Cearense de 54 anos busca trabalho em hospital de Covid para “ajudar de alguma forma” na pandemia

Aldizia Lima largou o posto de síndica para atuar como copeira no Hospital Estadual Leonardo Da Vinci, em Fortaleza

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Copeira HELV
Legenda: Aldizia queria ser voluntária na pandemia, e acabou sendo contratada como copeira do Hospital Estadual Leonardo Da Vinci
Foto: Ascom HELV

Quando muitos tentam se afastar de hospitais que tratam Covid-19, Aldizia Lima Bezerra, 54, optou por estar dentro de um. Deixou de lado a vida de síndica e de dona de casa para ser copeira no Hospital Estadual Leonardo Da Vinci (HELV), com um objetivo claro: “ajudar as pessoas de alguma forma”.

A ideia inicial era realizar algum trabalho voluntário dentro do hospital, mas com “zero experiência na área da saúde” não seria possível. “Foi aí que abriu processo seletivo pra área da copa, e me inscrevi. Porque sou dona de casa e queria que os pacientes se sentissem um pouco mais nas casas deles”, explica.

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A jornada inicia, oficialmente, às 7h, mas “estourando 6h15” a funcionária já está nas dependências do hospital, cujos leitos se ocupam, neste sábado (1º), com 258 pacientes: 162 deles nas Unidades de Terapia Intensiva (UTI).

“O remédio ajuda, mas a palavra cura”

Além da alimentação para o corpo, Aldizia se orgulha ao dizer que a tentativa é também de nutrir a alma dos pacientes que lutam contra o coronavírus por dias. “Tento levar um pouco de alegria, porque estão longe de casa. Muitos não querem comer, mas eu peço que comam pra voltarem logo pra casa. O remédio ajuda, mas a palavra cura”, reflete.

Quando um paciente não quer se alimentar, eu o convenço a comer, mesmo sem sentir gosto. Mando fechar os olhos e imaginar a melhor comida.

Nos primeiros dias, a copeira confessa, “tremeu nas bases”. Não só por ficar “arrasada com a situação que via”, mas porque caiu a ficha do medo de contrair a doença em um ambiente tão contaminado. O propósito de melhorar a realidade dos pacientes de alguma forma, porém, seguiu firme.

“Nos primeiros três plantões, eu chegava em casa arrasada, mas ao mesmo tempo alegre por poder mudar um pouco aqueles destinos. Meus filhos entendem, sabem que esse meu esforço tá valendo a pena. Noto que eles têm orgulho de mim”, emociona-se.

“Me sinto primordial”

Com um mês e meio no posto de trabalho, Aldizia exala orgulho ao dizer que se sente mais do que essencial, em tempos de pandemia. O medo de “lidar com o invisível” é sufocado pelo prazer de “ver uma vida recuperada, que esteve na beira do abismo e voltou”.

A vocação para ajudar, então, se renova a cada leito que se esvazia com um desfecho de cura. No Ceará, aliás, já são mais de 459 mil recuperados da Covid, incluindo os que tiveram alta hospitalar e os que tiveram evolução para cura.

“Fico muito triste quando a gente perde uma vida. Mas tem os que entram sem falar, eu ia lá, dava uma palavra de conforto, e depois vi saindo daqui falando, comendo. Ver um paciente recuperado e saber que fiz parte disso, pra mim, vale muito a pena. É uma sensação tão boa que só estando aqui é que sabe.”

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