta Ricardo, que compara o local à “casa do interior”.
“A gente procurou deixar o telhado aparente, algumas coisas aparentes, do jeito que ela traga referências da raiz dela”, segue. “As pessoas chegam e acabam se abrindo, ‘essa casa lembra a minha infância, a casa da minha avó’ e isso pra gente é reconfortante”, dialoga Tarcísio.
Familiaridade com quem faz
É difícil precisar se a aproximação do formato da casa por estabelecimentos comerciais é tendência, movimento natural ou algo entre os dois, mas a consultora de gastronomia do Senac Vanessa Santos ressalta a relevante atenção do mercado para, aliado a servir refeições, proporcionar diferenciais e experiências nos locais.
“Comida não pode ser considerada moda, e, sim, uma linguagem social enraizada, que demora a mudar, justamente porque é laço inicial da vida das pessoas. Se o mercado percebeu isso somente agora, ao identificar que os negócios devem ‘ter jeito de casa’, ele foi quem demorou a entender que para se ter um negócio gastronômico, é preciso conhecer de várias ciências, inclusive de sociologia”
No Merendeiro e no Del Plata, por exemplo, o funcionamento é totalmente feito a partir de reservas. “É pra gente saber quem vem, criar um relacionamento, saber o nome, saber organizar a casa da melhor forma”, aponta Ricardo, sobre o Merendeiro.
“A gente serve de um jeito que as pessoas vêm buscar o prato no balcão quando está pronto justamente para ter essa relação de compromisso com o que vai comer, de falar com o Tarcísio no balcão para ele entregar o prato e desejar um bom apetite”, exemplifica.

Para o Nos Fundos da Clau, a chef define: “Nossa comida é caseira, nosso cardápio é muito voltado para essa comida de mãe". Junto a isso, a união da família no negócio — além da chef Clau e do gerente Chico Fabio, o filho mais velho do casal atua como barman e a caçula é auxiliar de cozinha da mãe — ajuda na aura de intimidade.
Conforme Vanessa Santos, essas escolhas reforçam a proximidade entre os clientes e quem faz as comidas em cada local — no caso do Merendeiro e do Del Plata, respectivamente, são Tarcísio e Gerardo.
“Comer uma comida é um dos atos mais íntimos que se pode fazer. É preciso credibilidade e relação de confiança. Logo, conhecer quem faz, conversar com quem fez a comida que você acabou de comer, sempre será mais positivo”, reforça a especialista.
Merendeiro
Com cardápio rotativo, o “antirrestaurante” divulga a cada semana três opções de pratos. A culinária servida no local, geralmente, une referências das gastronomias nortista e nordestina.
O Merendeiro abre à noite somente às sextas-feiras e, para almoço, aos sábados, domingos e segundas-feiras. É possível fazer reservas a partir de uma pessoa, com máximo que varia em oito ou dez.
Queridinhos entre as refeições servidas (com valor fixo de R$ 29,90) incluem, por exemplo, o pratinho de churrasco, que traz carnes como picanha e maminha, pão de alho e farofa, e nhoque de banana da terra ao molho de tomate e parmesão fresco
Na merenda da noite, um destaque é o hambúrguer de tambaqui, servido com banana pacovã frita, queijo coalho, vinagrete e molho de camarão (R$ 29,90). Para adoçar, servidas em potinhos, as sobremesas incluem banoffee (R$ 20) e os "primos" morangoffee (R$ 22), cupuaçoffee (R$ 25).
- Quando: sextas, de 18 às 21, e sábados, domingos e segundas, de 12 às 15 horas
- Onde: rua Tigipió, 104, Praia de Iracema
- Mais informações: (85) 8208-2773 e @merendeiromesmo
Vila Alencarina
A proposta é “servir café, reunir amigos e criar memórias”. Com funcionamento de terça a domingo, a Vila Alencarina fica aberta ao longo da tarde e da noite e é possível almoçar, lanchar e jantar no local.

Entre os itens que mais saem, estão o "Senhora" (trio de mini croissants recheados com brigadeiro de chocolate belga, geleia de morango — ambos feitos no local — e doce de leite, R$ 26,90), o "Trio Jesuíta" (3 mini hambúrgueres, R$ 28,90) e o "Iracema" (croissant de carne de sol, queijo coalho e melaço, acompanhado de salada, R$ 33,90).
Há ainda opções de cuscuz, tapioca, mais sanduíches e salgados, além de destaque também para as diversas sobremesas e cafés. O almoço tem cardápio rotativo e é servido somente aos finais de semana.
- Quando: terça a quinta, de 14 às 21 horas; sexta, de 14 às 22 horas; e sábados e domingos, de 12 às 22 horas
- Onde: rua Nossa Senhora dos remédios, 218, Benfica
- Mais informações: (85) 8226-0069 e @vilaalencarina
Nos Fundos da Clau
Com proposta de bar e bistrô, o restaurante funciona de quarta a domingo e oferta diferentes especialidades a cada dia. No serviço de bar, há um cardápio fixo com diferentes 34 petiscos e entradas.

Já na parte bistrô, os menus diários seguem a seguinte ordem: quarta das massas, quinta do camarão, sexta do “menu diferentão”, sábado com menu regional e domingo com cardápio completo à disposição. Há, ainda, drinques e uma carta de cachaças com 46 rótulos de bebida vindos do Ceará, do Nordeste e do resto do Brasil.
Os pratos “carros-chefe” são a Feijoada da Clau (com arroz, couve refogada, frutas e farofa, por R$29,90), a Panelada da Clau (com arroz e cuscuz, por R$ 25,90) e o filé mignon no molho gorgonzola com talharim na manteiga de ervas (R$ 36,90), todos individuais.
- Quando: quarta e quinta, de 17 horas à meia-noite; sexta, de 11 às 15 horas e de 17 horas à meia-noite; sábado, de 11 horas à meia-noite; e domingo, de 11 às 15 horas
- Onde: rua 6, 60, Conj. Hermes Pereira, Barra do Ceará
- Mais informações: (85) 9 8822-3727 e @nosfundosdaclau_2
Del Plata
Criado em 2016, o restaurante é especializado na produção de massas artesanais. O atendimento é apenas presencial e a capacidade do espaço é para no máximo 20 pessoas, com necessidade de reserva antecipada. O Del Plata abre para jantar de terça a sábado. Já para o almoço, somente às sextas e sábados.

Segundo o chef Gerardo Hugo, o cardápio inclui não somente pratos italianos tradicionais, mas aposta na mistura de tradição e inovação. Além das massas, o menu inclui empanadas argentinas (R$ 16) e sobremesas como pudim, alfajor e granita (todas a R$ 15).
Entre as opções que mesclam referências gastronômicas, a novidade é o Ensolarado (R$ 67), massa que leva molho veloutê de milho, carne de sol e cebola refogada. Outro destaque é o Cinque terre (R$ 72), que leva bechamel, gorgonzola, cogumelos e presunto parma.
- Quando: terça a quinta, de 19h30 às 22h30; e sextas e sábados, de 11h30 às 15 horas e de 19h30 às 22h30
- Onde: rua Santa Maria, 2 - José Bonifacio
- Mais informações: (85) 8889-3156 e @delplatapastas