A travessia dos desertos afetivos
Quando entendemos que a vida é uma viagem com um propósito, começamos a valorizar cada passo e a não desistir

A Quaresma é um período que vai do carnaval, uma festa de prazeres e fantasias, até a Semana Santa, que celebra a ressurreição de Cristo. Esse tempo é como uma pausa, um deserto entre dois grandes oásis da vida material e espiritual. Quando o padre, na Quarta-Feira de Cinzas, coloca cinzas na testa dos fiéis, ele nos lembra que viemos do pó e da luz e um dia voltaremos a eles.
Durante a Quaresma, somos convidados a refletir sobre o sentido da vida, lembrando que somos tanto corpo material quanto espírito. Assim como Jesus, que também enfrentou momentos difíceis, nós passamos por desertos onde nossa fé e esperança são testadas.
Muitas vezes, somos tentados a nos concentrar somente no que é material, esquecendo-nos do que é espiritual e do próximo. Vivemos em um mundo consumista que nos tenta o tempo todo. Antes de embarcar em um voo, passamos por shoppings repletos de coisas que não precisamos e acabamos comprando itens que nem queríamos.
Essas tentações tentam preencher um vazio existencial com objetos desnecessários. Jesus, ao atravessar o deserto, resistiu às tentações. Sofreu e até duvidou de ter sido abandonado por Deus no momento de sua morte. Ele expressou sua desilusão, mas escolheu permanecer fiel aos valores do Pai.
Para transmitir a mensagem de que o amor é a resposta à violência e à injustiça, ele sacrificou seu corpo humano. Assim como Cristo, somos constantemente tentados, desafiados tanto materialmente quanto espiritualmente. Esses dois mundos nos fazem questionar nossos valores, redefinir prioridades e tomar decisões.
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Quando entendemos que a vida é uma viagem com um propósito, começamos a valorizar cada passo e a não desistir, mesmo diante das dificuldades. Afinal, quem nunca passou por um deserto afetivo?
No campo relacional, esse deserto surge quando somos feridos na alma, seja pela perda de um familiar, o fim de um relacionamento, desilusões ou rupturas que nos desestruturam. Nessas horas, é comum sentir solidão, tristeza e abandono, como se estivéssemos desprotegidos, no meio de um deserto árido, sem amor nem afeto.
Ao atravessar um deserto afetivo, pode parecer que não há saída. As emoções são tão intensas quanto as tempestades de areia que nos impedem de enxergar e ficamos paralisados.
A solidão pode ser opressiva, fazendo-nos nos afastar ainda mais das pessoas ao nosso redor, criando um ciclo de isolamento e desilusão. É desolador. Vemos somente paisagens sem vida, um silêncio insuportável e uma solidão profunda, mesmo cercados por pessoas.
É um momento doloroso, mas, mesmo nesse deserto seco de afeto, somos convidados a refletir sobre os oásis que já conhecemos, as conquistas, os encontros significativos em nossas vidas. Parece contraditório, mas é no deserto seco que aprendemos a valorizar a água fresca, a sombra de uma árvore e o calor humano de um abraço.
É no silêncio do deserto que valorizamos uma palavra de conforto e esperança. As paisagens estéreis nos conectam com as florestas verdes de nossas vidas e seus frutos saborosos. É na escuridão da noite fria que aprendemos a valorizar a luz que ilumina e aquece.
Muitas vezes, é quando perdemos alguém que nos damos conta de que não expressamos em vida o quanto a amávamos. A vida nos leva a situações difíceis não para nos punir, mas para nos fazer buscar os oásis que muitas vezes não sabemos valorizar.
O sofrimento não é um fim, mas um meio, uma oportunidade de ampliar nossa visão de mundo, nos humanizar e gerar empatia. Todos enfrentamos altos e baixos, desertos e oásis e cada um de nós passa por travessias de desertos que podem parecer intermináveis.
Nesses períodos difíceis, é importante lembrar que também existem oásis, momentos de alegria, amor e solidariedade que nos ajudam a seguir em frente.
Portanto, se você está passando por uma fase difícil, não desanime. Siga sempre em frente. O deserto fertiliza nossa mente e nos leva a valorizar o que é eterno e imaterial, que nos guiam. No mundo atual, os mais vulneráveis, como imigrantes que buscam uma vida melhor, enfrentam desertos cruéis, sendo tratados desumanamente.
O comércio de bens materiais parece ter mais valor que a vida humana. No entanto, devemos manter a esperança de que essa travessia seja o prenúncio de uma época de paz e prosperidade para todos.
Como sobreviver em nossas travessias? Se você está enfrentando um momento difícil, não desanime. Todos passamos por desertos e oásis na vida. Santo Agostinho dizia que grandes mudanças acontecem através da dor ou do amor. O sofrimento pode nos abrir para os outros e nos ajudar a ver o que realmente importa.
Reflita sobre suas conquistas, amizades e momentos felizes; esses lembretes nos dão força. No meio das dificuldades, aprenda a valorizar as coisas simples, como um sorriso ou um gesto de carinho, que podem fazer uma grande diferença.
Lembre-se de que a vida é uma viagem. Cada desafio nos ensina algo valioso e nos prepara para o próximo passo. Se você se sentir sobrecarregado, busque apoio. Conversar com amigos, familiares ou profissionais pode ser um passo importante.
Mesmo quando a vida parece difícil, sempre podemos encontrar oportunidades de crescimento. O deserto nos ensina a ser mais empáticos e a lutar por um mundo melhor. É fundamental ter fé e esperança, acreditando que, após atravessar cada deserto, haverá um oásis nos esperando para nos dar força para continuar.
Não importa quão difícil o caminho pareça, você não está sozinho. Juntos, podemos enfrentar qualquer tempestade. Se você está enfrentando um momento desafiador, é essencial lembrar que você pode pedir ajuda.
Falar sobre seus sentimentos com amigos ou familiares pode aliviar a carga emocional. Às vezes, simplesmente compartilhar a dor já faz uma grande diferença. Além disso, envolva-se em atividades que o conectem com outras pessoas. Participar de grupos, fazer novas amizades ou se juntar a projetos comunitários pode ajudar a reconstruir sua rede de apoio.
Essas interações trazem novas perspectivas e aquecem o coração. Cuidar de si é igualmente importante. Dedique tempo a atividades que lhe tragam alegria, como exercitar-se, ler ou praticar um esporte. O autocuidado é fundamental para renovar suas energias emocionais. Lembre-se de que os desertos não duram para sempre.
Com paciência e esforço, é possível encontrar oásis de amor e apoio, mesmo nas fases mais difíceis. A esperança e a solidariedade humana são poderosas e, aos poucos, você pode perceber que a vida está se renovando.
Cultivar a gratidão também pode transformar sua perspectiva. Tente anotar pequenas coisas pelas quais você é grato diariamente, sejam elas simples como um café quentinho ou um sorriso de um desconhecido. Essas práticas ajudam a mudar o foco e a valorizar os bons momentos, mesmo em tempos difíceis.
Por fim, mantenha sempre a fé e a esperança. Acredite que, após cada deserto, haverá um oásis que lhe dará força para continuar. Não importa quão árduo o caminho seja, lembre-se de que você não está sozinho.
Cada um de nós pode ser um apoio para o outro, e juntos conseguiremos superar qualquer obstáculo. A vida é uma aventura repleta de ensinamentos. Permita-se sentir, aprender e crescer. E, quando o deserto parecer extenso, tenha certeza de que, com amor e apoio, um oásis está à sua espera.