Veja quais faixas etárias concentram o maior e menor número de infectados por Covid-19 no Ceará
Apesar da alta vertiginosa dos casos, passando da marca de 90 mil neste mês de janeiro, a curva do óbitos não sobe na mesma velocidade, devido a vacinação, conforme apontam especialistas.
Um padrão observado nesta pandemia da Covid-19 desde o último semestre do ano passado no Ceará tem, não só se repetido neste mês de janeiro, como se potencializado. Os casos de infecção entre pessoas de 30 a 39 anos, aqui no Estado, foram maioria em cinco dos seis meses finais de 2021.
Em janeiro deste ano, essa faixa etária segue tendo a maior incidência de infecções, só que como uma distância maior para a segunda faixa de idade (40-49). No mês de dezembro de 2021, por exemplo, de todos os 8.710 casos confirmados de infecção, 1.789 foram entre pessoas de 30 a 39 anos, ou seja, 20,5% dos casos.
Em seguida, aparece a faixa etária de 40 a 49 anos, que respondeu, no mês passado, por 15,2% das infecções registradas no Ceará. Já em janeiro deste ano, o índice é ainda maior. Das 91.380 infecções confirmadas até este sábado (29), 19.595 são entre cearenses de 30 a 39 anos - quase 22%.
Já os infectados entre 40 a 49 anos respondem por 16% de todos os casos registrados em janeiro deste ano. Somente no mês de agosto - no recorte tem como base o intervalo entre julho de 2021 a janeiro deste ano - o Estado não registrou mais casos entre as idades de 30 a 39. Naquele período, a liderança ficou a faixa etária de 20 a 29 anos, respondendo por 19% dos 9.001 infectados.
Já no lado oposto, a faixa etária entre 70 a 79 anos figura como a que teve o menor número de infectados em janeiro deste ano e dezembro, novembro, setembro, agosto e julho de 2021. Somente em outubro essa faixa de idade foi ultrapassada pelo grupo de 0 a 9 anos que, naquele mês, teve o menor número de infectados (299 casos contra 314 da faixa etária de 70-79 anos).
Baixo índice de óbitos
Apesar de figurar entre a faixa etária que mais registrou casos, o grupo entre 30 a 39 anos, assim com a faixa de 40 a 49 anos - juntos eles respondem por 41% de todos os casos de janeiro -, não está entre o que teve o maior registro de óbitos.
Pelo contrário, é um dos que têm menor índice, ao lado das crianças e jovens. Entre a faixa etária de 30 a 39 anos, foram 14 mortes, de um total de 330 registradas até o último sábado, o que configura porcentagem de 4,24%. Já a faixa etária entre 40 e 49 anos, teve ainda menor óbitos, 10 ao todo, ou sega, 3% do total.
O grupo com maior número de mortes por decorrência da Covid-19 é o de 75 anos para cima. Ao todo, são 179 casos, o que indica porcentagem de 54,5% de todos os óbitos, em janeiro, no Ceará. Os dados foram extraídos às 16h18 de sábado (29), do IntegraSus, plataforma oficial da Secretaria da Saúde do Estado.
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"As mortes são registradas, em sua grande maioria, nas pessoas sem vacinação ou com o ciclo vacinal incompleto", aponta o médico especialista em Saúde Comunitária, Paulo Sávio
Importância da imunização
Paulo Sávio explica que essa diferença entre muitos infectados - na faixa de 30 a 49 anos -, mas com pouca incidência de mortes, deve-se ao poder da vacina. "É um grupo de pessoas que, provavelmente, em sua grande maioria, já completou o ciclo vacinal, incluindo a dose de reforço", diz.
A maioria dos casos são leves. Não há complicações com sintomas graves nem muitas mortes e esse é o principal propósito da vacina. A maioria dos infectados têm se tratado sem necessidade de internação.
Mas, o que explicaria tantos infectados nesta faixa etária de 30 a 49 anos? Para o médico, há uma combinação de variáveis, dentre elas, a maior exposição pelo qual este grupo está sucetível.
"Essa é uma faixa etária produtiva, que está em plena atividade produtiva. Além disso, são pessoas que podem ter viajado nas férias, se confraternizado em grupos maiores e, essa soma de fatores, indica que elas circularam mais. Além disso, também tem o acesso ao teste, que tem de ser levado em consideração. Pode ser um grupo que teste mais e, portanto, temos mais positivados".
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O especialista também reforça o alto poder de transmissão da variante Ômicron, até então, a cepa com maior pode de contaminação já detectada na pandemia. Essa nova cepa, cujo primeiro caso no Ceará foi confirmado no fim de dezembro passado, já representa 99% de todas as infecções no Estado, conforme apontou estudo da Fiocruz.
"Ela é muito mais transmissível que a variante Delta", detalha Sávio. Então, esse poder de infecção do vírus acaba se sobresaindo entre àqueles cuja exposição e circulação são maiores. "Se a Ômicron viesse na primeira onde, quando não havia a vacinação, o cenário seria catastrófico", dimensiona o médico.
Pressão na rede de atendimento
Apesar de o índice de mortes não crescer com a mesma proporção da curva de infectados, Paulo Sávio alerta para a importância da continuidade dos cuidados não farmacológicos, mesmo entre os vacinados para que "não haja uma grande pressão na rede de atendimento".
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"Mesmo que os casos sejam mais leves, há um grande número de pessoas infectadas. Desta forma, inevitavelmente, haverá uma porcentagem que precisará de suporte médico e, quanto maior for o quantitativo de infectados, maior será a pressão no sistema. Por isso é importante reverter essa curva de transmissão", alertou o especialista.
Em alguns países da Europa já há o surgimento de uma "subvariante" da Ômicron, a Ômicron 2. Então, sem todas essas medidas, a gente corre o risco do surgimento de novas variantes.
Uma das medidas sugeridas por Sávio é aumentar, ainda mais, a oferta de testes, inclusive os autotestes, com "uma política preparada para que esse autoteste seja feito e seja informado o resultado aos órgãos de saúde. Esses dados serão importantes para a Vigilância Sanitária definir suas estratégias e locais de atuação".