Exposição gratuita e inédita em Fortaleza reúne esculturas hiper-realistas que impressionam
Entre o belo e o perturbador, obras do artista plástico Giovani Caramello exploram e valorizam as vulnerabilidades humanas
Uma exposição que une perfeição técnica e reflexões sobre as experiências e imperfeições comuns a todas as pessoas, como afetos, angústias e marcas da passagem do tempo, chegou à Caixa Cultural Fortaleza nesta semana.
Com técnicas que remontam à tradição das esculturas gregas, mas trazem inovações tecnológicas e conceituais, a mostra “Hiper-realismo no Brasil” reúne dez obras do artista Giovani Caramello e tem acesso gratuito para públicos de todas as idades.
Artista de Santo André (SP), Caramello é considerado um dos grandes expoentes do hiper-realismo brasileiro, e começou a se desenvolver de forma autodidata após anos trabalhando em um escritório de modelagem 3D.
A exposição, que tem curadoria de Icaro Ferraz Vidal Júnior, já passou por Salvador, Curitiba, São Paulo e Recife – e acumula mais de 80 mil visitantes, que se encantaram com as obras que reproduzem, com perfeição, traços e emoções humanas.
O hiper-realismo é um movimento artístico que surge entre o fim da década de 70 e o início dos anos 80, como uma forma de resgate da valorização do trabalho técnico dos artistas que predominava até o século XIX, mas trazendo para o debate aspectos que vão contra a cultura do consumo e a perfeição dos corpos exibidos nas esculturas clássicas.
Entre as obras, destacam-se as esculturas de meninos, características da produção de Caramello – como a inédita “Casulo II” –, “Nikutai”, que retrata um dançarino de puteaux (estilo de dança japonesa que ganhou força no pós-guerra), e a impressionante “Segunda Chance”, o busto de um homem idoso que passou por uma cirurgia de peito aberto.
O curador Icaro Vidal destaca que a oportunidade de ver as esculturas expostas de perto é rara, já que quase todas são oriundas de coleções particulares. A singularidade das obras é demarcada pelo mix de técnicas e materiais que, juntos, expressam movimentos, texturas e detalhes orgânicos difíceis de serem reproduzidos, como lágrimas, rugas, manchas e cicatrizes.
As dez peças estão dispostas em uma espécie de linha do tempo que leva o visitante dos primeiros anos da infância à velhice. A primeira delas, “À Deriva”, determina o tom das demais: uma criança de olhos tristes e assustados, poucas vestes e pés descalços que parece não saber para onde remar.
O hiper-realismo do Giovani não é um hiper-realismo que está a serviço de um escapismo em relação ao que é próprio do humano, né? Pelo contrário, é um hiper-realismo que está à serviço da comunicação de uma vulnerabilidade, de uma fragilidade, da imperfeição, das marcas do tempo."
Outras peças da mostra retratam instantes que podem remeter de pequenas insatisfações cotidianas – como a birra infantil e o tédio– a transformações e dores profundas, como a gestação, a tristeza e a contemplação do fim da vida.
Detalhes para além das telas
“Giovani explora questões que têm um forte cunho humanista. São questões ligadas à solidão, a determinados afetos – tristeza, tédio, angústia –, à questão da passagem do tempo, do envelhecimento, da efemeridade, da impermanência da vida”, explica Icaro.
O curador destaca que as esculturas possuem forte caráter biográfico, o que contribui para a criação de um estilo próprio. “As figuras não representam ele, mas, de alguma forma, representam estados ou condições existenciais que ele, de alguma maneira, experimentou ou viveu”, completa.
O grande trunfo da exposição é ser única para cada visitante. Para Icaro, cada peça se torna também espelho de quem a vê, remetendo a memórias e afetos pessoais. Além disso, as obras convidam para a contemplação da arte para além das telas, já que suas dimensões e os detalhes cuidadosos só podem ser conhecidos, verdadeiramente, ao vivo.
“Um encontro com essas obras não é substituível por outras mídias. Você pode ver uma fotografia desse trabalho, achar intrigante, mas a sua presença diante dele não é substituível pela fotografia”, conclui o curador.
Serviço
Exposição Hiper-realismo no Brasil, de Giovani Caramello
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
Quando: Até 15 de setembro de 2024
Visitação: De terça-feira a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 19h
Classificação indicativa: 14 anos
Acesso gratuito | Acessibilidade para pessoas com deficiência
Mais informações: (85) 3453-2770 / caixacultural.gov.br