Michael Jackson conquista novas gerações de fãs a partir de tributos e memes
16 anos depois da partida do Rei do Pop, legado de Michael tem feito sucesso entre as gerações Z e Alfa

Quando o estudante baiano Yago Savalla, 16, viralizou nas redes sociais ao interpretar "Homem com H", de Ney Matogrosso, em uma apresentação na escola, o Brasil inteiro ficou impressionado com o talento do jovem. O que nem todo mundo sabe é que, apesar de ser uma grande inspiração para Yago, Ney não foi o primeiro ícone da música que o adolescente interpretou no palco. Foi um artista norte-americano – mundialmente famoso e que partiu justamente no ano em que o adolescente nasceu – que fez com que ele se apaixonasse pela arte: o rei do pop, Michael Jackson.
Mesmo após 16 anos da partida de Michael, crianças e adolescentes que, como Savalla, têm se encantado pela obra do artista, têm se multiplicado. Até hoje, o artista faz sucesso mesmo entre quem nunca viveu na mesma época que ele, não só pela qualidade musical, mas pela dança e pela ampla presença na cultura pop – da televisão aos memes na internet, da crítica especializada aos vídeos no TikTok e participações em trilhas sonoras em filmes infantojuvenis.
No caso de Yago, tudo começou quando aos três anos de idade, quando assistia televisão com o pai e se deparou com imagens de uma apresentação de Michael cantando “Billie Jean” no Madison Square Garden, em Nova York. Mesmo entendendo muito pouco do que estava vendo, ficou encantado: o figurino e os movimentos de dança de Michael, para ele, pareciam os de um super-herói.
Dali em diante, quis saber tudo sobre a vida do novo ídolo e, durante a infância e início da adolescência, o interesse pela arte de Michael só aumentou. Foi o artista que despertou a veia artística do menino, que atua e dança desde os primeiros anos. “Esse foi o começo de uma história que eu construí e continuo construindo. Há 13 anos eu estou nessa jornada de dançar Michael, de me apresentar, de estar no mundo da arte”, conta Yago.
@yagosavalla Dangerous - Tributo Michael Vive #michaeljackson #fyp #moonwalker #fy #dangerous #bluegangsta ♬ som original - yagosavalla
A primeira apresentação oficial em homenagem ao rei do pop aconteceu em 2022, em uma data especial: 29 de agosto, aniversário de Michael. A música escolhida, claro, foi Billie Jean. Desde então, também apresentou coreografias de “Smooth Criminal” e “Dangerous”, e chegou a performar para quase 700 pessoas no ano passado – um momento especial que ocorreu em uma fase difícil, em que enfrentava um quadro delicado de saúde mental.
“Foi uma apresentação que fez esse projeto, que eu chamo de ‘Michael Vive’, se reerguer e que fez o meu amor pela arte voltar, meu amor pelo Michael voltar, e minha paixão por fazer isso se reerguer novamente”, lembra, emocionado. A partir do ano que vem, ele deseja sair dos auditórios e quadras da escola para outros palcos, expandindo as apresentações.
O jovem artista conta que, se não fosse por Michael, nem mesmo a performance que o tornou conhecido no Brasil inteiro e levará sua arte para um dos grandes palcos do País existiria. “Se não fosse pelo Michael, eu nunca teria começado a dançar, nunca teria começado a entrar mais nesse mundo artístico”, destaca.
“Acho que nunca vai ter ninguém que consiga chegar perto do nível dele, porque eu acho que só ele conseguiu trazer mais de milhões de pessoas do mundo todo pra poder assistir o show dele, pra poder comprar um disco dele, pra poder comprar um CD, um álbum dele. E isso acontece até hoje”, conclui.
Cearense de 5 anos se tornou fã após ouvir ‘Bad’ em desenho
Assim como Yago, a cearense Esther Heilly Sales, 5, conheceu a arte de Michael Jackson por acaso: por meio de um dos filmes da franquia infantil “Meu Malvado Favorito”, que tem o hit “Bad”, um dos mais famosos de Michael, na trilha sonora. “Perguntei o nome, aí comecei a gostar. Aí comecei a [ouvir] todo dia que eu ia para a escola. Pobre coitado do meu pai, daí eu já fiquei escutando todo dia”, conta a pequena, que hoje desde o início do ano dedica parte do dia a “dançar Michael até cansar”.
Empolgada, Esther contou com a ajuda da irmã mais velha, Emilly Sales, 20, para desbravar a obra de Michael. A própria Emilly, na infância, adorava ver videoclipes do artista, e redescobriu o amor pelas músicas da era de ouro de Michael ao apresentá-las para a caçula. Emilly conta que, desde que conheceu o artista, a irmãzinha se tornou ainda mais desenvolta e começou a aprender, quase sem querer, um segundo idioma.
@emisallez Nessa geração, o mais perto que vamos chegar do Michael é através do @Rodrigo Teaser , que faz um trabalho impressionante e encantou toda minha família! 🌟 Tenho muito orgulho da inteligência da minha irmã, e queria muito conseguir realizar o sonho dela de chegar ainda mais próximo do Rodrigo. Por favor, marquem o Rodrigo Teaser para a Esther conhecer ele!! ❤️ #michaeljackson #sister #brincadeira ♬ som original - emi ❤️🔥
“Ela sempre gostou muito de música, sempre gostou muito de dançar e cantar. Só que, a partir do momento que ela conheceu ainda mais o Michael, por ele fazer muitas performances, ela imita os passos, ela fica dançando e fica tentando cantar”, conta, orgulhosa. “Isso ainda introduziu um novo idioma na vida dela, porque ela já aprendeu a pronunciar os títulos das músicas muito bem”, completa.
No próximo domingo (6), as duas irmãs irão viver uma experiência única e especial juntas: assistir a um show de Rodrigo Teaser, considerado o maior intérprete de Michael Jackson do País e um dos maiores do mundo, que há mais de 30 anos celebra o legado do Rei do Pop em espetáculos-tributo.
“A gente viu no Rodrigo uma chance da Esther ter um pouco do que é o Michael”, explica Emilly, que vai conseguir realizar o próprio sonho de infância com a caçula.
Já Esther, entre uma dança e outra, conta os dias para ter um vislumbre mais próximo do ídolo. Por assistir tanto os shows de Michael quanto as apresentações de Teaser no YouTube, já sabe as coreografias de cor e se tornou, também, entusiasta fiel do trabalho de Rodrigo. “Estou muito animada”, conta, em meio a sorrisos e gritinhos de alegria. “Se ele quiser, vou até dançar no palco”, promete.
De fã mirim a intérprete oficial, Rodrigo Teaser mantém vivo o legado do Rei do Pop
A história do cantor, compositor e intérprete Rodrigo Teaser, 45, também inclui uma infância de encanto pelo Rei do Pop. O primeiro contato com a arte de Michael ocorreu no fim dos anos 80, quando o artista estava no auge e Rodrigo era um menino de nove anos. Estimulado pela mãe a dançar e cantar para driblar a timidez, ele decidiu imitar a coreografia uma das músicas de sucesso do artista em uma reunião de família – dali, nunca mais parou.
“Boas recordações que eu tenho da minha infância são justamente eu e a minha mãe em bairros populares aqui tentando achar acessórios parecidos, roupas e tudo mais”, lembra Rodrigo, que nasceu e cresceu em Guarulhos (SP), mas já levou o show-tributo a Michael a diversos estados brasileiros e mais de dez países.
A ideia de fazer da paixão pela música de Michael uma profissão surgiu ainda cedo, quando Rodrigo recebeu o primeiro cachê por uma apresentação artística, aos 14 anos. Desde então, ele interpreta o Rei do Pop em shows que contam com cada vez mais elementos de dança, bailarinos, cenários e efeitos especiais.
O show atual, “Tributo ao Rei do Pop” – que chega a Fortaleza neste fim de semana, nos dias 5 e 6 de julho, no Teatro RioMar –, está há 13 anos na estrada e tem ajudado a cativar novos fãs de Michael por onde passa. “É um show que, quando a gente começou a montar, a gente nem imaginava que pudesse chegar onde chegou, ter a proporção que tem, porque não existia nada assim nesse formato”, conta Rodrigo.
As apresentações do intérprete contam sempre com um público infantojuvenil fiel, diferentemente de outros shows estilo "flashback", que costumam atrair apenas o público adulto.
“Já aconteceu de, em shows de algumas capitais do Brasil, a casa de show falar ‘pô, Rodrigo, a gente vai tirar um alvará especial e mudar o horário do show, porque tem muita criança que quer ver o show’. É muito bacana de ver porque a imortalidade de um artista só existe dessa forma: a gente lembrando, a gente cantando”, destaca Rodrigo. “E quanto mais crianças descobrirem o Michael, mais longa vai ser a carreira dele, a trajetória dele”, aponta.
Memes e cultura algorítmica impulsionam obra de Michael
Entre os aspectos que contribuem para as novas gerações de fãs de Michael Jackson, para além da inegável qualidade musical e inovação artística que sua obra carrega, estão a memória afetiva familiar e a constante presença do artista nos meios midiáticos – mas ainda há outros pontos que podem ajudar a entender o fenômeno Michael Jackson entre as gerações Z e Alfa.
O primeiro ponto, para Rodrigo Teaser, é a questão estética, que o diferencia em relação a outros grandes artistas do século passado. “Visualmente, ele sempre fez coisas diferentes. Ele é o gangster que comandava os gangsters; ele é o cara que chega e aparta a briga de rua; ele é o cara que bota zumbi para dançar. Nos videoclipes dele ele vira nave, vira pantera, vira carro. Ele tem essa figura do líder, na obra visual dele, quase como um super-herói mesmo”, explica.
Outros pontos de destaque, para o intérprete, são os memes que sempre surgem e resgatam alguns aspectos do artista, como músicas e imagens icônicas, além do retorno de hábitos de colecionismo, com novos produtos de Michael surgindo a cada dia, como discos relançados, bonecos e outros souvenirs.
O professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) e pesquisador de comunicação e cultura pop Thiago Soares concorda com Rodrigo Teaser que os memes têm parte importante na construção de um imaginário de Michael Jackson nas novas gerações. No entanto, ele destaca que existe uma era específica de Michael que tem tido destaque nesse sentido – a era Thriller, referente ao álbum, música e videoclipe homônimos lançados em 1982.
“Thriller é um álbum produzido, com uma produção muito icônica, e que tem uma iconografia muito evidente”, pontua Thiago. “Há todos aqueles memes do Michael Jackson – o gif do Michael Jackson comendo pipoca, que é muito usado quando você quer ver uma briga na internet –, as danças de Thriller, a coreografia”, completa.
As marcações coreográficas presentes no vídeo icônico remetem, inclusive, a marcações que fazem sucesso no TikTok hoje, ressalta o pesquisador. “O Michael Jackson que viraliza especificamente, que gera esse interesse, é um Michael Jackson que se vincula ao universo do pop, do cinema de terror, do susto, do monstro”, reflete.
Mas não é meramente a estética que traz o apelo de artistas como Michael Jackson de volta com mais força. O mercado da nostalgia – que tem movimentado especialmente a indústria musical nos últimos anos, mas não só – e o modelo algorítmico das redes contribuem para esse fenômeno.
“A cultura contemporânea é muito nostálgica, de forma que a gente não precisa ter vivido as coisas [para conhecê-las]. Se a gente for pensar, por exemplo, no caso do YouTube. O algoritmo do YouTube agenda o novo e o antigo”, explica.
“A gente está vivendo uma era algorítmica, de muita produção de conteúdo, mas ao mesmo tempo de muita reciclagem de conteúdo, de reaproveitamento desses conteúdos – além de elementos que vão aparecer justamente por recomendações algorítmicas”, completa.
Exemplo dessa “reciclagem” no mercado da música inclui os recentes memes com a música “Dreams”, do Fleetwood Mac, e a nova era de ouro da canção “Acenda o Farol”, de Tim Maia, que chegaram a novos públicos pelas redes sociais. “São muitas vezes elementos que não estão vinculados diretamente ao presente, mas são rearticulados pelas lógicas de recomendação algorítmica”, conclui Thiago.
Um desafio é que, nesse movimento, parte importante das histórias é invisibilizada – apenas recortes chegam aos novos públicos. No caso de Michael, aponta o professor, as polêmicas que envolvem “dilemas raciais” e acusações de pedofilia, por exemplo, são apagadas.
“O que percebo é exatamente um apagamento dessas controvérsias, porque o que parece ficar de Michael é exatamente essa imagem da figura icônica, de ‘Billie Jean’, da dança do moonwalk – essa dança do Michael Jackson, que também é outro elemento muito importante de dinâmica de viralização”, conclui Thiago.
Tributo a Michael Jackson em Fortaleza
Quem deseja conhecer mais sobre os feitos artísticos de Michael Jackson poderá, nesta semana, participar de uma série eventos da turnê de Rodrigo Teaser na capital cearense, nos shoppings RioMar Fortaleza e RioMar Kennedy. Nesta quinta (3) e sexta-feira (4), o artista participa de um talk show aberto na Praça de Alimentação dos shoppings levando ao público histórias e curiosidades com um toque musical.
Já no sábado (5) e domingo (6), o artista apresenta o show “Tributo ao Rei do Pop”, com duas horas de duração e estrutura completa, no Teatro RioMar. Os ingressos estão à venda a partir de R$ 70, na bilheteria do teatro e online.
Serviço
Rodrigo Teaser em Fortaleza
Quinta-feira (03/07)
Talk Show com Rodrigo Teaser
Horário: 19h
Onde: Shopping RioMar Kennedy (Praça de Alimentação, Piso L3)
Gratuito
Sexta-feira (04/07)
Talk Show com Rodrigo Teaser
Horário: 19h
Onde: Shopping RioMar Fortaleza (Praça de Alimentação, Piso L3)
Gratuito
Sábado (05/07)
Show – Tributo ao Rei do Pop
Horário: 20h
Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Des. Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)
Ingressos: A partir de R$ 70 | Vendas na bilheteria do teatro e na plataforma Uhuu
Classificação: Livre
Domingo (06/07)
Show – Tributo ao Rei do Pop
Horário: Sessões às 15h e às 18h
Onde: Teatro RioMar Fortaleza (rua Des. Lauro Nogueira, 1500 - Papicu)
Ingressos: A partir de R$ 70 | Vendas na bilheteria do teatro e na plataforma Uhuu
Classificação: Livre
Mais informações: @rodrigoteaser