100 anos de Padim no cinema
No último dia do mês do aniversário de Padre Cícero, o Diário do Nordeste lembra a filmografia cicereana
Há um século era lançado o filme que mostra as únicas imagens em movimento do padre Cícero Romão Batista. Gravado um ano antes, em 1924, a câmera acompanha o então prefeito e padre afastado de suas funções, com 80 anos de idade.
O Padim caminha pela cidade com o seu inseparável cajado de madeira. Surge assinando o que parecem ser decisões políticas. E realiza outros atos de governo, como a inauguração da estátua que fica na praça central, aquela em que o padre está com traje que lembra um senador romano.
A obra teve formato de cinedocumentário, com cenas sem som ambiente e narração feita por locutor. Foi produzida por Alexandre Wulfes. Em 100 anos, o Padim tornou-se uma dos brasileiros mais cinebiografados da história.
"O Padre Cícero tem muitas facetas, um campo de atuação muito vasto. Foi sacerdote, político. É uma biografia que alterou estruturas", afirma o historiador Roberto Júnior, criador do projeto Cariri das Antigas.
Realmente, a história dele inspirou roteiros, entre longas e outros de menor metragem, mostrando a vida do padre ou as circunstâncias criadas pela sua existência, como a romaria.
Um outro exemplo da filmografia cicereana está completando 50 anos. É o longa "Padre Cícero, os milagres de Juazeiro", dirigido por Hélder Martins e que teve Jofre Soares no papel principal.
A obra foi gravada em 1975 e lançada no ano seguinte. É considerado o primeiro longa em cores do Ceará e também foi pioneiro em ficcionar a história do Padre Cícero.
Para retratar o Juazeiro do final do século XIX, foi escolhido o distrito do Rosário, em Milagres, município do Cariri.
"[Em 1975] Aqui havia cerca de 1.700 moradores. Sem modificações urbanas de grande escala. Inclusive a eletrificação era bem escassa, só algumas casas com eletricidade. Então, para eles [diretor e produtores], foi um achado", afirma o historiador Carlos César Pereira, que mora em Milagres.
Na década de 1980, o Padre Cícero chegaria à televisão com uma minissérie cujo roteiro foi escrito por Aguinaldo Silva e Doc Comparato. No papel principal: Stênio Garcia.
Em 1999, foi lançado o longa "Milagre em Juazeiro", de Wolney Oliveira. É um dos filmes cujas imagens são mais reexibidas em reportagens de televisão. Um dos motivos é a sua fidedignidade. No longa, a beata Maria de Araújo foi encenada por uma mulher negra, a atriz Marta Aurélia.
Por incrível que pareça, foi uma novidade. Até então, a religiosa havia sido encenada por atrizes brancas, como foi o caso da minissérie que tinha Débora Duarte no papel da beata.
Há outras obras nessa lista. Entre os destaques do ponto de vista da documentação de personagens históricos, está a obra de Eduardo Coutinho "Os Romeiros do Padre Cícero".
O cineasta acompanhou devotos que saem de caminhão de Arapiraca, sertão de Alagoas, para Juazeiro do Norte. Além de retratar um transporte que não é mais usado, Coutinho gravou depoimentos de ícones da história cicereana.
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Estão lá a artista plástica Assunção Gonçalves, que conviveu com o Padre Cícero, e o penitente José Aves de Jesus, cujo grupo famoso por prever o fim do mundo foi reduzido a um único sobrevivente, já apresentado nesta coluna.
E a lista deve crescer nos próximos anos. Em novembro de 2024, estiveram em Juazeiro do Norte produtores do novo filme sobre o Padre Cícero.
A obra tem roteiro de Lusa Silvestre, o mesmo dos longas "Estômago e Estômago 2", com inspiração no livro do jornalista cearense Lira Neto "Padre Cícero, poder, fé e guerra no Serão", considerado uma das principais obras sobre o sacerdote.