Uma a cada três mortes por Covid na área da saúde no Ceará é de profissionais da enfermagem

Técnicos, auxiliares e enfermeiros já somam 17 dos 50 óbitos de trabalhadores da saúde no Estado, e também são os mais infectados pelo coronavírus durante a pandemia

Escrito por Redação , metro@svm.com.br
Enfermeiro Ceará
Legenda: Médicos e profissionais da enfermagem são os mais infectados e mortos pela Covid
Foto: Camila Lima

Estar na linha de frente de combate à Covid-19 e ser mais do que essencial numa pandemia é estar exposto: pelo menos 20.534 profissionais da saúde já testaram positivo e 50 morreram por coronavírus. Trabalhadores da enfermagem são os mais afetados.

Os dados são do Integra SUS, da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), coletados às 14h desta quarta-feira (10).

Técnicos e auxiliares de enfermagem já respondem por 5.661 das infecções e 11 óbitos pelo vírus pandêmico no Ceará. Entre os enfermeiros, são 3.156 casos confirmados e seis mortes. 

Juntos, então, os profissionais da enfermagem somam 8.817 infectados, o que corresponde a 43% dos casos entre trabalhadores da saúde; e 17 mortos, 34% dos óbitos registrados nas categorias. Em proporção, uma a cada três mortes por Covid na área da saúde no Ceará é de um técnico, auxiliar ou enfermeiro.

Dos médicos que atuam nas unidades de saúde cearenses, 1.659 já contraíram a doença, dos quais 14 não resistiram às complicações e evoluíram para óbito. 

Entre todos os trabalhadores da saúde, as que mais adoecem são as mulheres, mas os homens são os que mais morrem. Dos casos confirmados, 14.881 ocorreram entre mulheres e 5.653 entre homens; das mortes registradas, 19 levaram mulheres e 31, homens.

10 profissionais da saúde com mais casos de Covid-19

10 profissionais da saúde com mais mortes por Covid-19

Todos os municípios cearenses já têm pelo menos um profissional da saúde doente por Covid-19, e 22 localidades perderam trabalhadores para a doença. As cinco cidades com mais casos são Fortaleza (7.647), Sobral (957), Caucaia (744), Juazeiro do Norte (642) e Crato (456). Sozinha, a capital concentra 23 das 50 mortes entre os trabalhadores.

Exaustão física e mental

Profissionais de saúde
Foto: AFP

Conselhos regionais das categorias pedem celeridade na vacinação dos profissionais da saúde, melhores medidas de proteção no ambiente de trabalho, paralisação de atividades econômicas no Estado e consciência à população.

O infectologista Roberto de Justa, secretário-geral do Conselho Regional de Medicina do Estado do Ceará (Cremec), alerta que, para suprir a demanda de atendimento, os profissionais da saúde estão se exaurindo. 

O médico defende o recrutamento de mais trabalhadores para dar assistência à população nas próximas semanas, quando a segunda onda da Covid-19 deve se agravar no Ceará, além da necessidade de mais leitos disponíveis.

“Os profissionais da saúde, de uma maneira geral, estão muito tensos, muito cansados, muito estressados, estão adoecendo. Se essa onda continuar crescendo, nós teremos um grave problema de deficiência de profissionais de saúde para atender”, afirma.

Roberto explica ainda que alguns profissionais que sobreviveram ao quadro infeccioso ficaram com sequelas graves. Com o cenário superlotado dos hospitais, os profissionais acabam diminuindo protocolos de segurança e se expondo ao vírus para conseguir atender pacientes.

Para Ana Paula Lemos, secretária geral do Conselho Regional de Enfermagem do Ceará (Coren), as medidas de segurança sanitária precisam ser reforçadas. Segundo ela, grande parte dos enfermeiros e técnicos ou auxiliares de enfermagem se contaminam quando estão retirando e descartando os equipamentos de proteção individual. 

A representante do Coren pede, ainda, que gestores de hospitais reforcem treinamentos dos protocolos para diminuir a exposição dos profissionais ao vírus. E que a população tenha “empatia” porque quem está na linha de frente.

"A gente está vivendo um momento de caos, esses profissionais estão expostos ao vírus, a morrer pela contaminação, a levar pra casa pros familiares. Eles estão inclusive emocionalmente abalados, e a gente vê ainda em uma grande parte da população a descrença”, diz a secretária.

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