Prestes a fazer 70 anos, Lord Hotel tem ‘visível risco de desabamento’, diz ata do Metrofor
O prédio, que chegou a receber artistas e personalidades famosas nas décadas de 1960 e 1970, e fica no Centro de Fortaleza, está desocupado há 14 anos

Se Fortaleza já acompanhou o Edifício São Pedro, na Praia de Iracema, ser demolido após anos de abandono e deterioração, pode, nos próximos períodos, ver outro antigo hotel se tornar “irrecuperável” devido à falta de manutenção e ausência de decisão sobre o destino do local: o Lord Hotel, no Centro da Cidade. Uma ata de reunião do Conselho de Administração do Metrofor, (órgão proprietário do imóvel) ocorrida em 22 de janeiro de 2025 registra que, após uma visita ao imóvel, “constatou-se a situação de precariedade do prédio com visível risco de desabamento”.
O Lord Hotel, também chamado de Edifício Philomeno Gomes (em referência ao construtor), está prestes a completar 70 anos em 2026. O imóvel, localizado em uma área bastante marcada pelo comércio de rua no Centro, está desocupado há 14 anos e já esteve no centro de um debate sobre o possível uso como sede de um órgão público. Entre um plano e outro que não sai do papel, o imóvel segue desgastado.
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O prédio, que é tombado provisoriamente pela Prefeitura, esteve sob a posse do Município entre 2019 e 2024, sendo devolvido ao Governo do Estado em julho do ano passado. Após alguns meses da devolução do imóvel, em janeiro de 2025, na reunião do Conselho de Administração da Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor) que abordou uma série de decisões internas do órgão, o presidente do Metrofor, Plínio Pompeu de Saboya, tratou da situação do prédio.
A ata está disponível publicamente no site do Metrofor na área de Atas dos Conselhos Fiscais e Administração e no Diário Oficial do Estado, na edição publicada no dia 4 de fevereiro de 2025. Em ambos os locais é possível consultar o documento que é público.
Na reunião, após contextualizar a situação histórica do prédio, ele aponta que “atualmente, após nova visita ao imóvel, constatou-se a situação de precariedade do prédio com visível risco de desabamento”.
Antes, na reunião, Plínio relembrou o fato de que, na época da implementação da Linha Sul do Metrofor, “estudos técnicos de engenharia realizados concluíram que a proximidade da escavação para a construção da Estação José de Alencar comprometeria as fundações do edifício, ocasionando grave risco de desabamento”.
Ele também recordou que, diz o documento, “em abril de 2008, após as obras, foi realizada vistoria e emitido laudo técnico que apontou que a estrutura do edifício tinha parte dos pilares, vigas e lajes em estado avançado de deterioração devido à corrosão de suas armaduras”.
Na reunião em janeiro, conforme registra a ata, foi deliberado pelos membros do Conselho que seria agendada uma reunião com a Secretaria de Infraestrutura “para tratativas com relação ao imóvel” e que seria solicitado à Superintendência de Obras Públicas (SOP) “a realização de vistoria e consequente elaboração laudo técnico de engenharia para verificação da estabilidade e condições das estruturas de imóvel”.
O Diário do Nordeste entrou em contato com a assessoria de comunicação do Metrofor, no dia 24 de março, solicitando informações sobre a situação do Lord Hotel. A resposta foi enviada somente nesta segunda-feira (31), por meio da qual a empresa reitera que recebeu da Prefeitura, em meados de 2024, a posse do edifício Philomeno Gomes, cedida ao ente municipal em 2019.
Sobre a atual condição do imóvel, a nota diz: "após o recebimento, a empresa analisa as novas condições estruturais do prédio, e mantém diálogo com os entes públicos competentes, visando a melhor destinação possível para a edificação".
História do Lord Hotel
O Lord Hotel, erguido em 1956, é “irmão” do Edifício São Pedro - que em 2024 foi demolido após décadas de desgaste e nenhuma manutenção. Construída pela família Philomeno Gomes, a edificação com 8 andares e 120 apartamentos, localizada no cruzamento das Ruas 24 de Maio com Liberato Barroso, chegou a receber artistas e personalidades famosas nas décadas de 1960 e 1970.
Em estilo Art-Déco, o Lord Hotel foi arrendado a um casal suíço até 1959 e funcionou como hotel até 1992, depois virou residência-hotel. Em 2001, o Governo do Estado desapropriou o prédio para as obras do Metrofor e, em 2006, a Prefeitura de Fortaleza aprovou o tombamento. Mas nenhuma das ações significou, efetivamente, zelo e manutenção da propriedade.

Completamente desocupado desde 2011, o Lord Hotel, nos últimos anos, foi alvo do debate sobre a possível mudança da sede da Câmara Municipal para o Centro de Fortaleza. A ideia começou a ser cogitada há quase 10 anos e em 2019 o Governo do Estado cedeu a posse do bem para a Prefeitura, de modo que fosse possível mudar a sede do poder legislativo. Mas, embora um projeto tenha sido produzido e apresentado, a ideia não foi materializada.
Em 2024, segundo a Prefeitura, “o Edifício Philomeno/Lord Hotel foi oficialmente devolvido ao Governo do Estado do Ceará no dia 02 de julho”. Logo, o imóvel voltou a pertencer à Companhia Cearense de Transportes Metropolitanos (Metrofor).
Imóvel é tombado
O Lord Hotel foi tombado provisoriamente há 19 anos, em janeiro de 2006, na gestão da ex-prefeita Luizianne Lins (PT). O processo foi estabelecido pelo decreto 11.968/2006. Na ocasião, outros prédios icônicos da Capital também foram protegidos, como o Casarão do Português, o Bar do Avião e a Casa de Rachel de Queiroz.
Uma ata da reunião ordinária do Conselho de Proteção do Patrimônio Histórico e Cultural (Comphic), do dia 6 de novembro de 2019, indica que àquela altura - 13 anos após o tombamento provisório - , o Lord Hotel não tinha instrução de tombamento, mas havia um projeto de reforma para o prédio.

Na época, os planos de reforma do local eram para a mudança da Câmara Municipal de Fortaleza para o Centro. Na ocasião, o projeto arquitetônico para a reestruturação do antigo hotel foi aprovado pelo Comphic e a Coordenação de Patrimônio Histórico e Cultural se comprometeu a finalizar o texto da instrução de tombamento e providenciar os encaminhamentos necessários para o tombamento definitivo. Isto não ocorreu.
O Diário do Nordeste entrou em contato com a Secretaria Municipal da Cultura de Fortaleza, (Secultfor), na última sexta-feira (28), mas até a publicação desta matéria não obteve retorno.