‘Infância antirracista’: 34 cidades do CE serão formadas para acolher crianças negras e indígenas
Ações serão aplicadas na educação, saúde e assistência social para qualificar o desenvolvimento infantil
As marcas do racismo surgem já nos primeiros anos de vida. Por isso, na busca por remediar os prejuízos à formação de crianças negras e indígenas de até 6 anos, foi lançada a estratégia “Primeira Infância Antirracista” (PIA) no Ceará, nessa segunda-feira (20). Foram escolhidos 34 municípios para acompanhamento ao longo do próximo semestre.
A iniciativa é formada pelo Fundo das Nações Unidas para Infância (Unicef), Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, além das Secretarias da Igualdade Racial e da Proteção Social do Ceará.
No PIA, serão capacitados pelo menos 340 técnicos e gestores municipais em 2024 para ampliar a qualidade dos atendimentos às crianças negras e indígenas, gestantes e as famílias do grupo-alvo.
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A estratégia funciona a partir de 3 eixos: saúde, educação e assistência social. Durante o programa, os municípios devem avaliar os Planos Municipais da Primeira Infância (PMPI) – documento que norteia as ações voltadas para as crianças.
A ideia é entender o que pode ser melhorado nos planejamentos e colocar em prática os objetivos estabelecidos. A lista de municípios foi definida considerando onde há populações representativas para a assistência.
Municípios participantes:
- Acaraú
- Aquiraz
- Araripe
- Baturité
- Beberibe
- Brejo Santo
- Caucaia
- Crateús
- Crato
- Fortaleza
- Granja
- Horizonte
- Icapuí
- Iracema
- Itapipoca
- Itarema
- Maracanaú
- Mauriti
- Missão Velha
- Monsenhor Tabosa
- Novo Oriente
- Pacatuba
- Pacujá
- Poranga
- Porteiras
- Quiterianópolis
- Quixadá
- Salitre
- São Benedito
- São Gonçalo do Amarante
- Sobral
- Tamboril
- Trairi
- Tururu
Maíra Souza, oficial da primeira infância do Unicef, explica que cada município vai desenvolver o próprio plano “para que exista esse compromisso público de desenvolver uma infância, de fato, antirracista”.
“O objetivo do Unicef não é só chamar atenção para os problemas, mas também para o que podemos fazer sobre isso. Desenvolvemos uma série de materiais sobre práticas antirracistas como um primeiro passo com diversas informações”, acrescenta.
Além dos cadernos informativos foi produzida uma websérie sobre o assunto e os conteúdos serão base para oficinas presenciais que devem acontecer em julho. Para isso, o Estado foi dividido em 3 polos.
As oficinas presenciais vão abordar os seguintes temas:
- Impactos do racismo no desenvolvimento infantil
- Branquitude (vieses inconscientes e identidades)
- Palestras com especialistas cearenses
- Grupos setoriais (saúde, educação infantil e assistência)
- Diagnóstico sobre as primeiras infâncias com foco em leituras raciais nos territórios participantes
- Análise de dados e discussão sobre as barreiras para implementação de práticas antirracistas
- Planos de atividades ou ações desenvolvidas em territórios e como o PIA pode ajudar
Foram avaliados os objetivos do grupo definido, como acrescenta Rui Aguiar, chefe do escritório do Unicef no Ceará. "Todos os municípios do Estado entregaram os planos da primeira infância e nós escolhemos 34 com maior população negra e indígena para essa iniciativa”, completa.
Nesse momento, os municípios mobilizam gestores e técnicos para a participação nas formações.
"Juntando essa discussão conceitual da formação de técnicos com a revisão do plano, os municípios vão começar a implementar no segundo semestre as ações de primeira infância antirracista. Os parceiros vão fazer o monitoramento e a assistência técnica dessa implementação", conclui.
Em Fortaleza, vão ser reunidos os profissionais da Região Metropolitana, Sertão Central e Jaguaribe. Já em Sobral, os educadores do Litoral Oeste e Região Norte. O grupo do Cariri será formado no Crato.
Zelma Madeira, titular da Secretaria da Igualdade Racial do Ceará, frisa a necessidade de compreender as culturas diferentes no mesmo estado e estabelecer estratégias para alcançar a população mesmo em lugares mais afastados.
O racismo não é algo só do campo subjetivo, é estrutural, define a economia do nosso País, a política, as relações sociais e culturais
Potencial da infância
Mariana Luz, CEO da Fundação Maria Cecilia Souto Vidigal, contextualiza que até os 6 anos o cérebro humano se desenvolve em 90%. Esse período potente da vida precisa de políticas públicas num contexto de violência e pobreza das cidades brasileiras.
“A gente quer um futuro melhor, com mais oportunidades, uma vida melhor do que a gente teve”, reflete. “Precisamos de uma política nacional integrada para a primeira infância, tem que ser uma política intersetorial e integrada para a priorização dessas políticas”.
Conforme uma pesquisa da Fundação, cerca de 6 a cada 10 crianças brasileiras estão em situação de vulnerabilidade social. “Se a criança está na pobreza, infelizmente vai ter menos chance de se desenvolver cognitiva e socialmente. É um debate econômico, social e da saúde, mas sobretudo sobre desigualdade”, completa.
Para atingir o potencial de desenvolvimento da infância, Mariana aponta a necessidade de atenção para 5 tópicos: Nutrição; Educação Infantil de qualidade; Saúde; Cuidados Responsivos (brincadeiras e interações entre adultos e crianças); Segurança e proteção.