Exposição gratuita e inédita em Fortaleza reúne esculturas hiper-realistas que impressionam

Entre o belo e o perturbador, obras do artista plástico Giovani Caramello exploram e valorizam as vulnerabilidades humanas

Escrito por Ana Beatriz Caldas , beatriz.caldas@svm.com.br
Obra
Legenda: Obra "Segunda Chance" (2017), que aborda a passagem do tempo, é feita de silicone, fibra de vidro, pelo sintética e resina acrílica
Foto: Thiago Gadelha

Uma exposição que une perfeição técnica e reflexões sobre as experiências e imperfeições comuns a todas as pessoas, como afetos, angústias e marcas da passagem do tempo, chegou à Caixa Cultural Fortaleza nesta semana.

Com técnicas que remontam à tradição das esculturas gregas, mas trazem inovações tecnológicas e conceituais, a mostra “Hiper-realismo no Brasil” reúne dez obras do artista Giovani Caramello e tem acesso gratuito para públicos de todas as idades.

Artista de Santo André (SP), Caramello é considerado um dos grandes expoentes do hiper-realismo brasileiro, e começou a se desenvolver de forma autodidata após anos trabalhando em um escritório de modelagem 3D.

A exposição, que tem curadoria de Icaro Ferraz Vidal Júnior, já passou por Salvador, Curitiba, São Paulo e Recife – e acumula mais de 80 mil visitantes, que se encantaram com as obras que reproduzem, com perfeição, traços e emoções humanas. 

Esculturas reproduzem aspectos do corpo humano com perfeição
Legenda: Esculturas reproduzem aspectos do corpo humano com perfeição
Foto: Thiago Gadelha

O hiper-realismo é um movimento artístico que surge entre o fim da década de 70 e o início dos anos 80, como uma forma de resgate da valorização do trabalho técnico dos artistas que predominava até o século XIX, mas trazendo para o debate aspectos que vão contra a cultura do consumo e a perfeição dos corpos exibidos nas esculturas clássicas.

Escultura
Legenda: Escultura "Nikutai", obra central da mostra, impressiona pelos 2,5 metros de altura
Foto: Thiago Gadelha

Entre as obras, destacam-se as esculturas de meninos, características da produção de Caramello – como a inédita “Casulo II” –, “Nikutai”, que retrata um dançarino de puteaux (estilo de dança japonesa que ganhou força no pós-guerra), e a impressionante “Segunda Chance”, o busto de um homem idoso que passou por uma cirurgia de peito aberto.

Icaro Ferraz Vidal Júnior, curador da mostra
Legenda: Icaro Ferraz Vidal Júnior, curador da mostra
Foto: Thiago Gadelha

O curador Icaro Vidal destaca que a oportunidade de ver as esculturas expostas de perto é rara, já que quase todas são oriundas de coleções particulares. A singularidade das obras é demarcada pelo mix de técnicas e materiais que, juntos, expressam movimentos, texturas e detalhes orgânicos difíceis de serem reproduzidos, como lágrimas, rugas, manchas e cicatrizes. 

Obra
Legenda: Obra "À Deriva" (2022)
Foto: Thiago Gadelha

As dez peças estão dispostas em uma espécie de linha do tempo que leva o visitante dos primeiros anos da infância à velhice. A primeira delas, “À Deriva”, determina o tom das demais: uma criança de olhos tristes e assustados, poucas vestes e pés descalços que parece não saber para onde remar. 

O hiper-realismo do Giovani não é um hiper-realismo que está a serviço de um escapismo em relação ao que é próprio do humano, né? Pelo contrário, é um hiper-realismo que está à serviço da comunicação de uma vulnerabilidade, de uma fragilidade, da imperfeição, das marcas do tempo."
Icaro Vidal
Curador

Outras peças da mostra retratam instantes que podem remeter de pequenas insatisfações cotidianas – como a birra infantil e o tédio– a transformações e dores profundas, como a gestação, a tristeza e a contemplação do fim da vida.

Escultura
Legenda: Escultura "Segunda Chance" finaliza o percurso da exposição
Foto: Thiago Gadelha

Detalhes para além das telas 

“Giovani explora questões que têm um forte cunho humanista. São questões ligadas à solidão, a determinados afetos – tristeza, tédio, angústia –, à questão da passagem do tempo, do envelhecimento, da efemeridade, da impermanência da vida”, explica Icaro.

Algumas das obras retomam um aspecto clássico da tradição escultórica grega: o drapeado, técnica associada ao movimento
Legenda: Algumas das obras retomam um aspecto clássico da tradição escultórica grega: o drapeado, técnica associada ao movimento
Foto: Thiago Gadelha

O curador destaca que as esculturas possuem forte caráter biográfico, o que contribui para a criação de um estilo próprio. “As figuras não representam ele, mas, de alguma forma, representam estados ou condições existenciais que ele, de alguma maneira, experimentou ou viveu”, completa.

O grande trunfo da exposição é ser única para cada visitante. Para Icaro, cada peça se torna também espelho de quem a vê, remetendo a memórias e afetos pessoais. Além disso, as obras convidam para a contemplação da arte para além das telas, já que suas dimensões e os detalhes cuidadosos só podem ser conhecidos, verdadeiramente, ao vivo. 

Detalhe da obra
Legenda: Detalhe da obra "Apego" (2015)
Foto: Thiago Gadelha

“Um encontro com essas obras não é substituível por outras mídias. Você pode ver uma fotografia desse trabalho, achar intrigante, mas a sua presença diante dele não é substituível pela fotografia”, conclui o curador.

Serviço
Exposição Hiper-realismo no Brasil, de Giovani Caramello
Onde: Caixa Cultural Fortaleza (av. Pessoa Anta, 287 - Praia de Iracema)
Quando: Até 15 de setembro de 2024
Visitação: De terça-feira a sábado, das 10h às 20h; domingos e feriados, das 10h às 19h
Classificação indicativa: 14 anos
Acesso gratuito | Acessibilidade para pessoas com deficiência
Mais informações: (85) 3453-2770 / caixacultural.gov.br

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