Dragão do Mar completa 20 anos e ganha reformas com prazo de entrega indefinido

A população cearense testemunha os 20 anos de existência do Centro Dragão do Mar de Arte e Cultura (CDMAC). Um dos territórios mais influentes na difusão, formação e debate das artes no Estado encara a urgência de atender uma sociedade ainda mais sedenta por conhecimento. Um desafio semelhante ao momento da inauguração oficial, concretizada em 28 de abril de 1999.

Quem especulou por uma agenda comemorativa farta de atrações, a exemplo das inúmeras atividades protagonizadas pela casa ao longo de duas décadas, o mês de aniversário se avizinhou cercado de algumas incertezas. A mais proeminente repercutiu diante da não realização da Maloca Dragão, evento cuja origem é atrelada às celebrações de aniversário do CDMAC. Outra demanda nos bastidores é a recorrente cobrança dos profissionais de cultura quanto ao atraso no pagamento de cachês. "Estamos começando a estabilizar", argumenta o diretor do Instituto Dragão do Mar, Paulo Linhares.

É a partir do encontro com o jornalista e antropólogo que inúmeros aspectos entre memória e futuro começam a ser estipulados. A conversa segue na companhia da recém-empossada superintendente do CDMAC, Natasha Farias. O atual estágio é de iluminar demandas antigas, elaborar discussões para os próximos eventos e atender a complexidade adquirida pelo espaço no correr dessa trajetória.

De certo, no quesito festa, os mandatários apresentaram uma programação alinhada com o tema "Dragão da Liberdade - 20 anos de arte e conhecimento". A série de atividades começa hoje (27), às 20h, com show do compositor cearense Fausto Nilo, no Teatro Dragão do Mar. O músico, poeta e arquiteto foi o responsável, ao lado de Delberg Ponce de Leon, por imaginar cada tijolo da estrutura do conjunto de prédios. Cada encontro de linhas e perspectivas geométricas daquele lugar.

Fausto também esteve presente nos festejos de 10 anos e executa o show "Esquina do Brasil". O título da iniciativa evoca a canção composta em parceria com Evaldo Gouveia, concebida como testamento de amor à Praia de Iracema. O repertório também inclui, entre outras crias, as faixas "Dorothy Lamour", "Pão e Poesia" e a popular "Pedras que Cantam".

Na mesma noite acontece a inauguração do painel "Dragão do Mar, o herói abolicionista", homenagem direta aos 180 anos de nascimento do jangadeiro Chico da Matilde (1839-1914). Durante a solenidade, a promessa dos organizadores é de apresentar atividades estratégicas focadas na programação de 2019. Em tempo, constam o lançamento da "Medalha Dragão do Mar" e a formatação de uma nova Maloca já no segundo semestre. O sábado de celebração alusiva aos 20 anos é finalizado com a intervenção musical de DJs e o lançamento das edições 3 e 4 da Revista Dragão do Mar.

Dragão do Mar em 360º

Demandas

Um dos temas apreciados durante a entrevista dos gestores remonta ao processo de reformas estruturais que o Dragão do Mar deve passar nos próximos anos. A premissa inicial é de que as obras transcorram durante toda a gestão de Natasha Farias. "Tem que ser feita por blocos, por pedaços, tentando não interromper a programação", arremata a organizadora.

Cortes promovidos pelo Governo Estadual e a indefinição econômica inerente ao estabelecimento de uma nova administração em âmbito federal desarticularam a organização prévia das obras de reparo. Os retoques necessários incluem reformas emergenciais no teto dos museus e até a aquisição de novas cadeiras para o teatro e cinemas.

A conclusão desse projeto de melhorias deve dialogar, finalmente, com uma antiga querela da Secretaria de Cultura do Estado do Ceará (Secult-CE), a integração com a Biblioteca Pública Governador Menezes Pimentel, fechada há cinco anos. "É um momento de adaptação complexo. O Estado não sabe como vai ser a economia do País, como vai agir o Governo Federal. Levamos um susto e devemos pensar quais são as prioridades, os caminhos. Nesse momento, estamos planejando. A Maloca não vai acabar. Hoje, não devemos a nenhum artista. Agora, antes de começarmos outro ciclo, estamos vendo primeiro qual Maloca queremos", afirma Paulo Linhares.

O CDMAC passa a ser gerido de maneira mais independente ao comando do Instituto Dragão do Mar. Além de Natasha Farias, a nova estrutura gerencial conta com Nathalia Sobral (administrativo financeiro) e Márcio Caetano, no setor de ação cultural. A escolha, segundo Linhares, permitirá ao IDM uma melhor dinâmica das atividades desenvolvidas por outras instituições de formação, como a Escola Porto Iracema das Artes, Escola de Gastronomia Social Ivens Dias Branco, Centro de Formação Artística do Centro Cultural Bom Jardim, Centro de Formação Olímpica, Escola de Artes e Ofícios Thomaz Pompeu Sobrinho, Theatro José de Alencar, Vila da Música (Crato) e Casa de Saberes Cego Aderaldo (Quixadá).

Estimativas

Objetivamente, as próximas metas para o Dragão do Mar incluem o desenvolvimento do projeto "Forma Ação", que deve ofertar cursos para a periferia de Fortaleza e cidades de médio porte do Estado. Natasha mostra entusiasmo com as futuras demandas e traça detalhes da iniciativa. "De uma maneira geral, os cursos serão divididos em 300 horas/aula, o que daria mais ou menos um mês e meio para cada atividade. Dessas horas de formação, 50 devem se passar nos espaços de fruição cultural da cidade", assume.

Em específico ao Dragão do Mar, os planos da superintendente incluem a criação de um festival de teatro, denominado provisoriamente de "Cais" e a concepção de uma sessão de cinema direcionada ao público infantil. Após a primeira leva de reformas, outro desafio da gestão é sediar, em outubro, o 8º Fórum Nacional de Museus. A previsão é de que o principal evento do setor de museus no Brasil traga a Fortaleza cerca de mil pessoas de outros estados.

Nenhuma atividade protagonizada pelo Dragão do Mar no correr de 2019 vai deixar de ser realizada, segundo a dupla. Linhares, todavia, acrescenta que toda parte de reforma e investimento infraestrutural cabe à Secult. "Eles definem prazos, investimentos. O que nós fazemos é negociar, pedir prioridade e temos sido ouvidos quanto a isso. A reforma do Dragão, realmente não andou e vai iniciar agora. A integração com a Biblioteca é outro caso, a obra já está pronta", assevera.

As atividades aqui reportadas, além das futuras intervenções a serem propostas pelo IDM, devem dialogar diretamente com os estudos contidos na obra "Eles dizem não ao não - Um estudo sobre a geração N". Publicada pela Editora Dragão do Mar, a pesquisa foi encomendada ao Laboratório das Artes e das Juventudes (LAJUS) da Universidade Federal do Ceará (UFC), sob organização da socióloga e pesquisadora Glória Diógenes.

O evento de lançamento reúne, além da organizadora, o próprio Paulo Linhares e o secretário-chefe da Casa Civil, Élcio Batista. A pesquisa mapeou o conjunto de elementos materiais, sociais e culturais capazes de determinar os comportamentos, desejos e anseios de um contingente de quase 700 mil jovens cearenses. O trabalho ilumina grupos sociais nascidos entre 1990 e 2002, oriundos de famílias de baixa renda, residentes em sua maioria na periferia das grandes e médias cidades, que estão sem estudar, sem trabalhar e que até desistiram de procurar alguma ocupação. Quem sabe, seja o indício do quanto o Dragão se faz necessário tanto no mar, quanto no asfalto e sertão.

Programação

Hoje

20h - Show Fausto Nilo "Esquina Do Brasil"

Local: Teatro Dragão do Mar

21h30 - Inauguração do Painel "Dragão do Mar, herói abolicionista" + Anúncio das ações estratégicas e programação comemorativa para 2019

Local: Arena Dragão do Mar

22h30 - Festa de lançamento da Revista Dragão do Mar (edições 3 e 4)

Local: Arena Dragão do Mar

Terça-feira (30/04)

18h- Lançamento da pesquisa "Eles dizem não ao não - Um estudo sobre a geração N", com Glória Diógenes, Paulo Linhares e Élcio Batista

Local: Auditório do Dragão