Fotógrafo percorre 44 cidades latino-americanas e registra expressões humanas que vão de festas à fé
Livro “Habitantes” celebra o meio século de carreira de Celso Oliveira, fotógrafo que elege a cultura cearense como uma das inspirações para um trabalho de registro do humano
O cotidiano da fé. A rotina de territórios profundos do mundo. A relação das pessoas com a natureza. São muitos os pontos de atenção de Celso Oliveira, mas essencialmente dois: gente e fotografia. É a partir desse panorama que somos convidados a percorrer 44 cidades latino-americanas com o artista e observar nelas o encantamento do ordinário – das expressões da Festa de Yemanjá em Fortaleza ao testemunho afetivo de um casal em Havana.
O resultado está compilado em “Habitantes”, livro cujo lançamento acontece em três momentos: no último 26 de junho, na Biblioteca Pública do Ceará; em 10 de julho, no Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri, e em 6 de agosto, no Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza. Todas têm distribuição gratuita da obra, sessão de autógrafos e bate-papo com o autor.
Ao Verso, Celso compartilhou detalhes do projeto que dá seguimento à festejada exposição homônima, exibida entre 2022 e 2023 no Museu da Cultura Cearense, equipamento do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura. “É uma homenagem aos habitantes que constroem o planeta. São as pessoas que curtem a vida em suas religiões, em seus territórios… Queria fazer uma grande homenagem ao povo latino-americano”.
Veja também
Essa energia de tributo realmente abraça toda a publicação, dos textos de apoio às fotografias propriamente ditas. Em preto e branco, elas desfilam tipos, paisagens e costumes, numa espiral de culturas e modos de expressão. Numa conta rápida, Celso diz que palmilhou ao todo 25 cidades do Nordeste brasileiro, 10 do Norte do país, três da Colômbia, duas de Cuba, duas da Bolívia e uma do Peru. “A paisagem que fotografo é a paisagem humana”, diz.
“Diria que sou especialista em retratar a humanidade. Ao fundo da maioria das imagens, há a paisagem do Ceará, com uma beleza inconfundível. Homenagear a paisagem por meio do ser humano que compõe cada uma delas – compreendendo serra, litoral e sertão – é uma maravilha”, completa o carioca nascido em 1975, mas radicado em solo cearense.
Fazer o que se ama
“Habitantes” é iniciativa robusta em vários aspectos. Além da dimensão territorial percorrida por Celso, no livro é possível acessar grande quantidade de apontamentos e reflexões sobre o fazer artístico do fotógrafo. São textos assinados por Diógenes Moura, Tiago Santana, Lia Aderaldo, Dilmar Miranda, Tuty Osório, entre outros grandes nomes da arte em imagem.
Também é possível acessar alguns conteúdos em inglês e espanhol, expandindo a compreensão da expertise inspirada de Oliveira. “Celso é um dos fotógrafos mais talentosos da geração de artistas que integraram o rico movimento ‘Os Dependentes da Luz’, o que é testemunhado por seus próprios colegas”, escreve Dilmar Miranda na obra.
“Se pudéssemos apontar a mais bela de suas fotos, teríamos dúvida. Certamente diríamos: todas. Além da sensibilidade de seu olhar peculiar, possui um traço ousado que lhe permite encontrar miradas incomuns em seus instantâneos para obter cenas inusitadas”, continua o professor aposentado pelo Instituto Federal do Ceará.
Segundo Celso, todo esse mergulho na habilidade de desenhar com a luz foi por acaso. Ele iniciou no ramo aos 15 anos a partir de uma experiência transformadora no laboratório do Estúdio Fotografismo e Artes, no Rio de Janeiro. “No primeiro dia em que eu entrei lá, falei: ‘Vou fazer o que essas pessoas fazem’. Não sabia nem direito o que era, mas com um mês de trabalho como office-boy, já sabia revelar filmes, imprimir uma cópia…”.
Assim, além de questão de sobrevivência, a fotografia surgiu como necessidade de atender aos mais profundos instintos estéticos: aqueles em que o desejo de verem retratadas as mais diferentes faces da população do mundo – sobretudo dos mundos que se descortinavam (e ainda se descortinam) à própria frente – é grande e voraz.
Ao mesmo tempo, não deixa de elencar os desafios na jornada. “São muitos, a começar pelos financeiros. É muito difícil conseguir recursos para fazer um registro de um trabalho autoral. Há outro detalhe referente à segurança. É preciso um espírito de prestar atenção, a segurança pessoal hoje está muito ameaçada. Mas estamos aqui para enfrentar desafios mesmo”.
Tributo à Fortaleza
Uma das próximas empreitadas desse artesão da imagem chegará aos olhos do público em breve. Por ocasião dos 300 anos de Fortaleza em 2026, Celso Oliveira está fotografando a capital para ver se consegue lançar uma pequena publicação em homenagem à cidade que elegeu como uma de suas favoritas no mundo.
Até lá, ele comemora os feitos da nova geração de fotógrafos. Gente que, conforme observa, elege a diversidade como pilar. “Há pessoas fotografando em territórios quilombolas, filmando em tribos indígenas… O mundo da fotografia se abriu muito com a fotografia digital. Tornou-a acessível a todos. Acho a produção do Ceará bastante forte”.
Feito escreve Tiago Santana, “é preciso ter muita coragem para se dedicar à fotografia assim como Celso”. E isso, para além dos tempos e modos de expressão de um povo, é pretexto bonito para conviver com o mundo.
Mais informações
Lançamento do livro “Habitantes”, de Celso Oliveira
Em três momentos: dia 26 de junho às 18h, na Biblioteca Pública do Ceará (Avenida Presidente Castelo Branco, 255 – Moura Brasil); dia 10 de julho no Centro Cultural Banco do Nordeste Cariri; e 6 de agosto no Centro Cultural Banco do Nordeste Fortaleza. Distribuição gratuita, com sessão de autógrafos e bate-papo com o autor. Mais informações por meio das redes sociais do projeto