Por que a Igreja Católica proíbe a doação de órgãos dos papas?

Arquidiocese de Fortaleza explica que, dentre as justificativas, está o fato de evitar que partes do corpo do pontífice virem relíquias de forma descontrolada

Escrito por
Lucas Monteiro producaodiario@svm.com.br
Na imagem, o caixão do papa Francisco é levado para interior da Basílica
Legenda: Papa Francisco foi o primeiro papa é mais de um século a ser sepultado fora dos muros do Vaticano
Foto: Stefano Costantino / AFP

Com o sepultamento do papa Francisco no sábado (26), uma questão ainda ficou no ar: os papas podem doar seus órgãos? A resposta é não. Segundo a tradição da Igreja Católica, os corpos dos seus líderes pertencem integralmente à instituição

Conforme vídeo publicado nas redes sociais da Arquidiocese de Fortaleza, quando um papa morre seu corpo é considerado patrimônio da igreja e precisa ser sepultado inteiro, "para preservar a dignidade da missão que ele exerceu", explica a instituição. 

Veja também

Além disso, o intuito é também evitar que partes do corpo do pontífice virem relíquias de forma descontrolada, até porque alguns papas acabam sendo canonizadas, como São João Paulo II, João VXII e João XXIII. "Por isso, o corpo é respeitado em sua totalidade, por fé, por história e por amor à Igreja", complementa a Arquidiocese. 

Entretanto, a instituição lembra que a Igreja Católica incentiva a doação de órgãos, inclusive está citada no parágrafo 2296 do Catecismo como um gesto "nobre e meritório".  

Veja vídeo da Arquidiocese de Fortaleza

Papa Francisco também era defensor da doação de órgãos. Em 2019, durante discurso, ele defendeu o gesto, dizendo que “a doação significa olhar e ir além de si mesmo, além das necessidades individuais e abrir-se com generosidade a um bem mais amplo”.

Para as demais pessoas, a doação de órgãos é permitida quando, ainda em vida, o falecido assim desejar se reconhecer como doador, e se a família do falecido autorizar a doação, mas somente após a confirmação da morte encefálica.

A morte encefálica é declarada em pessoas que sofreram um acidente que provocou traumatismo craniano (acidente com carro, moto, quedas etc.), ou se sofreram acidente vascular cerebral (derrame), evoluindo para morte encefálica. 

Papa Bento XVI tinha carteira de doador de órgãos

Em 2011, se descobriu que o então cardeal Joseph Ratzinger - que virou papa Bento XVI - era doador de órgãos, pois possuía um cartão confirmando sua intenção nesse sentido. Entretanto, quando foi eleito para suceder João Paulo II, sua inscrição na lista alemã de doação foi cancelada.

"É verdade que o papa [Bento XVI] possui um cartão de doador de órgãos, mas é também verdade que com a escolha do cardeal Ratzinger como chefe da Igreja Católica, ipso facto esse cartão ficou obsoleto", disse seu então secretário pessoal Georg Gaenswein, naquele ano.

Foi nessa ocasião que o Vaticano pôde se posicionar sobre o tema e explicar as razões por trás disso. Após a morte de um papa, seu corpo pertence totalmente à Igreja, e que pela tradição precisa ser sepultado intacto. 

>> Acesse nosso canal no Whatsapp e fique por dentro das principais notícias.

Newsletter

Escolha suas newsletters favoritas e mantenha-se informado
Assuntos Relacionados