Filme peruano comparado ao longa brasileiro 'Tropa de Elite' vira fenômeno
"Chavín de Huántar: o resgate do século" alcançou 1 milhão de espectadores e gerou debate
“Chavín de Huántar: O resgate do século” chegou aos cinemas do Peru causando impacto. Em pouco mais de um mês, a produção ultrapassou 1 milhão de espectadores, tornando-se um dos maiores sucessos da história do cinema peruano e ganhando o apelido de “Tropa de Elite peruano”.
A trama reconstrói o resgate de 72 reféns mantidos na residência do embaixador japonês, em 1997, um episódio que até hoje desperta orgulho nacional. Mas, apesar do entusiasmo de muitos, o longa tem provocado discussões acaloradas entre quem o considera um épico necessário e quem enxerga uma narrativa incompleta.
Entre os defensores da obra, o realismo é o ponto mais destacado. As cenas de ação usam explosões reais, armas verdadeiras e contam com consultoria de militares que participaram da operação original. O público também aplaude os 90 minutos de tensão, ainda que o desfecho seja amplamente conhecido.
O roteiro foca em aspectos pessoais dos soldados, ressaltando fragilidades, vínculos familiares e o impacto emocional da missão. As locações e réplicas dos túneis construídos sob a residência são vistas como um dos grandes acertos. Para muitos, o filme também cumpre um papel simbólico: mostrar a capacidade do Peru de produzir obras em padrão hollywoodiano.
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O que diz quem critica o filme
Por outro lado, críticos afirmam que o longa carrega um viés ideológico, favorecendo integralmente a narrativa militar e deixando de lado a complexidade do conflito.
Alguns apontam falhas técnicas, como efeitos especiais inconsistentes e uma trilha sonora excessiva. Outro ponto criticado é a forma como os reféns são retratados, considerados “tranquilos demais” para quem passou 126 dias sequestrado. Para especialistas, personagens ligados ao Movimento Revolucionário Túpac Amaru (MRTA) e políticos da época não têm suas trajetórias exploradas como deveriam.
História real
Em dezembro de 1996, o MRTA invadiu a residência do embaixador japonês em Lima e fez 72 reféns. A operação militar subsequente envolveu a escavação de túneis, instalação de explosivos e um ataque final que eliminou todos os sequestradores e resgatou os detidos.
Uma ausência notada pelos peruanos é a do então presidente Alberto Fujimori (1938–2024). A filha dele, Keiko Fujimori, criticou o filme por, segundo ela, ignorar o papel central do pai na operação. Para alguns, essa escolha evita reforçar um lado político da narrativa; para outros, abre uma lacuna importante na reconstrução dos fatos.
Polêmicas e escolhas narrativas
A produção investe fortemente no realismo, mas enfrenta questionamentos sobre o que decidiu não mostrar. Especialistas lembram que relatos apontam para execuções extrajudiciais cometidas após o ataque, ponto totalmente ausente no longa. A morte de um refém crítico ao governo também não é abordada. Apesar das controvérsias, “Chavín de Huántar” segue lotando salas no Peru.