Ceará teve 19,5 mil novos casos de doenças diarreicas agudas na primeira semana de março; veja locais

Popularmente chamadas de “virose da mosca”, essas doenças estão relacionadas ao consumo de água e alimentos contaminados e à falta de saneamento básico adequado

Escrito por
Gabriela Custódio gabriela.custodio@svm.com.br
Mulher ajuda criança a lavar as mãos
Legenda: A transmissão das doenças diarreicas agudas, popularmente chamadas de “virose da mosca”, está relacionada a hábitos de higiene, acesso a saneamento básico, armazenamento e higienização dos alimentos e controle de vetores
Foto: José Leomar

Causadas por diferentes microrganismos, as doenças diarreicas agudas (DDA) tiveram aumento de 28,2% no início de março de 2025. Foram 19,5 mil casos registrados na primeira semana do mês, segundo informações da Planilha de Notificação Semanal, mantida pela Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa). Até a última semana de fevereiro, o Estado tinha registrado 69,4 mil casos, passando para mais de 88,9 mil.

Até a semana epidemiológica (SE) 8, que finalizou no dia 22 de fevereiro, o Estado tinha 65.260 casos de DDAs. Na semana epidemiológica seguinte — período de  23 de fevereiro a 1º de março —, foram registrados cerca de 4,1 mil casos, levando ao acumulado de 69,4 mil notificações. Isso representou um aumento de 6,3%.

Popularmente conhecidas como “virose da mosca”, essas infecções gastrointestinais estão relacionadas ao consumo de água e alimentos contaminados e à falta de saneamento básico adequado, explica Álvaro Madeira Neto, médico sanitarista e gestor em saúde.

Elas são caracterizadas pela ocorrência de pelo menos três episódios de diarreia em um período de 24 horas, e os pacientes apresentam diminuição da consistência das fezes, com possível associação a náusea, vômito, febre e dor abdominal.

Considerando as 22 Coordenadorias Regionais de Saúde (Cres) do Ceará, o maior aumento ocorreu na Cres de Sobral, que engloba 24 municípios, como Massapê, Santana do Acaraú, Senador Sá e Pires Ferreira, além de Sobral.

Nessa região, o total de registros era de 12.305 na Semana Epidemiológica (SE) 9 — período de — e passou para 15.041 na SE 10 — intervalo de 2 a 8 de março —, representando a ocorrência de mais de 2,7 mil casos durante a semana. Apenas Sobral teve 986 desses registros, seguido por Reriutaba (225), Hidrolândia (222), Coreaú (183) e Groaíras (141).

Essas são as informações mais recentes disponibilizadas pela Sesa. O menor incremento nesse período, por outro lado, ocorreu na Cres de Tauá, com registro de 41 casos em Aiuaba e de outros 4 em Arneiroz.

Veja os casos de doenças diarreicas agudas nos municípios

A cidade cearense que tem o maior número acumulado de casos de doenças diarreicas agudas em todo o ano de 2025, até o dia 8 de março, foi Sobral, onde já ocorreram 7.562 casos. Em segundo lugar, Fortaleza acumula 4.821 notificações.

Porém, considerando o número de ocorrências apenas na primeira semana de março, a cidade de Russas destacou-se, com 1.092 casos no período, e ultrapassou Sobral (986), que ficou na segunda colocação. São Gonçalo do Amarante (834), Juazeiro do Norte (783) e Fortaleza (621) também estão entre os primeiros lugares desse ranking.

Não houve mudança entre as semanas epidemiológicas 9 e 10 em 33 cidades, como Horizonte, Eusébio, Guaraciaba do Norte, Tauá e Barbalha.

Confira o cenário de cada cidade cearense no mapa abaixo e utilize a lupa para buscar por algum município específico.

Políticas públicas como forma de prevenção

As doenças diarreicas agudas podem ser causadas por vírus, como rotavírus e norovírus; bactérias, como escherichia coli e salmonella; ou por alguns protozoários. A ocorrência de precipitações e a temperatura no Ceará durante a quadra chuvosa podem gerar condições “ideais” para a proliferação desses agentes, explica Álvaro Madeira Neto.

A transmissão dessas doenças está relacionada a hábitos de higiene, acesso a saneamento básico, armazenamento e higienização dos alimentos e controle de vetores. Dessa forma, o médico sanitarista aponta que as medidas de prevenção passam pela criação de políticas públicas de saneamento e educação.

“É muito importante que os gestores de fato tenham em mente que não devemos simplesmente reagir a um momento de crise. A vitória verdadeira contra essas doenças começa antes do primeiro sintoma, com as medidas preventivas adequadas”, defende.

Em geral, as DDAs são doenças autolimitadas, com duração de até 14 dias. Em alguns casos, porém, elas podem evoluir para quadros de desidratação, que podem chegar a ser graves. O tratamento depende da gravidade do caso de cada paciente, voltado para a correção da desidratação. “Em alguns casos, a hidratação só por via oral é suficiente, mas em casos mais graves precisa de internamento com hidratação intravenosa”, explica o médico.

Os mais expostos a riscos, nesse cenário, são os “extremos” populacionais: crianças com menos de 5 anos ou idosos acima dos 65 anos, que são mais vulneráveis aos casos de desidratação. “Temos que olhar para eles com uma atenção maior”, afirma.

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Em entrevista ao Diário do Nordeste, a secretária da Saúde do Estado, Tânia Coelho, afirmou que os casos de doenças diarreicas agudas não tiveram repercussão em termos de internamento de pacientes em condições mais graves.

Segundo a titular da Sesa, é normal que ocorram quadros diarreicos no atual período de chuvas, aumento da circulação de pessoas e de vetores. “Mas ainda não tivemos uma repercussão que nos chamasse a atenção, se está aumentando a complexidade e a gravidade, até o momento”, afirmou.

Ela reforçou o a preocupação com os idosos. “A hidratação é fundamental para que você passe por esse processo bem, mas idoso a gente tem que reforçar, porque idoso tem dificuldade de ingerir água”, disse.

Em nota enviada pela assessoria de imprensa, a Pasta informou que realiza o acompanhamento constante da situação epidemiológica das DDAs em todo o Estado, com atuação conjunta da equipe técnica da Sesa e das secretarias municipais no monitoramento e investigação de casos notificados, “garantindo ações rápidas para evitar surtos e controlar a disseminação”.

“Entre as principais medidas adotadas, estão a realização de capacitações técnicas regulares; ação que implica na intensificação das orientações à população sobre higiene pessoal e de alimentos. A Sesa reforça também a importância da busca imediata por assistência médica diante de sintomas persistentes ou sinais de desidratação, especialmente em pessoas idosas e crianças”, informou.

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Sinais e sintomas

As doenças diarreicas agudas são caracterizadas pela ocorrência de pelo menos três episódios de diarreia aguda ao longo de 24 horas, podendo ser acompanhados de:

  • Cólicas abdominais
  • Dor abdominal
  • Febre
  • Sangue ou muco nas fezes
  • Náusea
  • Vômitos

A principal complicação das DDAs é a desidratação, que, especialmente em crianças e idosos, pode causar complicações mais graves se não for corrigida rápida e adequadamente. O paciente deve estar atento e voltar imediatamente ao serviço de saúde se não melhorar ou se apresentar algum dos seguintes sinais:

  • Piora da diarreia
  • Vômitos repetidos
  • Muita sede
  • Recusa de alimentos
  • Sangue nas fezes
  • Diminuição da urina

Prevenção

Algumas medidas individuais que devem ser adotadas pela população, segundo o Ministério da Saúde, são:

  • Lavar sempre as mãos com sabão e água limpa, principalmente antes de preparar ou ingerir alimentos, após ir ao banheiro, após utilizar transporte público ou tocar superfícies que possam estar sujas, após tocar em animais, sempre que voltar da rua, antes e depois de amamentar e trocar fraldas;
  • Lavar e desinfetar as superfícies, os utensílios e equipamentos usados na preparação de alimentos;
  • Proteger os alimentos e as áreas da cozinha contra insetos, animais de estimação e outros animais, guardando alimentos em recipientes fechados;
  • Tratar a água para consumo (após filtrar, ferver ou colocar duas gotas de solução de hipoclorito de sódio a 2,5% para cada litro de água, aguardar por 30 minutos antes de usar);
  • Guardar a água tratada em vasilhas limpas e com tampa, sendo a “boca” estreita para evitar a recontaminação;
  • Não utilizar água de riachos, rios, cacimbas ou poços sem tratamento para beber. Se estiverem contaminados, não usar nem mesmo para banhar;
  • Evitar o consumo de alimentos crus ou mal cozidos, principalmente carnes e pescados, entre eles os mariscos, e alimentos cujas condições higiênicas de preparo e acondicionamento sejam precárias;
  • Ensacar e manter a tampa do lixo sempre fechada. Quando não houver coleta de lixo, este deve ser enterrado em local apropriado;
  • Usar sempre o vaso sanitário. Se isso não for possível, enterrar as fezes sempre longe dos cursos de água;
  • Evitar o desmame precoce, pois manter o aleitamento materno aumenta a resistência das crianças contra as diarreias.

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