Jornalista Ilzi Scamparini relembra pergunta polêmica que fez a Papa Francisco
A repórter brasileira disse que até hoje sente o impacto da entrevista

Em meio à cobertura do funeral do Papa Francisco na TV Globo, a jornalista da emissora, Ilze Scamparini, de 66 anos, relembrou o momento em que perguntou ao pontífice a opinião da igreja católica sobre homossexuais.
Segunda ela, a indagação deixou Bergoglio "nervoso" e iniciou um debate católico que ainda não terminou. Conforme a jornalista, a fala naquele domingo em um avião foi uma intuição, e dividiu progressistas e ultraconservadores.
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"Doze anos se passaram. Quando me transporto para aquela cena no avião, ainda sinto um impacto no meu sistema nervoso daquela fala do Papa: 'Quem sou eu para julgar?', referindo-se aos homossexuais", disse a jornalista na TV.
A correspondente da Globo afirmou ainda que se colocou numa espécie de fila para fazer a pergunta, levantando minha mão. "Dois jornalistas brasileiros cederam os lugares deles para mim. Fiquei bastante tempo com o braço levantado. Alguns jornalistas fizeram perguntas, até que o porta-voz do Vaticano encerrou a entrevista, deixando meu braço levantado sem resposta", disse a correspondente.
Notada pelo Papa
Ilze então foi notada pelo pontífice: "Mas o Papa não me ignorou, olhou para mim e pediu ao porta-voz para deixar que eu falasse. Num gesto, me chamou. Eu fui lá na frente, onde ele estava, e peguei o microfone. Antes de perguntar, pedi licença ao Papa para tocar num assunto delicado. Ele consentiu com a cabeça, bem sério. Na hora, Francisco ficou bastante embaraçado, um pouco nervoso. Essa foi a minha impressão. Era a primeira vez que alguém perguntava a um Papa sobre gays".
"Depois, ele foi fazendo sua reflexão, e então veio a frase, criando um antes e depois, 'Quem sou eu para julgar?'. Isso dito por uma igreja que sempre julgou de uma maneira impiedosa", comentou Ilzi.
Scamparini falou ainda da reação do Papa após a declaração. "Ele me agradeceu, falou 'obrigado por ter feito essa pergunta', mas eu já não sorria. Saí dali sentindo uma emoção muito forte, contrastante. Sentei-me na cadeira do avião, fechei os olhos, e por um instante senti alguém apertando meu braço. Era o padre Lombardi, o porta-voz, que me disse algo como '[fica] tranquila que o Papa gostou da pergunta'", relembrou ela.
O Papa Francisco passou os anos seguintes tentando abrir a Igreja a temas progressistas, mas somente perto do fim de seu pontificado conseguiu autorizar oficialmente bênçãos a casais homoafetivos.