Bebê cearense se recupera da Covid-19 com uso da ECMO, mesmo tratamento de Paulo Gustavo

Maria Vitória, de 6 meses, teve 95% de comprometimento pulmonar, e sobreviveu com auxílio da oxigenação específica para pacientes gravíssimos

Escrito por Theyse Viana , theyse.viana@svm.com.br
Mãe e filha pós ECMO
Legenda: Rayane e a filha, Maria Vitória, hoje com 6 meses de vida
Foto: Arquivo pessoal

Se para alguns o nome é parte da identidade, para outros parece ser o próprio destino. Tem sido assim para a pequena Maria Vitória, que após 28 dias de internação, 22 deles na UTI, sobreviveu à Covid-19 aos 5 meses de vida com auxílio da ECMO, a Oxigenação por Membrana Extracorpórea.

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Os sintomas começaram como os de uma gripe comum, e, mesmo sendo medicados, evoluíram de forma agressiva. No quinto dia, a tosse seca, de tão forte e insistente, levou embora o ar de Vitória, como relembra a mãe, Rayane da Silva, 24.

“Ela tossiu até ficar roxa. Corri pro hospital pedindo socorro, porque ela já tava desfalecendo nos meus braços. O médico disse ‘mãezinha, se não intubar agora, ela vai parar’. E me desesperei”, narra.

57 bebês
menores de 1 ano foram internados com Covid grave no Ceará, até 10 de abril, segundo a Secretaria da Saúde. Em 2020, foram 158 internações.

Na radiografia, o estado de saúde clínico da bebê se justificou: o comprometimento dos pulmões já estava em 95%, e ela precisou ser transferida a um leito de UTI infantil no Sopai, hospital infantil filantrópico de Fortaleza, onde permaneceu por cinco dias.

Contudo, mesmo com o tratamento intensivo, a gravidade do quadro da pequena permanecia, levando Vitória a ser praticamente desenganada pela equipe médica. 

"O doutor pediu pra eu e o pai entrarmos pra ver ela, como se fosse pra gente se despedir. Disse que tinha tentando de tudo, mas ela não tinha nenhuma melhora. O último recurso era a ECMO, que só tinha no Hospital do Coração", conta Rayane.

Correria pela vida

Rayane descreve que, “depois de muita burocracia”, conseguiram a transferência de Maria Vitória “às pressas” para o Hospital do Coração de Messejana (HM), em Fortaleza, onde ela iniciou a intervenção via ECMO.

A dona de casa rememora que “a máquina é enorme, foi assustador quando vi minha neném tão pequenininha ligada nela”, e que a equipe médica revelou que “a ECMO era a esperança”, já que “o pulmão dela praticamente não tava funcionando”.

O coração e os pulmões de Maria Vitória “descansaram” durante sete dias, tempo em que a bebê foi assistida pela oxigenação artificial e apresentou melhora considerável no quadro.

Depois da retirada do aparelho, ela passou cerca de duas semanas intubada e mais dez dias com suporte de oxigênio, até ter alta da UTI.

Ela em coma, na cama, e eu disse ‘filha, tô do teu lado’. Desceu uma lágrima do olho dela. Ela sabia que eu tava lá. Se não fosse aquele aparelho, minha filha não estaria aqui.

A jornada de luta pela vida em leitos hospitalares, aliás, não foi enfrentada pela primeira vez: ao nascer prematura, em outubro de 2020, Maria Vitória passou o primeiro mês de vida em uma UTI neonatal, para se fortalecer.

Já a internação iniciada em 10 de março de 2021, por efeito da Covid, cessou no dia 6 de abril, quando a criança e a mãe saíram juntas do hospital para casa. No dia 12 deste mês, Vitória completou 6 meses de vida.

“Eu pensei que ia perder minha filha, fiquei muito apavorada. Em certo período, ela não tinha fisionomia de bebê, tava toda inchada. Eu dizia pra Deus que não ia suportar, e Ele ajudou ela. O médico disse que ela tinha muita vontade de viver”, emociona-se Rayane.

A força da filha, aliás, continua em exercício, já que Vitória está bem, mas segue em acompanhamento com pneumologista e otorrinolaringologista, para verificar possíveis sequelas do período de hospitalização.

Como funciona a ECMO

Aparelho para ECMO
Legenda: Aparelho utilizado para ECMO
Foto: Shutterstock

O único hospital público de Fortaleza que possui o equipamento para ECMO, utilizada em casos específicos e gravíssimos de Covid-19, é o Hospital do Coração, da rede estadual.

Em entrevista ao Diário do Nordeste, Daniel Trompieri, cirurgião cardiovascular da equipe de transplante e assistência circulatória cardíaca do HM, explicou como funciona.

"Nessa modalidade, extraímos o sangue antes de chegar no coração, pobre de O2, passa pela bomba ECMO, e devolve o sangue oxigenado na artéria. Essa assistência é não apenas pulmonar, mas circulatória também”, descreve. O recurso já havia sido usado com pacientes com H1N1, “mas nada comparado à Covid”.

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Um infectado por Covid-19 tem cerca de 40% de chance de se recuperar com ajuda da ECMO. Por outras morbidades, como cardíacas ou pulmonares, a porcentagem aumenta, como estima a Sociedade Brasileira de Circulação Extracorpórea (SBCEC).

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