Fotofestival Solar vai além da fotografia com shows, oficinas e experiências em Fortaleza e no Crato
Evento acontece de 11 a 15 de dezembro com trabalhos capazes de radiografar a complexa realidade brasileira por meio da imagem
Registros da ditadura nos 60 anos do golpe militar. Imagens, poemas e canções sobre liberdade e revolução. Oitenta fotos para 80 livros partindo do bicentenário da Independência brasileira. São apenas fragmentos do Fotofestival Solar, iniciativa que chega à terceira edição neste mês de dezembro, dos dias 11 a 15, em Fortaleza e no Crato.
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A ideia da ação segue forte: ir além da fotografia, mas partindo dela para diferentes reflexões. A vasta programação dá conta de revelar isso. Gratuitamente, exposições, oficinas, shows musicais e toda uma fartura de possibilidades com a imagem devem aproximar o público daquilo que a equipe à frente do projeto considera essencial: leituras possíveis sobre o Brasil.
“Não é um festival de fotografia, simplesmente. É um festival de fotografia em diálogo com outras linguagens. Hoje a fotografia está contaminada, diluída, misturada com outras linguagens, então é muito importante a discussão sobre cinema, literatura, música… O Fotofestival Solar faz isso”, introduz Tiago Santana, fotógrafo idealizador da iniciativa.
Segundo ele, o evento também demarca uma posição política ao sair em defesa dos equipamentos públicos e do potencial deles de entregar rica programação à sociedade, além de também fomentar olhares sobre um país diverso e complexo, com questões em sintonia com o que estamos vivendo hoje.
Artistas e trabalhos escolhidos para esta edição espelham esse componente. Entre os destaques da programação, está, por exemplo, a mostra “Delírio Tropical”, com curadoria do paraense Orlando Maneschy. O projeto apresenta mais de 130 artistas de todas as regiões do país que usam a imagem como elemento decisivo na construção dos próprios discursos.
Tem também “Que país é esse? - A câmera de Jorge Bodanzky durante a ditadura brasileira”, uma parceria do festival com o Instituto Moreira Salles, que ocupará a Pinacoteca do Ceará. Sob curadoria de Thyago Nogueira, conta o Brasil por meio de fotografias e filmes realizados por Bodanzky durante a ditadura no contexto dos 60 anos do golpe militar. E “Vermelho Vivo”, com curadoria de Ângela Berlinde, que convida o público a vivenciar imagens, poemas e canções como meios de refletir sobre ideias de liberdade e revolução.
Outros nomes importantes desta edição são o escritor, roteirista e curador Diógenes Moura; a mexicana Graciela Iturbide; o documentarista João Moreira Salles; o chileno Alfredo Jaar, além dos shows de Ana Frango Elétrico, Gang do Eletro e Letrux.
Ceará na rota fotográfica
Em Fortaleza, serão acionados durante o festival o Museu da Imagem e do Som (MIS), Pinacoteca do Ceará, Complexo Estação das Artes, Mercado AlimentaCE, KUYA - Centro de Design e Museu Ferroviário Estação João Felipe. No interior, quem receberá as atividades é o Centro Cultural do Cariri, localizado no Crato.
Essa descentralização – com toda a densidade que a palavra comporta – dá o tom do que pretende o Solar. “O centro de artes do país tido como homogêneo seria, a partir de uma visão centrada em São Paulo e no Rio de Janeiro, lá mesmo. Mas acho que quando o Ceará começa a investir e a se destacar no campo das políticas públicas de cultura no Brasil, sobretudo nos últimos dez anos, tem muito a ver com o movimento do festival”.
Não à toa, reservar para o Cariri, e não para a Capital, uma das exposições de caráter internacional desta edição – a “NAGUAL - Fotografias de Graciela Iturbide” – é prova de que o ponto é mesmo estender a influência da imagem para as mais diversas praças, conectando públicos, culturas e modos de dizer, algo na essência do Solar.
“É um festival bienal, e nasceu da necessidade de colocar o Ceará – com tradição no campo da fotografia, no cinema, das imagens e artes visuais – no contexto do cenário nacional a partir da relação entre diferentes produtores, e também pela posição geográfica do Estado na conexão com outros territórios, a exemplo de África e Europa”, sublinha Tiago Santana.
Pensar, fazer, sentir
Por sua vez, no campo dos diálogos e oficinas, a riqueza do evento também não deixa a desejar. Conversas com Ana Vitório e Vitor Casemiro, Diógenes Moura, Noemi Jaffe e José Manuel Diogo, Ubiratan Suruí e Gabriel Uchida, Rosângela Rennó e Daniela Moura, serão boa oportunidade para mergulhar em diferentes temas.
Nas oficinas, acontecerão encontros como “Escritas de Si”, “Edição e Incisão”, “Quero dizer do mistério” e “Zine Expresso”, esta uma oficina de criação de livretos com imagens arquivadas nos celulares. Os facilitadores de cada uma são referência nas respectivas áreas e devem alargar as oportunidades de imersão.
Sem esquecer ainda de experiência envolvendo inclusive a Gastronomia, Tiago Santana é enfático: “Todo festival é uma festa, um momento de encontro e trocas para que a gente possa construir e ajudar a desenhar políticas públicas do campo das artes visuais, colaborando com um projeto em curso no Ceará há algumas décadas, mas que se intensificou nos últimos 10 anos com a vinda do incremento de novos equipamentos na rede pública de equipamentos”.
Serviço
Fotofestival Solar 2024
De 11 a 15 de dezembro em Fortaleza e no Crato. Em Fortaleza, no MIS, Pinacoteca do Ceará, Complexo Estação das Artes, Mercado AlimentaCE, KUYA - Centro de Design e Museu Ferroviário Estação João Felipe; no Crato, Centro Cultural do Cariri. Programação completa nas redes sociais e no site do festival