Influenciadoras brasileiras apagam 'publis' de empresa investigada pela Interpol
Publicidade da Alabuga Start, divulgada como “Start Program”, prometia salários e benefícios na Rússia
Um caso tomou conta das redes sociais e deixou muitas jovens, especialmente entre 18 e 22 anos, em alerta sobre propagandas feitas por influenciadores digitais. Criadoras de conteúdo com milhões de seguidores divulgaram em suas páginas uma empresa chamada Alabuga Start, atualmente investigada pela Organização Internacional de Polícia Criminal (Interpol) por suspeita de envolvimento em tráfico humano e exploração laboral.
A empresa já havia sido alvo de reportagens internacionais e relatórios apontando o mesmo modus operandi usado contra jovens africanas, mas que chegou ao Brasil com outro nome: Start Program. Apesar da roupagem diferente, o site e a estrutura eram os mesmos da companhia monitorada pela Interpol.
De acordo com a Iniciativa Global contra o Crime Organizado Transnacional (GI-TOC), mulheres que aceitaram a proposta na Rússia relataram jornadas de trabalho exaustivas, vigilância constante e problemas de saúde devido ao contato com produtos químicos perigosos.
O relatório também aponta que muitas foram levadas sob a promessa de cursos e crescimento profissional, mas ao chegarem descobriram que eram obrigadas a: montar armas de guerra e drones de ataque utilizados na guerra da Ucrânia; trabalhar em serviços de limpeza e buffet; e cumprir turnos longos em condições degradantes.
O tema ganhou repercussão no Brasil após denúncias dos influenciadores Guga Figueiredo e Jordana Vucetic. Em vídeo que soma mais de 700 mil visualizações, Guga mostrou um post da cantora MC Thammy divulgando a empresa. Ele também expôs outras criadoras que participaram da publicidade, como Catherine Bascoy, Aila Loures e Isabela Duarte. Após a polêmica, todos os vídeos e perfis ligados à empresa foram apagados.
As propagandas prometiam salários de até US$ 670 por mês (cerca de R$ 3.564), além de benefícios como passagens aéreas, alojamento, seguro médico, aulas de russo e documentação de imigração. A proposta previa um contrato de dois anos, com vagas em áreas como hospitalidade, alimentação, logística e produção.
Influenciadoras reagem
Após a repercussão, MC Thammy afirmou que apagou o conteúdo e garantiu que não voltará a divulgar ações semelhantes.
“Fiz a ‘publi’ porque apresentaram documentação e mostraram comprovações. Outros influenciadores grandes também estavam postando. Nunca faria algo que prejudicasse as pessoas. Acionei minha equipe jurídica e aprendi com a situação”, disse.
A influenciadora Aila Loures, com 2 milhões de seguidores, declarou que também foi surpreendida. “Jamais faria isso intencionalmente por nenhum valor. Antes de aceitar, solicitei avaliação jurídica da minha agência. Tudo parecia estar 100% legal”, afirmou.
Já Catherine Bascoy divulgou uma nota oficial ressaltando que sua participação foi apenas como contratada e que está tomando providências. “Minha intenção nunca foi prejudicar quem me acompanha. Sempre busquei responsabilidade e critério nas escolhas de parcerias”, declarou.
A equipe de Isabela Duarte disse, em comunicado ao portal Metrópoles, que a criadora participou “de boa-fé” e repudia qualquer prática que desrespeite direitos humanos, colocando-se à disposição das autoridades para colaborar com investigações.
Sobre a Alabuga Start
No site oficial, a empresa afirma estar localizada no Tartaristão, Rússia, região conhecida como centro de produção e distribuição de drones militares. O portal The Moscow Times aponta que a cidade abriga uma das maiores fábricas desse tipo de armamento.
As primeiras denúncias internacionais surgiram em 2024, quando mulheres de países como Uganda, Ruanda, Quênia, Sudão do Sul, Serra Leoa, Nigéria e Sri Lanka relataram ter sido levadas ao programa sob falsas promessas. No Brasil, a estratégia foi a mesma: mirar jovens entre 18 e 22 anos, vendendo a ideia de intercâmbio e oportunidades de crescimento.
Até o momento, não há registros de que a empresa tenha qualquer autorização legal para operar no país.