Retorno obrigatório de máscaras? Saiba o que dizem especialistas no Ceará

Cenário atual pode ser de aumento de casos subnotificados e perigo escondido, como apontam infectologistas

Escrito por Lucas Falconery , lucas.falconery@svm.com.br
pessoas usando máscara na rua em fortaleza
Legenda: A desobrigação do uso de máscaras no Ceará começou no dia 15 de abril
Foto: Fabiane de Paula

A segurança de sair de casa sem máscaras acontece com menos casos aparentes de Covid no Ceará, mas uma possível subnotificação da doença pode fazer com que seja preciso permanecer com a proteção. Associada ao crescimento da transmissão do coronavírus no Brasil, especialistas frisam a relevância de manter o rosto coberto.

Cidades de São Paulo, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, por exemplo, estão dando passos para trás nas regras da pandemia com novas recomendações para o uso das máscaras. Isso acontece devido ao aumento de casos da doença nesses locais.

No Ceará, não há definição sobre o uso obrigatório de máscaras em locais fechados, como informou a Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Essa atribuição faz parte do Comitê Estadual de Enfrentamento à Covid-19.

O crescimento de casos da doença acontece de forma sensível no Estado. Para se ter uma noção, em março a proporção de exames positivos era de 4,6%. Em abril, a taxa passou para 5,1%.

Em maio, chegou a 7,7% - o que significa dizer que, a cada 100 pessoas testadas, quase 8 estão com Covid. No entanto, os números baixos podem ser associados à falta de testagem, como analisa o infectologista Michel Abdalla.

“Na verdade, o que a gente tem é uma subnotificação e subdiagnóstico de Covid no atual momento, porque diferente das outras épocas em que na presença de sintomas a grande maioria realizava testes, agora pouco testam”, analisa.

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Por isso, e por fatores como o aumento de casos em outros estados, os especialistas ouvidos pelo Diário do Nordeste são unânimes em aconselhar o uso de máscaras pela população para evitar novos picos e o surgimento de variantes.

“Pelo menos em ambientes fechados, locais de aglomeração, com ar-condicionado, repartição pública, independente de ter um risco maior ou não de agravamento com a doença, é aconselhável que, no atual cenário, todo mundo realmente retorne ao uso de máscara”, frisa.

Esse nem deveria ser um retorno, porque - como analisa Lígia Kerr, médica epidemiologista e professora da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará (UFC) - a obrigatoriedade do uso de máscaras não poderia ter sido retirada. 

máscara
Legenda: As máscaras mais adequadas são do tipo PFF2 e cirúrgicas
Foto: Fabiane de Paula

“É importantíssima a vacinação completa e a volta às máscaras, que não deveriam ter sido retiradas. Imunizados e com uso de máscaras evitamos que a Ômicron se replique e volte com outras mutações”, explica.

Estamos brincando com um vírus que ainda não conhecemos por completo. Devemos ser mais prudentes com uma doença que ainda pode ser letal e ter escape da nossa imunidade e provocar casos mais graves
Lígia Kerr
Médica epidemiologista

Essa prudência citada pela especialista pode, inclusive, diminuir o tempo de restrições. “Já estamos no caminho do crescimento para uma 4ª onda. Até onde ela vai chegar vai depender das nossas atitudes”, ressalta.

Opinião compartilhada pela epidemiologista Caroline Gurgel. “A gente tem que aprender com os outros estados que estão retomando o uso de máscaras, como São Paulo e Minas Gerais, que está com número grande de casos, e nada impede que isso aconteça aqui no Ceará”, alerta.

Permanece obrigatório o uso de máscaras em equipamentos de saúde, como hospitais, clínicas, policlínicas, Unidades de Pronto Atendimento (UPAs), postos de saúde, lugares de assistência à saúde e no transporte público

Qual o melhor tipo de máscara?

E não vale usar a máscara de forma inadequada. As proteções do tipo PFF2 e cirúrgicas, sempre cobrindo boca e nariz, são as mais indicadas.

“A máscara N95 ou PFF2 é um dispositivo filtrante que realmente bloqueia. Se a pessoa com algum vírus respiratório usar essa máscara de boa qualidade não contamina o ambiente e nem infecta outras pessoas”, destaca Caroline Gurgel.

Ainda assim, é preciso priorizar o uso correto da proteção, como destaca Michel Abdalla. “A melhor máscara é aquela que a gente consegue ter maior conforto, porque de nada adianta eu ter uma PFF2 e me sentir sufocado o tempo inteiro e ficar colocando a mão ou retirando dentro de um ambiente contaminado”.

O conforto ganha ainda mais relevância ao se referir às crianças, porque os pequenos podem acabar retirando a máscara ou manipulando o tecido contaminado.

Máscaras para idosos e imunossuprimidos 

Os passeios de idosos e de pacientes com sistema imunológico frágil devem ser feitos com proteção, como alerta Michel. “No caso dos idosos e dos imunossuprimidos por conta de um risco maior de agravamento e não vacinados por um risco maior de contaminação”, acrescenta.

“A gente tem que aprender com os outros estados que estão retomando o uso de máscaras, como São Paulo e Minas Gerais, que está com número grande de casos, e nada impede que isso aconteça aqui no Ceará”

Idosos
Legenda: Idosos devem manter o uso da máscara devido à fragilidade do sistema imunológico
Foto: Fabiane de Paula

Quando vamos deixar de usar máscaras de vez?

São necessários dois elementos para deixar o uso de máscaras por causa da Covid: um alto número de pessoas com a dose de reforço e com a queda da transmissão da doença.

“Quando a gente controlar o surgimento de novas variantes, e isso só vamos conseguir mantendo por mais tempo as medidas de isolamento social e máscara, associado a uma taxa de vacinação alta, porque isso diminui a transmissão do vírus”, completa Michel.

É muito cansativo, já são dois anos e meio nesse cenário, mas se a gente age antes da hora acontece o que estamos vendo agora: o vírus ainda está com uma taxa de circulação alta, surgem novas variantes, aumenta a infectividade. No final das contas, sobrecarrega o sistema de saúde
Michel Abdalla
Médico infectologista

Caroline Gurgel explica que a vacina contra a Covid não impede a infecção, mas sim as internações e óbitos pela doença. Assim, quando várias pessoas adoecem ao mesmo tempo, há chance de sobrecarga do sistema de saúde.

“Algumas pessoas têm certa ojeriza às máscaras, mas são elas que têm conseguido manter os níveis da circulação do vírus mais aceitáveis”, analisa.

Quando você reduz os cuidados com a saúde individual vai ter um reflexo na saúde coletiva, que é o retorno do número crescente de casos que está acontecendo em outros estados. Vamos esperar ficar em situação semelhante para tomar uma atitude?
Caroline Gurgel
Epidemiologista

 

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