'É gratificante salvar uma vida': cearense vai doar medula para paciente no Rio Grande do Norte

Há dez anos no cadastro de doadores, Geovânia Rodrigues tem medula compatível, está feliz com a oportunidade de ajudar alguém e faz o pedido: “vamos todos doar, é um gesto de amor”

Escrito por Melquíades Júnior , melquiades.junior@svm.com.br
Geovânia Rodrigues
Legenda: Há dez anos, a vontade de Geovânia ser doadora de sangue era tanta que aumentou de peso para poder entrar no critério
Foto: Arquivo pessoal

Se dissessem que ganhou na loteria, Geovânia não se sentiria tão sortuda quanto por ter recebido a notícia de que sua medula é compatível para um paciente que necessita de doação. Porque para ela não tem prêmio maior do que salvar uma vida. “Nada é mais gratificante”.

Estava em casa quando recebeu a ligação do Registro Nacional de Doadores Voluntários de Medula Óssea (Redome). Queriam saber se mantinha o interesse de doar, pois seria doadora compatível e tinha alguém no Rio Grande do Norte precisando.

— A senhora tem interesse em continuar no processo?

— Na hora!

Ela não pensou duas vezes porque já tinha pensado o suficiente quando, em 2011, numa campanha do Hemoce em Pindoretama, onde mora, decidiu ser doadora de sangue. Seu sangue é ‘O negativo’, então sabia que é um que as pessoas precisam muito de doação.

Quando já estava lá, perguntaram se também queria ser doadora de medula. “Com certeza”! Para isso, retiraram uma pequena amostra do sangue, que fica no cadastro nacional de doadores, até um dia aparecer alguém apto a ser receptor.

E foi ali que tudo começou para a auxiliar de enfermagem Geovânia Rodrigues - “mas só me conhecem por Dodó”, moradora de Pindoretama, que todo dia levanta às 4h da manhã e segue para o hospital público no Eusébio, também na Região Metropolitana de Fortaleza.

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Refletindo sobre o viver

Como profissional de Saúde, vê de tudo. Por conta da pandemia de Covid-19, perdeu amigos e parentes. Refletiu sobre o viver. Cinco anos atrás, perdeu o pai acometido por um câncer e só reafirmou como a vida é curta. “Quem quiser fazer o bem, faça agora. Às vezes não precisa de nada pra fazer o bem. Se você chegar em minha casa, ninguém acredita, não tem nada demais. Sou servidora pública, né? Aí já viu! Mas o pouco que tenho é porque eu mereço”.

Há dez anos, sua vontade de ser doadora de sangue era tanta que aumentou de peso para poder entrar no critério. “É coisa de Deus. Acredito que todos nós temos uma missão na vida.  Lá atrás, quando me perguntaram se eu queria ser doadora, algo me dizia que isso iria acontecer comigo. E aconteceu. Se a gente for ver, é tão simples. E ainda pode salvar uma vida”.

Geovânia Rodrigues
Legenda: “Quem quiser fazer o bem, faça agora. Às vezes não precisa de nada pra fazer o bem", diz Geovânia Rodrigues
Foto: Arquivo pessoal

Depois da ligação do Redome sobre ser compatível, “Dodó” ficou feliz e desconcertada. A primeira atitude foi ligar para a filha Tamara Rodrigues, 32, que neste ano decidiu também ser doadora de sangue e de medula óssea depois que viu crescer em Fortaleza a rede de solidariedade por um doador de medula para a repórter Marina Alves. “As pessoas estão indo ao Hemoce doar por causa da repórter. A minha filha disse, ‘mãe, a fila tá é grande’. Isso é tão lindo”.

Não basta ser doador, tem que manter o cadastro atualizado. O Redome só conseguiu ligar para Dodó porque ela atualizou o cadastro com o número de telefone atual. Daí em diante foi uma bateria de novos exames, até a compatibilidade se confirmar. Todos os procedimentos, incluindo o voo para Natal, capital do Rio Grande do Norte, são custeados pela Redome, coordenada pelo Instituto Nacional do Câncer (Inca).

Alívio para toda a vida

Enquanto você lê esta notícia, Geovânia Rodrigues, a ‘Dodó’, está feliz e ansiosa em um hospital de Natal (RN), aguardando os últimos procedimentos. Não se incomoda, pois “o incômodo da anestesia é um instante. O alívio para quem vai receber é para toda uma vida”, lembra.

Sobre o receptor de medula, ela nada sabe. Pode ser homem, mulher, adulto, criança. Não importa. Deitada no leito hospitalar, está vendo um filme passar por sua cabeça. Só não consegue esconder a maior de todas as vontades quando tudo acontecer: “e futuramente, quem sabe, dar um abraço nessa pessoa. Estou sonhando com isso”. Para ela, é uma forma de agradecer por estar, "com tão pouco", salvando uma vida.

 

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