Quase 40% da população do Ceará será de idosos em 2070, projeta IBGE

Especialista defende a necessidade de avanços nas políticas de proteção e de promoção de saúde para esse grupo

Escrito por Gabriela Custódio , gabriela.custodio@svm.com.br
Casal de pessoas mais velhas, de costas, andando no centro de Fortaleza, em meio a outras pessoas que estão fora de foco
Legenda: Conforme projeção do IBGE, as mulheres serão mais da metade da população com mais de 60 anos no Ceará, em 2070
Foto: Thiago Gadelha

Daqui a quase cinco décadas, em 2070, 40% da população do Ceará deve ser composta por pessoas de 60 anos de idade ou mais, chegando a quase 3,4 milhões de cidadãos. Nesse cenário, a cada cinco pessoas, duas serão idosas. Em 2022, quando foi feito o último Censo Demográfico, essa faixa etária representava 14,7% dos residentes do Estado. A projeção, feita pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), foi divulgada na última quinta-feira (22).

O envelhecimento populacional já tinha sido mostrado pelo Instituto em 2023, quando foi apresentada a mudança ao longo dos 12 anos que separaram dos dois últimos censos demográficos, de 2010 e 2022. Naquele momento, o Diário do Nordeste noticiou que a população mais idosa do Estado está concentrada no Centro-Sul, especialmente na região dos Sertões.

Segundo os dados mais recentes do IBGE, no ano 2000, pessoas com 60 anos ou mais no Ceará representavam 9,2% da população. Essa proporção deve dobrar em 2031, quando a projeção aponta 18,5% de idosos entre os residentes no Estado; triplicar em 2047 (27,9%), e quadruplicar em 2063 (37%). Confira, abaixo, um gráfico que ilustra a mudança na proporção de cada faixa etária.

A médica geriatra Manuela Castro Sales, professora da Universidade Federal do Ceará (UFC), aponta que o envelhecimento populacional é um fenômeno que vem ocorrendo no País ao longo dos últimos 50 anos. Como fatores que influenciam nessa mudança, ela indica ganhos na questão hidrosanitária, melhorias no controle de doenças crônicas e aumento da longevidade da população associados à redução da taxa de natalidade.

Esse fenômeno, de acordo com professora, vem ocorrendo, no Brasil, de forma mais acelerada do que nos países de desenvolvimento e o estado ainda não conseguiu se preparar para esse desafio, em nenhum dos níveis de governo. "Nós precisamos com urgência acelerar as políticas públicas de saúde para atender essa população, que é cada vez maior e está crescendo de forma alarmante", defende.

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Para se preparar para cenário projetado pelo IBGE, a docente afirma que o Ceará precisa atuar na proteção da pessoa idosa, na segurança e na saúde. Ela cita, por exemplo, o controle de doenças crônicas e a reabilitação. Além disso, a médica defende a ampliação de instituições de longa permanência, que atendem idosos sem condições de se manterem no próprio domicílio e sem familiares para atuarem como cuidadores.

Nós também precisamos dar condições às famílias para cuidar desses pacientes em casa. Precisa existir políticas para fazer treinamento de cuidadores e dar suporte a esses cuidadores familiares que, às vezes, param de trabalhar, não têm renda própria para se sustentar e precisam cuidar da pessoa idosa da família. [...] Essa função recai, geralmente, sobre mulheres e essa pessoa não tem um suporte do Estado para exercer essa função, porque essa função do cuidador não é reconhecida.
Manuela Castro Sales
Médica geriatra e professora UFC

A geriatra também destaca a necessidade de investir na promoção de saúde dos idosos, por meio de áreas para atividade física com supervisão, locais para socialização — como centros de convivência, além do acesso facilitado a profissionais qualificados. "Precisa ter um treinamento da atenção primária para que esses médicos e outros profissionais de saúde estejam capacitados a atender a pessoa idosa no controle de suas funções de promoção da sua autonomia e no controle das doenças crônicas", afirma.

Apesar de políticas públicas terem avançado — por exemplo, com o Estatuto do Idoso, que completou 20 anos em 2023 —, a professora aponta que ainda não é o suficiente. "[No Ceará], temos algumas políticas em andamento já publicadas, mas pouco foi feito e tirado do papel. Precisamos evoluir muito e evoluir rápido, porque a nossa população está envelhecendo cada vez mais rápido, as famílias estão diminuindo de tamanho e não existem pessoas para cuidar desses idosos", afirma.

Em agosto de 2021, o Governo do Ceará sancionou a Lei Nº 13.243/2022, que instituiu a Política Estadual da Pessoa Idosa. De acordo com o documento, essa política é regida pelos seguintes princípios:

  1. A família, a sociedade e o Estado têm o dever de assegurar ao idoso todos os direitos da cidadania, garantindo sua participação na comunidade e defendendo seu direito à vida, à dignidade e bem-estar;
  2. O idoso não deve sofrer discriminação de qualquer natureza, uma vez que o processo de envelhecimento diz respeito à sociedade em geral;
  3. O idoso deve ser o principal agente e o destinatário das transformações a serem efetivadas através dessa política, observadas as diferenças econômicas, sociais, regionais e  culturais pelos poderes públicos e pela sociedade em geral.

FONTES DOS DADOS

Para calcular as tendências da estrutura demográfica do País, o IBGE utiliza diferentes bases de dados, como os censos demográficos mais recentes (2010, 2010 e 2022), a série histórica das Estatísticas do Registro Civil, o Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM) e o Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC), entre outros.

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Segundo o Instituto, as Projeções da População permitem que o IBGE atualize as amostras de suas pesquisas domiciliares, como a PNAD Contínua, a Pesquisa Nacional de Saúde (PNS) e a Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), além de servirem de parâmetro para políticas públicas nas três esferas de governo.

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