Universitários relatam urgência para volta às aulas presenciais, mas exigem cobrança de vacinação
Comprovante de imunização já é obrigatório para entrar em campi da Uece; medida segue em análise por outras instituições
Já são quase 2 anos sem que universitários cearenses entrem em sala de aula. Há quem teve a vivência presencial interrompida, e também quem já ingressou no ensino superior na pandemia. Um sentimento, então, é comum a todos: a urgência por retornar à universidade. E vacinados.
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Os grupos de estudo, aulas de campo e momentos de interação com os colegas são, hoje, só lembranças de um longínquo 2019 vivido por José Luiz Neto, 20, estudante de Geografia da Universidade Federal do Ceará (UFC) desde aquele ano.
Sou um veterano que só fez 1 ano presencial. A maioria dos colegas que conheci em 2019 já se formaram, e essas 4 turmas que entraram na pandemia não fazemos ideia de quem seja. Precisamos voltar pra conhecer essas pessoas.
Luiz destaca que, principalmente para cursos como o dele, as atividades práticas são fundamentais “para entender a realidade do espaço geográfico”. Além disso, conhecer novas pessoas e lugares pode determinar toda a trajetória pessoal e profissional.
“Minha expectativa era de conhecer o ambiente e construir relações que pudessem me fixar e ajudar a escolher qual caminho seguir na universidade. Mas no remoto é mais difícil se comunicar com professores e os próprios colegas. Fiquei mais introspectivo pra participar das atividades”, confessa.
Mesmo preocupado, acho que a gente precisa voltar às aulas presenciais, até pelo déficit que já tivemos nesses anos. Mas é importante que seja exigido o passaporte de vacinação para entrar, porque quem não quis a vacina é um risco para os outros.
Quem também só vivenciou a rotina acadêmica “normal” por um ano, “tempo muito curto para experienciar a universidade”, foi a estudante Jordana Dias, 20, que cursa Serviço Social da Universidade Estadual do Ceará (Uece).
Ser privada da interação presencial com professores e amigos, desde março de 2020, representa, para ela, a principal lacuna do ensino remoto. Ela até cita vantagens do modelo, como flexibilidade de horários, mas deseja que seja encerrado o mais breve possível.
A dificuldade de concentração no ambiente digital e a falta de contato presencial são os maiores desafios. O momento mais difícil foi quando eu e meus familiares adoecemos: além do medo da doença, ainda precisava lidar com os estudos.
A ansiedade pelo retorno ao campus da Uece no Itaperi, previsto para março, contudo, não é incondicional: para Jordana, a decisão da universidade de exigir o passaporte de vacinação para entrada nos campi foi acertada.
“Tenho muitas expectativas pro retorno, mas ainda tenho alguns receios. Com o avanço da vacinação, a redução do número de mortes e a já anunciada exigência do passaporte na Uece, me sinto mais segura”, declara a universitária.
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A necessidade de um retorno que respeite ao máximo as medidas sanitárias contra a Covid “para proteger professores e alunos”, também é reforçada pela universitária Larissa Weden, 21, estudante de Bioquímica da UFC.
É necessário o uso de máscaras adequadas, como a N95, e a exigência do passaporte de vacinação. Muitos professores e alunos são de grupo de risco, todo cuidado é pouco.
Previsão de retorno às aulas presenciais
O retorno integral às atividades presenciais na UFC está previsto para o dia 16 de março, como já confirmado pela instituição. Em nota, a universidade declara estar “ciente da importância da imunização”, a qual tem “estimulado em todas as etapas”.
Entretanto, “não há deliberação sobre a exigência do passaporte de vacinação”. A instituição reforça, porém, que tem atuado no fortalecimento dos protocolos sanitários para garantir segurança à comunidade acadêmica.
Já na Uece, como divulgado segunda-feira (24), o comprovante de vacinação contra a Covid será obrigatório para entrada nos 13 campi, 3 dos quais em Fortaleza. As aulas presenciais retornarão em março, ainda sem data definida, segundo o reitor Hildebrando Soares.
“Todos podem se matricular, mas a imunização é uma condição para adentrar nos campi. Aos alunos com recomendação médica de não se vacinarem comprovada, vamos oferecer o direito ao estudo domiciliar”, explica o gestor.
No Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia do Ceará (IFCE), que tem 33 campi no Estado, algumas atividades acadêmicas presenciais retornaram no final de 2021, segundo Marcel Ribeiro, pró-reitor de gestão de pessoas.
“À medida que os calendários dos campi forem se iniciando, voltam ao presencial. Servidores e estudantes com comorbidades ainda estão em regime remoto. A cobrança do passaporte de vacinação será votada”, destacou Marcel, um dia antes de ser aprovada a decisão pela exigência do documento.
Ainda de acordo com o gestor, cerca de 9 mil máscaras N95 já começaram a ser distribuídas para a comunidade acadêmica, “e mais 45 mil estão sendo adquiridas” para entrega a estudantes e trabalhadores da educação.