'Vale Tudo' de 1988 superou falta de celular, GPS, DNA e câmeras de segurança

As personagens Odete Roitman e Maria de Fátima são recorrentes em atos de vilania na trama

Cenas com telefones fixos foram bastantes gravadas na primeira versão de 'Vale Tudo'
Legenda: Cenas com telefones fixos foram bastantes gravadas na primeira versão de 'Vale Tudo'
Foto: Reprodução/TV Globo

Os vilões do remake de "Vale Tudo" não vão sofrer tanto com a ausência de recursos tecnológicos para fazer maldades. Em 1988, na versão original da obra, os autores Gilberto Braga, Aguinaldo Silva e Leonor Bassères superaram a ausência de celulares, câmeras de segurança e redes sociais para relacionar as diferentes narrativas dos personagens. Agora, na nova versão reescrita por Manuela Dias, todos esses itens citados surgem como ingrediente para a trama e podem, sem dúvidas, transformar a história.

A autora até pontuou a diferença durante entrevista no lançamento da novela, realizado em uma grande festa no Rio de Janeiro, dias antes da estreia. "A tecnologia foi o grande desafio que eu consigo apontar para poder contar essa história de novo. É muita coisa, ninguém consegue ficar escondido hoje, o celular está aqui do lado. Acho que são muitas frentes de adaptação. A tecnologia é uma delas, o celular, a internet, mas não é só isso também", reforçou Manuela.

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Na trama original, a personagem Maria de Fátima, vivida por Gloria Pires na época, se encontra diariamente com o amante César (Carlos Alberto Riccelli) sem se preocupar com ligações de celular do marido — o empresário Afonso Roitman (Cássio Gabus Mendes). 

O impacto da falta de celular também é visto nos sumiços dados por Renata Sorrah (Helena Roitman). Ela desaparece por longos períodos e a família não consegue nenhum tipo de contato.

Sistema de rádio usado por personagem para se comunicar com outro morro
Legenda: Sistema de rádio usado por personagem para se comunicar com outro morro
Foto: Reprodução/Globo

Outro exemplo marcante da ausência de celular é uma situação que passa a personagem Raquel (Regina Duarte). Parte da comida que ela distribui pela empresa dela é envenenada por um capanga de Odete Roitman (Beatriz Segall). Ela precisa entrar em contato com 25 restaurantes para barrar o consumo de uma salada de maionese. O problema é que cinco estabelecimentos não atendem aos chamados por telefone.

Vários personagens saem em diferentes carros pelas ruas do Rio de Janeiro para avisar do alimento envenenado nos restaurantes. Para tentar superar o problema tecnológico, os autores até usam sinal de um sistema de rádio de um traficante — irmão do personagem Gildo (Fernando Almeida) — para contatar pessoas de outro morro que fica próximo dos estabelecimentos que receberam a comida. 

Câmera de segurança pode atrapalhar vilões na atualidade

Cofre em sala de Odete Roitman
Legenda: Cofre em sala de Odete Roitman
Foto: Reprodução/TV Globo

Um dispositivo que os autores do remake vão ter que enfrentar na atualidade é a existência de câmera de segurança. Em diferentes núcleos da novela original, o roubo de cofres são retratados. Um dos objetos alvos dos personagens, por exemplo, fica na sala da presidência da empresa aérea TCA, onde fica Odete Roitman.

Em 1988, as câmeras de segurança não eram uma realidade como atualmente é em salas comercias, entradas de lojas, entre outros locais. 

Exame de DNA chegou ao Brasil no ano da novela 

Filho de Fátima passa por exame de DNA em novela
Legenda: Filho de Fátima passa por exame de DNA em novela
Foto: Reprodução/TV Globo

Além da morte de Odete Roitman, um dos grandes momentos da novela original é a descoberta da paternidade do filho de Maria de Fátima. Ela trai Afonso com o modelo Cesar e é descoberta por Celina Junqueira (Nathalia Timberg).

Sem a existência de GPS no Brasil ou qualquer tipo de rastreador, Celina segue de carro Maria de Fátima por diversas vezes para descobrir com quem ela se encontrava. Celina flagra a mulher do sobrinho entrando em um flat e convence, com uso de dinheiro, o gerente do local a informar a identidade do residente no prédio. 

No decorrer da narrativa, Maria de Fátima aparece grávida. Por Celina saber do relacionamento dela com César, então, ela acredita que a criança não seja herdeiro do sobrinho, o empresário Afonso. 

Para saber como desvendar a paternidade do filho de Maria de Fátima, Celina busca ajuda do amigo Renato Filipelli (Adirano Reys), dono da revista "Tomorrow". Na época, o personagem fala que o exame de DNA já é uma realidade no exterior. No Brasil, ele explica que o teste é feito apenas em casos judiciais com um valor de custo alto — o que não é problema para ela.

Renato conta ainda na novela que apenas o Centro de Investigação de paternidade no Hospital Oswaldo Cruz, em São Paulo, realizava o procedimento sob casos específicos, mas que seria mais fácil no exterior. Só após o nascimento da criança, eles conseguem fazer o exame e descobrir quem é o pai da criança. 

No Brasil, em 12 de junho de 1988, o laboratório Núcleo de Genética Médica de Minas Gerais (Gene) foi quem anunciou oficialmente ao público brasileiro que realizava o revolucionário exame de determinação de paternidade pelo DNA no país.

Mudanças na sociedade

Para Manuela Dias, inclusive, as mudanças tecnológicas também andarão em conjunto com a retratação das mudanças da sociedade. A autora acredita que alguns temas abordados na versão original não podem ser tratados da mesma forma atualmente.

"A nossa relação humana de afeto, as redes sociais e tudo isso, tudo mudou. Então, assim, questões como o casamento homoafetivo, que não era reconhecido, a questão do trabalho infantil, que não era tipificado, o alcoolismo, que não era entendido como uma doença, tudo vai ser retratado agora de uma forma diferente, é claro", reforçou. 

Para ela, são "muitas e muitas adaptações", mas tudo isso deve contribuir ainda mais para identificação dos espectadores com a telenovela. 

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