Prontuário Afetivo humaniza atendimento por Covid-19 em UPA na Jurema e no Hospital César Cals
Em ambos equipamentos de saúde, a mesma aplicação: um prontuário contendo informações mais intimistas sobre os pacientes, a situação em casa, família, amor, felicidade, saudade, esperança e religião
No intuito de trazer mais humanização aos tratamentos de pacientes com Covid-19, profissionais de saúde da Unidade de Pronto Atendimento (UPA) da Jurema, em Caucaia, Região Metropolitana de Fortaleza (RMF), e do Hospital Geral Dr. César Cals (HGCC), na Capital, implantaram um ‘prontuário afetivo’.
Em ambos equipamentos de saúde, a mesma aplicação: um prontuário contendo informações mais intimistas, sobre a situação em casa, família, amor, felicidade, saudade, esperança e religião.
Na Jurema, o procedimento foi adotado através da coordenação de enfermagem e do serviço social da unidade desde a última sexta-feira (16). Nos pacientes conscientes, após aprovação médica, o depoimento é levado no leito.
"Nós ligamos para a família e, nesse contato, nós trabalhamos a escuta qualificada com os parentes, explicando o projeto. O objetivo é aproximar a equipe do paciente, sabendo um pouco da característica de cada pessoa, a história de vida dela", conta a gestora da unidade e enfermeira, Fernanda Oliveira.
Logo após, o relato é enviado para a assistência social para ser analisado. "Também temos ficado atentos para que os depoimentos dos familiares, que por vezes chegam, não afete muito o emocional daquele paciente. Tudo é filtrado com calma", diz Fernanda.
Veja também
Como resposta da ação, Fernanda conta que os pacientes elogiam muito a atitude da equipe, além de se sentirem mais acolhidos. Já no paciente entubado, não tem como fazer um contato direto. Mas, o recado não deixa de chegar, de alguma maneira, afirma a enfermeira. "A gente tenta interagir na hora do banho, em alguma troca de drogas ou em algum procedimento".
"Aquela pessoa é o amor de alguém"
A assistente social Tayná Araújo, é responsável por organizar prontuários afetivos no HGCC, onde o projeto funciona com o intuito de dar características às pessoas que não podem se comunicar com a equipe médica.
O objetivo é mostrar para os profissionais que aquela pessoa é o amor de alguém, ela é a mãe, o pai, a tia, a prima. Ela tem hobbies, ela tem uma família, ela tem um time que torce, tem uma música preferida. E também levar um pouquinho da família para aquele paciente que está em isolamento”
No local, a iniciativa funciona a partir da equipe multidisciplinar, composta por médicos, assistentes sociais e psicólogos. A família tem o papel de traçar o perfil do paciente para que o prontuário seja construído.
“Ele fica registrado no prontuário do paciente para que toda a equipe tenha acesso e também a gente constrói, que é a parte mais artística, o prontuário físico e coloca na parede ou do lado da cama do paciente que a equipe, quando vai fazer a assistência do paciente, ela consiga visualizar, e até para quando o paciente está consciente”, explica Tayná.
Apoio
A empresária Daniele Da Silva Angelo, de 36 anos, passou pela experiência. Ela chegou à UPA na quinta-feira (15) com sintomas da Covid-19, como dispneia, tosse e febre. No caso dela, consciente, a própria empresária relatou para a profissional da UPA, informações que ela julga de maior relevância em sua vida. Ela fez questão de citar que é evangélica e tia do Nícolas.
Daniele falou ainda da importância do prontuário para ela enquanto evolui para o reestabelecimento da saúde, na unidade. “Traz a lembrança da família, dos amigos. Lembrei de todos e me sinto mais acolhida”, relatou emocionada. A paciente segue internada na unidade, mas já foi observado melhoras no quadro clínico, segundo a enfermeira Fernanda.
Já no HGCC, no último dia 10, a paciente Juliana de Vasconcelos Pereira (36), gestante de 25 semanas, recebeu informações da família com a música de quando conheceu o marido, há 21 anos. No momento, a paciente soube notícias de casa e ganhou seu prontuário afetivo, com informações sobre o esposo, a filha, religião, música preferida. Uma maneira de amenizar e trazer mais esperança durante o tratamento contra a Covid-19.